sábado, 27 de dezembro de 2008

Bolívia torna-se território livre do analfabetismo em três anos

“Missão cumprida. O fim do analfabetismo foi um dos compromissos de minha campanha. Agora vamos passar para a fase de ampliar o ensino básico, depois o secundário, até chegar no terceiro grau”, afirmou o presidente Morales ao comemorar a conquista

A Bolívia, segundo país mais pobre da América, atrás só do Haiti, foi declarada território livre do analfabetismo, no sábado passado, dia 20.

Depois de três anos de grande mobilização popular, particularmente dos maiores interessados, os indígenas, somada à decisão política do presidente Evo Morales, a Bolívia transformou-se no terceiro país que conseguiu vencer essa praga no continente, após Cuba, que o fez em 1961, e a Venezuela, em 2005. Os dois países colaboraram com a sua experiência, com professores, métodos e recursos para encarar o difícil desafio.

“Missão cumprida. O fim do analfabetismo que tanto mal faz aos povos foi um dos meus compromissos de campanha. Agora vamos passar para a fase de acabar o ensino básico, depois o secundário, até chegar no terceiro grau”, afirmou Morales no ato que foi uma verdadeira festa com milhares de pessoas na cidade de Cochabamba, .

Os números divulgados pelo Ministério de Educação e Cultura são: 819 mil 417 pessoas alfabetizadas de um universo de 824 mil 101 iletrados detectados (99,5%); 28 mil 424 pontos de alfabetização criados nos nove departamentos da Bolívia; 130 assessores cubanos e 47 venezuelanos que deram aulas de capacitação a 46 mil 457 professores e 4 mil 810 super-visores bolivianos na aplicação do método audiovisual cubano Eu sim posso.

O governo boliviano revelou que o analfabetismo no país tinha “cara de mulher”, já que mais de 85% dos alfabetizados eram do gênero feminino.

O ministro de Educação, Roberto Aguilar, assinalou que este era “o acontecimento educativo mais importante de nossa história republicana”, e “se constitui no esforço que potencializa a conquista de nossa soberania, de retomar nossas riquezas e decidir nosso destino, para que a Bolívia comece a deixar um passado marcado de discriminação, injustiça e intolerância”.

Evo ressaltou a energia, a solidariedade, a vontade de aprender, o esforço continuado, as caminhadas de horas e mais horas para chegar a uma comunidade para receber aulas depois de uma árdua jornada no campo, um dia trabalho numa empresa na cidade, num mercado ou na rua. “Este processo deixou claro a força, a determinação de avançar de nosso povo”, concluiu.

A grande maioria das pessoas preferiu se alfabetizar em espanhol, embora tivessem se preparado professores e material para fazê-lo em quéchua e aymara, relatou o diretor nacional de Alfabetização, Benito Ayma.

Anunciaram que uma segunda etapa, a de pós-alfabetização, se iniciará em fevereiro de 2009 com o programa Eu sim posso continuar, para a conclusão do ciclo básico em dois ou três anos, com conteúdos de espanhol, matemáticas, geografia, história e ciências.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Mais um ano


Estamos finalizando o ano de 2008. Mais uma vez, votos de boas festas, de feliz natal e um ano novo repleto de saúde e paz são renovados. Ano entra, ano sai, e sempre expressamos o nosso desejo em um ano e um mundo melhor do que o ano que passou.

Esse também é o desejo de todos nós do Movimento do Real. Com um adendo. Para que tudo o que desejamos se concretize, precisamos sair da esfera do desejo e começar a agir para a realização do mesmo. Não devemos nos esquecer nunca de que a história é feita pelas ações dos homens e as coisas que ocorrem na vida são muito mais do que a simples expressão do desejo pessoal de quem quer que seja.

Então, vamos à luta, nos fortalecendo sempre junto aos coletivos organizados dos movimentos sociais que sempre empunharam a bandeira de um mundo melhor, justo e plenamente humano independente da época, pois "quem sabe faz a hora não espera acontecer"!!!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Pense nisso

“Onde convocar forças para derrubar a injustiça e a tirania quando cidadãos respeitáveis se calam?”

Sófocles (495 a.C.–406 a.C), dramaturgo grego.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Torcida esgota ingresso de "final" e Goiás deve arrecadar 2 mi

Como já era esperado pela diretoria do Goiás, todos os ingressos em Goiânia e Brasília para a partida contra o São Paulo no próximo domingo já foram vendidos. Os altos preços estabelecidos para o jogo que pode decidir o Campeonato Brasileiro não assustaram os torcedores que puderam adquirir as entradas em São Paulo, Brasília e Goiânia. Com a venda de todos os 19.800 ingressos, espera-se que a renda do Goiás alcance R$ 2 milhões.

