quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Midia - Os milionários da milionária revista

Por Leandro Uchoas

Em incansável esforço semanal por reinventar a maneira de se fazer jornalismo, arquitetando de forma criativa e inovadora formas novas de escamotear em texto seu compromisso com as empresas que a financiam e com os políticos que a protegem, a revista Veja do dia 23 de janeiro criou mais um capítulo ímpar.

A reportagem “os heróis do capitalismo” exalta os incríveis 190 mil brasileiros que agora pertencem ao seleto grupo de milionários brasileiros, a inenarrável parcela de 0,1% da população brasileira. “100 em cada 100 mil brasileiros já são milionários”, diz a revista, como quem cita uma quantidade bacana. Os 99.900 que não são parecem não interessar muito.

Para exaltar os valores, colhidos pela empresa de consultoria (mais um indício de que a pesquisa foi encomendada pela revista) Boston Consulting Group, Veja ainda faz uma inexplicável comparação. “A probabilidade de se tornar milionário no Brasil é 22% maior do que a de ser assassinado, e 50% maior do que a de morrer de acidente.” Não dá pra deixar de se encantar com o ineditismo das analogias da revista.

O primeiro exemplo de brasileiro milionário é um vietnamita. Thai Quang Nghia, um imigrante “fugitivo do comunismo”, teria ficado rico fabricando bolsas e mochilas. Em seguida, Veja exalta Heloisa Assis, uma ex-babá que teria ficado rica (aparentemente ainda não faz parte do grupo de milionários) ao descobrir uma fórmula inovadora de produtos de beleza. Ao ressaltar o sucesso de grupos que geralmente ataca (imigrantes, negros, etc), Veja dá um recado conveniente, como quem afirma que no capitalismo brasileiro os negros também podem ascender à burguesia.

Thai e Heloisa são exemplos de “empreendedores” que a Endeavor, empresa pra quem a revista dedica seu maior box, financiou. A reportagem tem muitos indícios de que teria sido encomendada por essa empresa, que ganha grande destaque no texto. O jornalismo de Veja, portanto, parece guardar alguma conexão com os mecanismos de publicidade mais vis.

A professora de pós-graduação em História da UFF Virginia Fontes explica que esse tipo de empresa como a Endeavor está interessada em “formar o que Marx chama de capitalista funcionante. Aquela pessoa capaz de descobrir um nicho de exploração de força de trabalho capaz de remunerar o capital rapidamente, e de extrair intensamente mais-valia. E é em nichos até então não aproveitados pelo mercado.” O capital financeiro, segundo ela, monta empresas como a Endeavor para forjar “empreendedores”, selecionando pessoas que conhecem o espaço onde atuam.

Veja não se esquece de ridicularizar a esquerda. Para a revista, ninguém questionaria seus argumentos, exceto “os prisioneiros de uma certa mentalidade jeca-tatu, segundo a qual a criação de milionários só pode se dar pela concentração da riqueza nas mãos de poucos privilegiados. Esses observadores são vitimas de uma das falácias mais toscas que turvam a visão da economia, a do ‘jogo de soma zero’. Ou seja, o meu ganho significa a sua perda.”

Basicamente, o que Veja diz é que independente da desigualdade social, novos milionários em novos nichos de mercado significariam mais emprego. “O que Veja se esquece de dizer é que quem cria a riqueza que gera o lucro é o trabalho. Não é o capital que dá emprego, é o trabalho que gera riqueza para o capital. Isso é um pequeno detalhe. Esquecer isso é muito conveniente. Portanto não é de fato um jogo de soma zero. É um jogo no qual se extrai de alguns para crescer pra outros”, esclarece Virginia Fontes.

Pra completar, a revista enaltece a “incrível vocação do brasileiro de aventurar-se no mundo como empresário”, sem explicar porque, no capitalismo que pratica, essa incrível vocação não tira da miséria milhões de brasileiros. E dá dez receitas para o que chama de “vencedores” (deixando subentendido que os 99,9% de brasileiros que ainda não são milionários são perdedores. É o darwinismo social enfeitado com belas palavras). As dez sugestões parecem saídas de livros de auto-ajuda.

