sexta-feira, 31 de agosto de 2007

CPI dos Jogos Pan-americanos

Lembram do Pan? Lembram do superfaturamento do Pan? Penso que não. Aliás, se vacilar, não lembramos nem do quadro de medalhas e nem tampouco, da quantidade de medalhas que os nossos brasileiros ganharam. Coisas sem importância mas que acabam fazendo parte do nosso cotidiano graças a grande mídia.

Pois é, mas estamos aqui justamente para, dentre outras coisas, socializarmos informações sobre a qual esta mesma grande mídia silencia.

Segue, então, uma informação importante, principalmente se pensarmos que estamos às voltas com o tema relativo à Copa do Mundo de 2014.

Leiam e divulguem!!!

CPI DO PAN

Denúncias de irregularidades no mais caro Pan da históriaInvestigações podem ser abertas na Câmara Municipal, na Polícia Federal e no TCU. Jogos, segundo vereadores, podem ter custado aos cofres municipais até R$ 4 bilhões. Cinco últimas edições do Pan, somadas, custaram R$ 2,1 bilhões. Prefeito César Maia (DEM) tenta barrar CPI.Maurício Thuswohl - Carta MaiorData: 21/08/2007

RIO DE JANEIRO – O Pan-Americano do Rio de Janeiro ainda não terminou para César Maia (DEM). Alvo de inúmeras denúncias de má-gestão financeira dos Jogos, o prefeito trava encarniçada disputa política contra seus opositores na Câmara Municipal para impedir a instalação de uma CPI destinada a investigar as eventuais irregularidades cometidas. O pódio dessa disputa ainda sem vencedor só será montado no ano que vem, e sua cobiçada medalha de ouro é a sucessão na Prefeitura do Rio em 2008.Se quiser alimentar alguma chance de subir ao degrau mais alto e fazer seu sucessor em outubro do ano que vem, César Maia terá que conter uma ofensiva na qual os adversários políticos prometem jogar peso nos próximos meses. Vereadores de partidos como PSOL, PT e PCdoB, e até mesmo dos outrora aliados PSDB e PV, denunciam que o Pan do Rio foi o mais caro de todos os tempos, com obras que acabaram custando até dez vezes mais do que o valor inicialmente estipulado, além de diversas outras irregularidades.

A Prefeitura publicou no Diário Oficial que o gasto público total do Município com os Jogos Pan-Americanos ficou em cerca de R$ 1,2 bilhão, mas a oposição garante que foi muito mais: “O custo inicialmente estipulado para o Pan, de R$ 400 milhões, pode ter saído até dez vezes maior, o que é um absurdo”, afirma a vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB).

Proponente e presidente da CPI do Pan, Eliomar Coelho (PSOL) também afirma acreditar que o gasto público foi maior que o anunciado pela Prefeitura. O vereador faz uma interessante ressalva: “Mesmo que o gasto tivesse sido esse de R$ 1,2 bilhão, já seria motivo para investigação. Os últimos cinco Jogos Pan-Americanos antes do nosso, somados, custaram cerca de R$ 2 bilhões”, afirma.

Eliomar continua seu raciocínio: “Quando o prefeito entregou à Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana) o caderno de encargos financeiros com os custos inicialmente estipulados, a organização o aceitou porque sabia tratar-se de um montante razoável. Se fosse muito abaixo da realidade, como o prefeito alega agora, a Odepa teria percebido isso”.

PF também investiga

Em sua luta para fazer funcionar a CPI do Pan, os vereadores da oposição contam com o reforço da Delegacia de Crimes Financeiros da Polícia Federal, que abrirá inquérito para apurar denúncias de irregularidades cometidas pelo Comitê Gestor dos Jogos Pan-Americanos (CO-Rio). O delegado Joe Montenegro informou que vai procurar esta semana representantes do Ministério Público para discutir a possibilidade de abertura de uma ação conjunta.