Ao longo da semana, o valor das entradas para a partida mudou diversas vezes. Inicialmente, a diretoria do Goiás anunciou ingressos por até R$ 400, em uma tentativa de compensar os custos que teria por sediar a partida no estádio Bezerrão, no Distrito Federal, e não no Serra Dourada, devido a uma punição do STJD. Nos dias que se seguiram, o clube esmeraldino recuou e reduziu os valores, que no fim das contas puderam ser comprados por um valor entre R$ 75 e R$ 250.

Com o alto preço praticado pela diretoria do Goiás, a venda total dos ingressos deve alcançar uma renda no valor de R$ 2 milhões, segundo informou a rádio 730, de Goiânia. A marca representa a melhor arrecadação do clube no Campeonato Brasileiro, que em toda a competição arrecadou R$ 2.356.920,00, segundo dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A média de púbico do Goiás é de pouco mais de 8 mil torcedores.

Cerca de 12 mil bilhetes tiveram seu preços remarcados por conta da constante alteração dos preços, que só foi decidida na última quarta-feira, atrasando a venda dos ingressos em Goiânia. Apesar de o site do clube anunciar o início da venda para as 17h de quarta-feira, somente nesta quinta-feira pela amanhã os torcedores puderam adquirir as entradas.

Em São Paulo, os ingressos estão sendo vendidos no Morumbi. O Goiás disponibilizou 2 mil ingressos para serem comercializados para a torcida do time paulista. A outra capital onde foram adquiridas entradas foi Brasília, onde acontece a partida.

Com três pontos a frente do Grêmio, o São Paulo precisa apenas de um empate no Bezerrão para conquistar o tricampeonato brasileiro. Já o time gaúcho recebe o Atlético-MG no estádio Olímpico.

http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2008/12/05/ult59u180174.jhtm

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

TV digital

A TV digital faz aniversário hoje. A exatamente um ano, o sinal da tv digital chegava ao Brasil.

Embora essa tecnologia estivesse em ação desde 1964, quando a mesma foi inaugurada em uma transmissão a cabo entre Los Angeles e São Francisco, somente no ano passado, no dia 02 de dezembro, com a participação de três estados da nação(Rio de Janeiro, Brasília e São Luiz) ela penetrou em terra brasilis.

Aqui em Salvador, ontem, a TV Bahia inaugurou o seu sinal digital, se tornando a primeira rede, do norte-nordeste do país, a ter esta tecnologia.

No entanto,se tomarmos como referência o Brasil como um todo, vamos ter conhecimento de que apenas 0,5% da população tem acesso a esta tecnologia.

O que é muuito pouco, já que, segundo o IBGE, quase 94,8% dos lares brasileiros possuem televisão.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A última rodada do brasileirão

A última rodada do brasileirão 2008, em um dos seus jogos, São Paulo X Goiás, já começou e tudo indica que quem estar ganhando o "jogo" é o time do Goiás.

Por causa do time do Goiás ter perdido o seu mando de campo em função do jogo contra o Cruzeiro há quase um mês, no dia 2 de novembro, os cartolas estão querendo colocar o preço do ingresso para nada mais, nada menos, 400 reais. Isso mesmo, a bagatela de 400 reais, um pouco menos do que o salário mínimo, que hoje é de 415.

Mas, calma. Para amenizar, quem levar um quilo de alimentos não perecíveis, para ajudar aos irmãos de Santa Catarina, terá o direito de pagar meia entrada.

Em todo o caso, um absurdo, dada a realidade sócio-econômico do povo do nosso país.

domingo, 30 de novembro de 2008

Pra que academia?

Zé Simão - Folha de São Paulo

Três grandes notícias abalaram o planeta!
Primeiro: Masturbação evita câncer da próstata. Ou seja, mãos à obra! Ops, mãos à cobra! Então, quando você se tranca no banheiro com a 'Playboy', não é mais masturbação, é manutenção!

Depois saiu esta: 'Pizza evita câncer de estômago'.

E agora a mais nova: 'Cerveja faz bem aos ossos'. Nunca foi tão fácil cuidar da saúde: punheta, pizza e cerveja!'. Falta só falar que TV faz bem pra vista!!

Já Imaginou! Sentado num sofá, batendo uma, comendo pizza, tomando uma gelada e vendo filme pornô.

Pra que academia?