A revista termina com um texto de Armínio Fraga intitulado: “o Brasil descobriu o capitalismo”. Infelizmente, não há como discordar dele. Faltou apenas completar: “e o capitalismo descobriu sua porta-voz semanal”.

FONTE: http://www.piratininga.org.br/

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A ditadura da “boa forma”

O capitalismo avançado transformou a saúde individual em um capital. Somos intimados a gerir esse patrimônio, a buscar sua ininterrupta otimização. Economistas, diretores de recursos humanos, terapeutas de programas de televisão, todos nos ensinam como cuidar de um corpo que já não nos pertence

François Cusset

“Pare de fumar, proteja seu capital saúde!”: a mensagem cobriu os muros das cidades francesas e ocupou as primeiras páginas dos jornais [1]. Como se houvéssemos esquecido que a saúde é uma construção cultural pessoal para fazermos dela um trunfo, um bem, um capital – cujo rendimento depende das escolhas estratégicas e da responsabilização de cada indivíduo. Já em 1975, Michel Foucault analisava o “olhar médico” como um dos componentes de nossas “sociedades de controle” modernas [2]. Trinta anos depois, são bem tímidas as análises críticas que poderiam esclarecer o lugar do novo discurso sobre a saúde no coração da economia de mercado. Afinal, quem ousaria criticar a norma dominante de otimização dos corpos e dos órgãos, de prevenção dos riscos e de plenitude? Ela é apresentada agora à maneira de um processo natural: um bom instinto que os novos especialistas da saúde saberiam despertar em nós.

Pois o capitalismo avançado, com seu ímpeto vitalista, seu imperativo de mobilização dos corpos, tornou inaudível toda opinião discordante. A hora é de chantagem unânime pela gestão individual da saúde. Contra o tabaco, o álcool, a poluição, os raios solares. “Dois em cada três franceses correm risco”, constatava no fim de 2007 uma pesquisa encomenda pelas marcas Kiria e Philips: “Um desapego que às vezes beira a desfaçatez”, comentam os especialistas em tom paternalista, enquanto os psicólogos sofrem para explicar por que os seres humanos são tão negligentes com seu bem mais precioso – em particular os adolescentes, que formam “a população que mais põe em risco a saúde”. Felizmente, a mania dos “sociotipos”, que esconde há trinta anos os conflitos de classe por trás da cortina de fumaça dos “estilos de vida”, vem ajudar os tomadores de decisão a achar um paliativo para essa inconseqüência criminosa, ao lhes propor dividir os franceses em quatro “famílias” quanto à questão da saúde: os “despreocupados” (27%), os “clássicos” (25%), os “preventivos” (24%) e os “fatalistas (24%) – estes últimos freqüentemente pobres e/ou jovens.

Ao redefinir a saúde como uma obrigação pessoal de prevenção, segundo a lógica hoje dominante do “risco” e de sua imputação individual, as seguradoras, os empresários do setor e a mídia especializada deram credibilidade à idéia-chave de um “dever de saúde” ao qual ousariam desobedecer, às próprias custas, e às custas da coletividade, os fumantes, os bebedores, os que se alimentam mal, os não-esportivos e outros depressivos crônicos “que recusam se tratar”. É a eles, e somente a eles, que devem ser imputadas as debilidades de suas funções vitais – mas também, de quebra, as debilidades da economia nacional, “redistributiva” durante tempo demais, segundo os novos economistas da saúde. É o caso do acadêmico Claude Le Pen (deplorando o “fenômeno de dicotomia clássica” de pacientes inquietos que no entanto não fazem “o que é preciso fazer”) ou do deputado socialista Jean-Marie Le Guen (que lamenta não haver na França a “cultura da saúde pública” nem atitudes individualmente responsáveis diante do “rombo da previdência”).

