quarta-feira, 19 de março de 2008

Candidatura a 2016 pode mudar até educação física

Com um olho na candidatura olímpica a 2016 e outro no alto rendimento, as escolas formam um dos alicerces do plano nacional esportivo formulado pelo Ministério do Esporte.
A pasta já discute com o Ministério da Educação alterações no currículo da educação física escolar para promover a massificação do esporte e, assim, aumentar a base de onde saem os atletas de ponta. Cerca de R$ 30 milhões do orçamento do Esporte neste ano serão destinados a ações nesse sentido.
""Para Londres ganhar o direito de organizar os Jogos de 2012, foi muito importante o trabalho que fez nas escolas. Esse foi um dos pilares da candidatura", declara o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr.
Foi a Youth Sports Trust, instituição sem fins lucrativos formada em 1984 pela união de governo britânico, empresas privadas e setor educativo, a grande responsável pelo processo de massificação e diversificação da prática esportiva nas escolas do Reino Unido.
Segundo levantamento da entidade, há sete anos 25% das escolas proporcionavam uma hora semanal de educação física. Hoje, 86% delas proporcionam ao menos duas horas semanais da disciplina, com várias modalidades esportivas.
""O Brasil pode aprender com Londres. Não existe alternativa para massificar a prática de esporte a não ser associá-lo à educação", reconhece Silva Jr.
O documento, produzido em conjunto por Esporte e Educação, tentará quantificar a infra-estrutura presente nas escolas.
""Detectamos que metade das escolas não tem [equipamentos]. Agora queremos garantir que as escolas não sejam construídas sem eles", explica.
""Até 2016 terão se passado oito anos. O trabalho que começar agora pode ter efeito."
Outra iniciativa do ministério é a adaptação do programa social Segunda Tempo às escolas. ""O Segundo Tempo jamais será um programa que universaliza o esporte no país se não adentrar a escola. Temos de ter uma visão mais ampla", argumenta Júlio Filgueira, secretário nacional de Esporte Educacional da pasta do Esporte.
No caso das escolas que não têm quadras, a idéia é associá-las a áreas esportivas das comunidades ou até a clubes locais.
""Vamos cruzar esporte estudantil com detecção de talentos para direcionar talentos ao alto rendimento. Já capacitamos 3.000 profissionais para essa função e começamos de municípios de menor Ideb [índice criado pelo MEC a partir das taxas de repetência e notas dos alunos para estabelecer metas de melhoria até 2022]."0 (EO)

Fonte: Folha de São Paulo ESPORTE 18 de março de 2008

domingo, 9 de março de 2008

Corpos de consumo

ROSE MARIE MURARO E MARIA TEREZA MALDONADO

O modelo ideal de homem e mulher, em vez de elevar a auto-estima, só faz com que esta diminua e seja substituída por mal-estar

DESDE QUE começamos a trabalhar com mulheres, a pergunta básica que nunca deixou de ser a mesma é sobre o tratamento da mídia a respeito do corpo feminino. Agora, contudo, devido ao avanço da tecnologia, a coisa está se tornando mais grave. O consumo não é mais sobre a forma física da mulher, que é sempre jovem, magra e bela, mas sobre seus laços mais profundos.

Sites americanos e brasileiros apresentam o "pacote de cirurgia pós-parto": lipoaspiração para retirada das gordurinhas extras, correção da vulva e dos seios, tudo para consertar o "estrago" que a gravidez faz no corpo da mulher. Médicos mais sensatos recomendam alguns meses de espera para que a própria fisiologia se encarregue de fazer boa parte do trabalho, mas outros vendem a idéia de "aproveitar a oportunidade do parto" e cuidar de recuperar rapidamente a auto-estima supostamente perdida com a "deformação" provocada pelo feto.

O vínculo amoroso imprescindível com o bebê, a intimidade da amamentação, a importância dos primeiros dias e semanas após o parto para incluir o bebê na família deixaram de ser a prioridade?

Sim. Para a sociedade de consumo, nem o corpo da mulher nem o da criança nem o do homem são prioridades. A prioridade única e exclusiva é o lucro. O lucro vale mais do que a vida humana.

No depoimento de algumas mulheres motivadas a comprar o "pacote", os argumentos giravam em torno de garantir a permanência do desejo do marido, preservar a boa imagem no ambiente de trabalho, destacar a importância do corpo perfeito. E agora perguntamos: vale a pena ficar com um companheiro que só nos quer se estivermos "com tudo em cima"? O consumo também engole os valores mais profundos do amor.