Em outra frente, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a suspensão de todos os pagamentos relativos aos convênios e contratos firmados para o Pan do Rio entre o Ministério dos Esportes, os governos estadual e municipal e a empresa Fast Engenharia e Montagens. Segundo o relatório do TCU, houve diferença de qualidade entre o material que foi comprado e o que foi efetivamente entregue ou instalado. Isso aconteceu com material de construção, tendas, cercas, cadeiras, mesas e aparelhos de ar-condicionado, entre outros.

Um exemplo do que diz o TCU pode ser o estádio João Havelange, mais conhecido como Engenhão. Construído especialmente para os Jogos, o estádio teve seu custo inicial de R$ 170 milhões elevado para quase R$ 400 milhões, valor equivalente ao estipulado inicialmente para todas as obras do Pan. Isso não impediu, no entanto, que dois muros do estádio desabassem em recentes ventanias. No incidente mais recente, um muro de 15 metros, situado ao lado de uma das rampas de acesso às arquibancadas, desabou. Técnicos da Prefeitura enviados ao Engenhão admitiram que os tijolos utilizados no muro eram mais finos que o inicialmente tratado no projeto.

Outro alvo da CPI do Pan serão as irregularidades cometidas na venda de ingressos. As denúncias neste item formam um vasto leque, que vai de ingressos vendidos em duplicidade a ingressos vendidos a “torcedores-fantasmas”, passando por falsificação de ingressos e falhas na entrega dos ingressos comprados pela internet. Em alguns casos, como nas semifinais e finais do vôlei e do basquete, os ginásios tiveram lotação muito menor do que sugeria o número de ingressos anunciados como vendidos.

Cesar adia CPI mais uma vez

Apesar das evidências, a oposição não vem conseguindo reunir força política para fazer a CPI do Pan virar realidade. Adiada pela primeira vez em junho, sob o argumento de que “mancharia a imagem do Pan e da cidade antes da realização dos Jogos”, ela foi mais uma vez rebatida na semana passada pelo eficiente bloqueio do time comandado por Cesar na Câmara Municipal.

Por três votos a dois, os vereadores da CPI resolveram adiar sua instalação até que fique pronto um relatório produzido pelo grupo de trabalho parlamentar criado para acompanhar o Pan. Este grupo, constituído a pedido de Cesar e composto majoritariamente por vereadores da base governista, tem prazo até novembro para apresentar seu relatório. Com isso, a CPI só seria instalada às vésperas do Natal, o que, na prática, jogaria essa discussão para o ano que vem e pouparia ao prefeito alguns meses de exposição pública negativa.

Votaram pelo adiamento da CPI os vereadores Carlo Caiado e Nadinho de Rio das Pedras, ambos do DEM, além de Luiz Guaraná, do PSDB. A manobra revoltou a oposição: “É uma ação organizada pelo prefeito para travar as investigações. Este grupo de acompanhamento, por melhor que seja, não tem a força de uma CPI no sentido de exigir o acesso a documentos, contratos e convênios”, afirma Eliomar Coelho que, ao lado da vereadora e ex-atleta pan-americana Patrícia Amorim (PSDB), votou pela instalação imediata da CPI.

Se depender da oposição, a disputa pela CPI do Pan pode ganhar as ruas. Os vereadores derrotados prometem mobilizar seus gabinetes para colher milhares de assinaturas da população e exigir a abertura das investigações. O PSOL, adianta Eliomar, estuda a possibilidade de realizar em breve uma manifestação: “É grande a indignação nas ruas do Rio com os custos elevados do Pan. O que vemos é muita reclamação vinda de pessoas que não aceitam um gasto desse enquanto setores como saúde, educação e transportes, entre outros, carecem de recursos há anos”.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Copa 2014

Estava pensando, mesmo na ausência de botões na minha camisa, como inauguraria o meu "movimento do real". De repente, lembrei do projeto que tramita na Secretaria de Esportes da Bahia relativo a construção de um novo estádio de futebol aqui em Salvador, tendo em vista a possibilidade do Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014. O valor do projeto estar em torno de R$ 300.000.000 (trezentos milhões de reais).