Teorizada alguns anos atrás por um filósofo egresso do maoísmo, François Ewald, e pelo co-presidente do Medef (Movimento das Empresas da França), Denis Kessler [3], com os nomes retumbantes de “riscologia” (a teoria do risco como “último elo social”) e de “princípio de precaução”, a detecção sistemática de todas as condutas de risco e a abordagem subjacente a ela em termos de maximização e de amortização individual invadiram pouco a pouco todas as regiões da existência que tinham permanecido intocadas por elas. Pois agora é preciso prevenir a pane sexual do casal com filho(s); organizar as férias como um reabastecimento otimizado; aderir a uma dieta da vida saudável ou a uma nova biopolítica da magreza; dedicar-se ao esporte para viver mais tempo ou para garantir desde já um “corpo para fora” (“corps du dehors”, segundo a expressão de Georges Vigarello para designar a motivação estético-narcisista, agora decisiva, de toda prática esportiva); e, por que não, experimentar a aventura extrema por meio de “injeções de adrenalina”. Em suma, é mesmo culpa de cada um se infortúnios tão anacrônicos quanto as enfermidades ou a decadência do corpo ainda se abatem sobre nós neste fim de 2007.

Na maioria desses casos, passou-se da saúde enquanto estado de resistência à doença à saúde como prevenção de todo risco físico ou existencial e, logo, à saúde como vetor de otimização do indivíduo, isto é, antes de mais nada, de sua força de trabalho. Ela não é mais apenas um estado de equilíbrio, mas um ideal de florescimento pessoal e profissional, sintetizado na rubrica ampla e vaga da “boa forma”, em voga na França desde o início dos anos 1980. O mensário Vital (criado em 1980), aliás, tinha como slogan uma fórmula um pouco ultrapassada, que enuncia este vínculo entre saúde, mobilização de si e apelo a se realizar plenamente: “Será que não vale a pena olhar o próprio umbigo mais de perto?”.

E isso também porque, como resume Les Echos, “as empresas querem funcionários em forma”. Assim, temos novos programas de saúde incitativos (na PepsiCo ou na Unilever), sensibilização para a alimentação saudável (no Crédit Agricole), objetivo personalizado de melhoria do balanço de saúde (na Kraft Food), competição para recompensa dos empregados mais zelosos com a saúde (com o grande prêmio AXA-Santé) ou mesmo, nos Estados Unidos (que aqui, mais uma vez, levam uma ampla dianteira), multas aos funcionários recalcitrantes “em caso de objetivo ponderal não atingido” (no Clarian Health Partner) [4].

Desse modo, as empresas mais inovadoras se tornam o elo de transmissão eficaz das novas biopolíticas de Estado, ou dessa função de tomar conta dos corpos e das vidas por parte da administração pública, outrora apontada por Foucault (que a viu emergir entre a Revolução Francesa e meados do século 21). Há algumas décadas, ela deu uma nova guinada: extensão das políticas de prevenção, moralização dos comportamentos, controle das condutas e das atitudes de risco. Em outras palavras, no momento de aposentadoria do velho Estado de Bem-Estar Social, o cuidado com os corpos “cidadãos” tornou-se menos repressivo do que incitativo, menos estatal do que “responsabilizante”, menos diretamente prescritivo do que voltado a favorecer a internalização do controle. Ou, para empregar o vocábulo dos últimos anarquistas, favorecer o endoflicage (de endo, “interno”, e flic, “policial”, portanto, uma “internalização do policiamento”).