Em conversa com uma moça na faixa dos 20 anos, vimos a insegurança de ir para a cama com o namorado sem estar perfeitamente depilada. Este, por sua vez, também depila os pêlos do peito: não é à toa que cresce o nicho das clínicas de depilação. Será que o desejo ficou tão vulnerável à estética, tão volátil, que desaparece sem os devidos cremes, as horas nas academias e os tratamentos de beleza para corrigir as imperfeições?

É isso que se faz com a juventude.

Ao invés de aumentar a auto-estima, o "modelo perfeito" de homens e mulheres só faz com que esta diminua e seja substituída por um mal-estar subjacente que, desde a adolescência, persegue homens e mulheres a respeito de sua imagem até o fim da vida. Porque é impossível para o ser humano médio competir com os padrões de beleza que vê nas revistas, nos filmes e nas novelas de televisão. O fato se agrava cada vez mais à medida que a mulher vai amadurecendo.

Na maioria dos países desenvolvidos, os anos de vida útil aumentam cada vez mais, e cada vez mais se faz uma publicidade para a beleza amadurecida. No Brasil, as companhias de cosméticos não conseguem furar a barreira do preconceito da eterna juventude, a fim de criar uma "juventude" interna que não se desgasta com o correr dos anos.

Em meio a intensas dores e desconforto de uma plástica de abdome para tirar a barriguinha que ficou mal na foto, uma mulher de meia-idade pensa na calça jeans e nos vestidos de malha que conseguirá usar depois de atravessar a via-crúcis do pós-cirúrgico e das várias limitações à sua mobilidade nas primeiras semanas.
Qual o verdadeiro sentido desse sofrimento auto-imposto?

O amor, o desejo, a ternura e a cumplicidade podem existir entre pessoas com corpos imperfeitos. Ao contrário do que a mídia apregoa, quanto mais maduros homens e mulheres, mais profundas se tornam suas relações, mais independentes de estereótipos e mais prazerosas, de um prazer inabalável, se não fosse o bombardeio midiático de que a velhice é uma doença, e não uma plenitude.

Para onde nos leva o capital/dinheiro? São inaceitáveis as marcas (e os marcos) do tempo no corpo? É imoral envelhecer? O pior é que não é só o corpo que o capital/dinheiro destrói. Ele destrói também a capacidade de homens e mulheres de aprofundarem a sua relação com a realidade. Destruir o corpo real e substituí-lo por um corpo de consumo é também substituir a "realidade real" por uma "realidade de consumo", que tende a destruir a própria espécie humana (a partir do desequilíbrio climático pelo excesso de consumo).
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ROSE MARIE MURARO, 75, escritora e editora, é patrona do feminismo brasileiro (Lei 11.261/2005).
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MARIA TEREZA MALDONADO, 59, psicóloga, é integrante da American Family Therapy Academy, com mais de 20 livros publicados.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0703200808.htm

sábado, 8 de março de 2008

Dia Internacional da Mulher

No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.

A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.

Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o “Dia Internacional da Mulher”, em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, essa data passou a ser legalmente aceita.

Enquanto isso, ouvimos nas rádios e canais de tv. "08 de março, dia da mulher, presentei a quem você ama". Virou negócio!!!

terça-feira, 4 de março de 2008

A imprensa nua e crua



Na semana que passou, tivemos uma rara demonstração de possibilidades interpretativas sobre um mesmo fenômeno social por parte de duas grandes revistas semanais, a Veja e a Carta Capital.
Na minha modesta opinião, a revista Carta Capital deu um show de jornalismo, buscando a qualidade da informação e trazendo, para todos nós leitores, pontos de vistas de renomados intelectuais do Brasil e do exterior. Ao final da leitura, me sentir informado sobre os fatos e feliz por poder encontrar em uma revista semanal, uma opção de leitura esclarecedora e que não menospreza a inteligência dos seus leitores.
Já a revista Veja, praticou um jornalismo narrativo ou a "narrativização" da informação. Foram tão parciais, quanto raivosos. Aliás, o próprio enunciado nas páginas já dá o tom diferenciador das abordagens jornalísticas. Enquanto a Carta Capital opta por um simples "Cuba sem Fidel", a revista Veja ataca com um preconceituoso "Já vai tarde".
Talvez por essas e outras, é que a revista Veja tenha perdido, só em 2007, 9% do seu faturamento em banca. Já a Carta Capital, cresceu 15%.
Por fim, um rico material para análise dos estudiosos da mídia e uma expressão concreta da notícia como falsificação da realidade e interesses contraditórios de classes.