Decidir que este seria um bom tema de inauguração, pois além de citar uma questão atualíssima, coloca uma problemática sobre as reais necessidades do Estado desenvolver este projeto. Será que não temos outras prioridades?

Voltaremos a este assunto em breve. Por enquanto, aproveito a deixa para socializar um texto meu que saiu no Observatório da Imprensa em junho de 2006. Não por acaso, ano de Copa do Mundo. Espero que gostem.

Dito isto, dou por inaugurado o "Movimento do Real", que será atualizado sempre que a realidade deste que "fala" permitir.

Abraços fraternos.
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JORNAL DA COPA

Esporte, mero detalhe do business
Por Welington Araújo Silva em 27/6/2006

Um olhar sociológico mais aguçado nos permite localizar a gênese do esporte moderno como um elemento característico do século 18, impulsionado pelo processo de industrialização e urbanização de uma sociedade que dava os seus primeiros passos rumo ao desenvolvimento do capitalismo. Trabalhadores, camponeses e operários de diferentes localidades, chegavam às cidades em busca de novas oportunidades de emprego, fixando-se nas periferias. Além da esperança por dias melhores, traziam todo um repertório de tradições de sua comunidade de origem. Entre essas tradições figuravam diferentes tipos de jogos, que eram vivenciados para celebrar diferentes ocasiões e "matar" o tempo de ócio que, embora pouco, existia, ao menos para repor as energias gastas nos trabalhos estafantes das indústrias emergentes.

Essa cultura corporal, lúdica na sua essência e voltada para aspectos da tradição das diferentes comunidades que compunham as cidades, foi, aos poucos, devido a diferentes fatores, transformando-se e cedendo espaço a uma cultura que tinha uma relação mais próxima com os elementos característicos da sociedade capitalista, mais precisamente com o que se andava fazendo nas fábricas. Nesses termos, surge o esporte, trazendo três elementos que reinavam absolutos nas indústrias: os processos de eficiência, eficácia e, principalmente, de rendimento. Foi justamente esse último elemento, que no seu início se tratava de um simples rendimento físico, que se transmutou e, acompanhando a lógica do capital, tornou-se sinônimo de rendimento financeiro.

Essa lógica financeira, então, passou a compor o caldo esportivo e todo o mundo do negócio começou a enxergar no esporte um elemento muito forte de marketing, de publicidade e de propaganda de produtos os mais diversos, inclusive os que, em tese, nada têm a ver com o esporte, como as bebidas alcoólicas. Não por acaso, nesta Copa, pela primeira vez, os investimentos em mídia ultrapassam a incrível cifra de um bilhão de dólares! Das modalidades esportivas, é o futebol a que vem se tornando a mais rentável.

Em nome do e$porte

Jogadores de futebol, como Ronaldinho, por exemplo, tornam-se garotos-propaganda de vários produtos. Se na Copa do Mundo de 82 o merchandising dos jogadores se restringia às chuteiras, hoje vários são os produtos oferecidos através da imagem dos atletas, de picolé a agência bancária, passando por cerveja, guaraná, desodorante, entre outros.

Mas não são os jogadores as únicas estrelas desse espetáculo. No mundo do futebol, a estrela de quinta grandeza são os patrocinadores. Basta ficarmos uns poucos minutos diante da TV para constatarmos isso. Aliás, sozinhos, terão direito a 16% do total de ingressos dos jogos da Copa, o equivalente a 25 mil entradas. Enquanto isso, os pobres torcedores ficam de fora, já que para assistir a um simples jogo devem desembolsar, em alguns casos, cinco mil reais. Por essas e outras a Copa da Alemanha tem sido considerada a mais elitizada de todas.

Pela aceleração dos fatos, com os patrocinadores começando a tomar conta do espetáculo, não nos surpreendamos se na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, tivermos times compostos pelos brinquedos Estrela, chicletes Bubbaloo, picolé Kibon, desodorante Rexona, banco Santander, chuteira Adidas, isotônico Gatorade, guaraná Antarctica. Tudo em nome do e$porte.

Publicado originalmente no link abaixo.
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=387JDB009