Gigantes farmacêuticas e especialistas de Estado, ministérios da república e a mídia privada, anunciantes e comitês de ética se encontram aqui lado a lado, menos no sentido conspiratório de uma aliança dos poderosos pelas costas dos cidadãos do que no sentido mais profundo da lógica neoliberal – cuja genealogia histórica [5] Foucault também propusera em seu tempo. Ele definia o neoliberalismo , simultaneamente, como uma autolimitação da política, com um governo “frugal” submisso às forças do mercado, e como uma nova modalidade da política. Uma política da vida, ou “biopolítica”, visa organizar e favorecer a “produção da vida”, visa delegar, para tanto, aos indivíduos atomizados (eleitores e/ou consumidores) uma função decisiva de controle e de maximização de si (em torno do conceito de “governabilidade”, ou de governo de/sobre si) e impor normas estritas no domínio da relação dos corpos entre si, de cada corpo com sua (sobre)vida e da vida mesma com seu “pleno cumprimento”.

Assim, quando não são unicamente os engenheiros da ecologia ou da alimentação orgânica que nos dizem como viver, tanto para o nosso próprio bem como para o bem do corpo coletivo, mas também os riscologistas, os economistas, os políticos, os diretores de recursos humanos, os terapeutas de programas de televisão, os treinadores esportivos, os sexólogos, os gigantes do medicamento, e até a própria família, preocupadas em otimizar nosso capital-saúde, então este corpo que nos é atribuído deixa definitivamente de ser nosso. Esse corpo utópico, que todas as publicidades trombeteiam, esse corpo onipresente, que pavoneamos triunfalmente com o possessivo “meu corpo”, se torna, bem ao contrário, o lugar da mais insidiosa das expropriações: já não é de modo algum “meu corpo”, se é que algum dia o foi. Menos ainda do que na época em que as múltiplas proibições o constrangiam e em que um soberano tinha sobre ele o direito de vida e de morte. Menos ainda do que numa época, hoje esquecida, em que esse corpo, improvisado, gozador e mortal, ainda não havia sido investido, em seus orifícios mais íntimos, de todos os poderes do momento.

[1] Ver, por exemplo, os dossiês especiais publicados em Le Figaro (26 de novembro de 2007) e Les Echos (3 de outubro de 2007).

[2] Ver principalmente Michel Foucault, Vigiar e punir, Petrópolis, Vozes, 1977.

[3] François Ewald e Denis Kessler, “Les noces du risque et de la politique”, Le Débat, n.º 109, Paris, 2000.

[4] “Les entreprises veulent des salariés en forme”, Les Echos, 3 de outubro de 2007.

[5] Naissance de la biopolitique. Cours au Collège de France, 1978-1979, Paris, Hautes Études-Gallimard-Seuil, 2004.

FONTE: http://diplo.uol.com.br/2008-01,a2142

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

CARTÃO CORPORATIVO E “MÍDIA ESGOTO”

Por Altamiro Borges (*)

O jornalista Luis Nassif, numa série imperdível no seu blog sobre os podres da revista Veja, cunhou a expressão “jornalismo esgoto”. Ela se encaixa perfeitamente na nova ofensiva patrocinada pela mídia hegemônica para fustigar o governo Lula. Agora o mote são os chamados cartões corporativos usados pelo presidente, ministros e outros servidores para efetuar gastos cotidianos. O terrorismo midiático já decapitou a ministra Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, e chamuscou criminosamente a imagem dos ministros Orlando Silva, dos Esportes, e Altemir Gregolin, da Pesca. Mas o alvo é bem maior.

A escalada agressiva do denuncismo se volta diretamente contra o próprio presidente Lula, que às vezes se finge de morto diante dos ataques da oposição de direita e da mídia e cede às pressões. O jogo é pesado e gera corrosivas conversas nas ricas camadas médias – que, segundo recente pesquisa, ainda endeusam a mídia e preferem pensar com a cabeça dos seus donos. A ofensiva confunde até parcelas progressistas da sociedade. A marcha udenista é arrasadora e intensa e pode resultar, segundo líderes da oposição liberal-conservadora, numa nova crise política e na instalação de outra CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). É tudo o que a direita golpista, confusa e rachada, deseja para desgastar o governo Lula num ano eleitoral.

Ausência de informações sérias

Nesta brutal ofensiva, o que menos vale é a informação imparcial e a justa fiscalização do poder público. O objetivo não é denunciar os abusos e deslumbramentos dos governantes, visando a sua correção – como afirmam alguns ingênuos ou oportunistas –, mas sim fortalecer a oposição de direita. A mídia hegemônica sequer informa os seus leitores e telespectadores que o uso dos cartões corporativos ou de outros afins é comum no mundo todo. Autoridades governamentais – assim como executivos das empresas capitalistas, jornalistas vestais da ética e até intelectuais “quimicamente puros” – costumam viajar, hospedar-se em hotéis e marcar contatos para tratar de assuntos de interesse político, profissional ou acadêmico.

Frente às despesas corriqueiras, o cartão corporativo é um avanço, que, evidentemente, necessita sempre de ajustes. Ele foi criado em 2001, na gestão de FHC, devido às denúncias da falta de controle dos gastos. Antes, um ministro recebia a quantia em dinheiro, depositava na sua conta, pagava as despesas e depois apresentava a nota. Não havia qualquer transparência. Através do decreto nº. 5.355, de janeiro de 2005, o governo Lula ainda procurou regulamentar melhor o uso do cartão. Segundo o decreto, ele pode ser usado na “aquisição de materiais e contratação de serviços”, na compra de passagens aéreas, locação de veículos e no pagamento de hotéis, refeições e diárias de viagem. É proibido utilizá-lo em viagens internacionais.

Maior transparência e fiscalização

Outro importante avanço é que atualmente todos os dados das despesas estão disponibilizados na internet, através do Portal da Transparência, implantado em 2004. É possível acompanhar os gastos dos 11.510 servidores da administração federal que possuem o cartão corporativo, segundo balanço de dezembro de 2007. As despesas ainda são fiscalizadas pela Controladoria Geral da União (CGU) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Diante das recentes denúncias, o governo decidiu apertar mais o cerco. Um novo decreto restringe a conta “tipo B”, que ainda previa saques em dinheiro, e limita gastos em viagens.

Segundo Luiz Navarro, secretário da CGU, “o cartão é uma instrumento moderno, que permite melhor controle do que o velho talonário de cheques. O aumento das despesas acontece simultaneamente à redução do volume de pagamentos feitos pelo sistema antigo (tipo B)”. Mesmo assim, ele defende a manutenção dos saques em dinheiro para os casos inevitáveis, como o dos servidores do Incra, Ibama e Funai, que operam em zonas rurais, e para ações sigilosas da PF e da Abin. Por fim, ele lembra que “a imprensa e a sociedade hoje podem acompanhar fácil e completamente tudo isso graças à política de transparência pública adotada pelo atual governo. Até 2004 essa possibilidade simplesmente inexistia”.

Mídia tucana e gastos de FHC

Estas e outras informações, decisivas na formação da opinião pública, não têm destaque nos noticiários. Além de tratar o tema como um escândalo político, a mídia hegemônica esbanja parcialidade. Ele sequer informou os seus inocentes úteis que o relatório da Controladoria Geral da União (CGU), divulgado em janeiro, atesta que a despesa total com o cartão corporativo situa-se entre 0,002% e 0,004% das despesas totais do Poder Executivo – uma mixaria comparada ao que é gasto com os juros pagos aos rentistas (R$ 174 bilhões em 2007) ou mesmo aos R$ 1,04 bilhão gastos em publicidade oficial na mídia mercenária.

O “jornalismo esgoto” e descaradamente tucano também não deu manchetes aos dados da CGU sobre os gastos do governo FHC com suprimento de fundos (que envolvem os cartões corporativos). Eles foram de R$ 213,6 milhões, em 2001, e de R$ 233,2 milhões, em 2002. No governo Lula, eles foram reduzidos e mantêm-se, nos últimos cinco anos, a média anual de R$ 143,5 milhões. Segundo a CGU, as despesas só superaram este patamar em 2007, atingindo R$ 176,9 milhões, devido às despesas da Abin na segurança dos jogos Pan-americanos, à realização de dois censos do IBGE e à intensificação das operações da Polícia Federal. Elas representaram 82,4% do aumento dos gastos com cartões.

Blogueiros e o sumiço dos pragmáticos

Tamanha manipulação da “mídia esgoto” tem gerado a justa revolta dos que ainda prezam pela ética e pelo oficio do bom jornalismo. Bem diferente de certos políticos pragmáticos, que temem a ditadura midiática, fogem do debate de idéias e cedem às pressões, alguns blogueiros partem para o contra-ataque. Renato Rovai, editor da revista Fórum, critica inclusive o presidente Lula. “Ao deixar a ex-ministra Matilde Ribeiro sendo massacrada pelos meios de comunicação até ser obrigada a entregar o cargo para saciar a sanha de setores da mídia, o governo cometeu mais uma dos seus estúpidos erros políticos na relação com a oposição midiática... Ao oferecer aliados para saciar a fome dos opositores, em geral o que se faz é aumentar o apetite desses”.

Diante desta passividade, os blogs dão munição para ajudar na batalha de idéias. Lembram, por exemplo, que a filha de FHC, que era funcionária da presidência, utilizou um avião da FAB para vistoriar as fazendas do pai e nunca prestou contas da despesa; que outro filho, Paulo Henrique, gastou R$ 10 milhões dos cofres públicos para montar um stand numa feira na Alemanha; e que ministros tucanos, como José Serra e Raul Jungmann, fizeram viagens de turismo com verbas públicas. O Onipresente até pesquisou o Portal da Transparência para investigar o uso do cartão corporativo por seguranças de FHC – a lei garante a regalia aos ex-presidentes. Somente em 6 de agosto de 2007, o servidor Eduardo Sacillotto encheu quatro vezes o taque do carro de FHC.

Serra e os jantares no Fasano

Eduardo Guimarães, do blog Cidadania, adverte que está em curso uma nova guerra da mídia contra o governo Lula. “Os cartões corporativos, a CGU e o Portal da Transparência constituem uma fonte inesgotável de ‘matéria prima’ para a mídia acusar o governo. Cada compra feita e devidamente registrada será tratada como se fosse gasto pessoal do membro do governo... Não importa se era assim, se é assim em qualquer parte e se continuará sendo assim. O que importa é dizer ao povo: ‘enquanto você come pescoço de frango, o Lula come picanha argentina”. Ele propõe a imediata mobilização dos “sem mídia” para denunciar que “as contas do governo Serra são uma caixa preta e que ele, ao contrário de Lula, não tem coragem de expô-las”.

Já o jornalista Luiz Antonio Magalhães, que não morre de amores pelo governo Lula, afirma que “a histeria da grande imprensa com os gastos nos cartões corporativos é apenas mais uma forma de jogar para a torcida e de apostar no udenismo rastaqüera para tentar prejudicar a imagem do governo. O problema é que talvez a opinião pública esteja uma pouco mais madura do que os jornalões imaginam. Ela já sabe que Orlando Silva gosta de tapioca, mas talvez queira saber direitinho como os secretários de José Serra fazem para pagar os jantares no Fasano”.

(*) Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).

FONTE: http://www.fazendomedia.com/2008/diaadia20080208.htm

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Quatro em cada dez trabalhadores do mundo ganham menos de US$ 1 por dia

Quatro em cada dez trabalhadores do mundo são pobres, segundo diagnóstico da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Das 3 bilhões de pessoas empregadas, 1,3bilhão ganha até US$ 2 diários e 489,7 milhões ganham menos de US$ 1 por dia.

Os números constam no relatório Tendências Mundiais do Emprego divulgado pela OIT. O número de desempregados, segundo a organização, chegou a 189,9 milhões em 2007.

Fonte: Agência Brasil

veja matéria completa em

http://www.oitbrasil.org.br/news/nov/ler_nov.php?id=3051