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Solidariedade ao povo de Santa Catarina

Abaixo, fotos e uma mensagem de um morador do Estado de Santa Catarina que circulou na lista da LEPEL/UFBa.



Queri@s amig@s, a esta altura voces ja devem saber a respeito da gravidade do problema causado pelas enchentes em Santa Catarina. Em contato com colegas de diferentes cidades do Estado, soube do drama vivido e da necessidade de todas as formas de apoio possiveis. Ja foram contabilizadas 99 mortes e milhares de desabrigados e desalojados, muitos deles aqui pertinho de onde eu moro. Em algumas cidades alagadas os saques tem sido, contraditoriamente, frequentes; faltam luz, comida, agua e sistema de comunicacao; muitas casas foram totalmente destruidas e em muitas outras nao havera condicoes de habitacao. Enfim, as perdas sao imensas.

Nesse sentido, encaminho a voces informacoes obtidas na pagina da defesa civil de Santa Catarina, talvez voces possam fazer circular a noticia e colaborar de alguma forma.

Um grande abraco do Edgard



DEFESA CIVIL ABRE CONTA CORRENTE PARA RECEBER DOAÇÕES

Banco/SICOOB SC - 756 - Agência 1005, Conta Corrente 2008-7
Caixa Econômica Federal - Agência 1877, operação 006, conta 80.000-8 Banco do Brasil – Agência 3582-3, Conta Corrente 80.000-7
Besc – Agência 068-0, Conta Corrente 80.000-0.
Bradesco S/A - 237 Agência 0348-4, Conta Corrente 160.000-1
Itaú S/A - 341, Agência 0289, Conta Corrência 69971-2
Nome da pessoa jurídica é Fundo Estadual da Defesa Civil, CNPJ - 04.426.883/0001-57. Defesa Civil de SC alerta sobre ação de golpistas pela Internet. A Defesa Civil não envia mensagens eletrônicas com pedidos de auxílio. As contas oficiais para depósito são as publicadas neste site.



BENEFÍCIOS FISCAIS: As empresas que fazem doações podem requerer a isenção do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), utilizando o código CFOP na nota fiscal 5910. Também deve constar em complemento: “ Doação para Defesa Civil do Estado de Santa Catarina”.



DOAÇÕES: As Secretarias Regionais (SDR's) da região do Alto Vale do Itajaí (Blumenau, Brusque, Itajaí, Jaraguá do Sul, Joinville e Timbó) montaram bases de distribuição e arrecadação das doações às pessoas afetadas pelas fortes chuvas do último final de semana.Consulte locais para entrega no: 48 - 4009 9886 ou nas SDR's. As empresas ou pessoas de outros estados que tiverem interesse em fazer doações também devem ligar para: (48) 4009 9886. Os catarinenses devem ligar para 199 ou para a SDR mais próxima do seu município.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Cada vez mais o ensino é uma mercadoria



Apesar de 30,9% dos jovens entre 18 e 24 anos estudarem, apenas 13% já conseguiu adentrar num curso superior. A meta estabelecida pelo PNE é de 30% de atendimento em 2011, o que dificilmente será atingido no ritmo atual de crescimento.
O principal problema não é a dificuldade de acesso de nossos jovens ao ensino superior, mas a característica eminentemente privada deste acesso.
Ao contrário do que os próceres governamentais apregoam a iniciativa privada não tem do que reclamar no atual governo. Para chegar a esta conclusão só é necessário acessar os dados dos censos do ensino superior de 1994 a 2006, todos disponíveis no site do INEP (http://www.inep.gov.br/). E, obviamente, lançar um olhar crítico sobre as tabelas disponibilizadas pela referida instituição.

E o que os números dos censos podem nos dizer?

Tomei a liberdade de comparar as taxas de crescimento das matrículas da rede pública e da rede privada ao final de cada período dos últimos presidentes de nosso país. Verifiquei também a composição deste crescimento nos primeiros quatro anos de governo Lula.
No primeiro mandato de FHC presenciamos um crescimento da rede privada na ordem de 36,12% contra um percentual de apenas 16,55% da rede pública. Assim, a participação privada no total das matrículas passou de 58% para 62%.
No segundo mandato de FHC, houve uma maior desregulamentação do setor privado e isso teve efeito imediato na sua taxa de crescimento, que acumulou 84%. A rede pública cresceu de forma mais acelerada (32%) em comparação ao período anterior, mas ao final o hiato só fez aumentar, terminando em 2002 com uma participação pública de apenas 30% no total das matrículas.
O primeiro mandato de Lula não reverteu esta tendência de maneira significativa. É verdade que reduziu pela metade o ritmo do crescimento privado alcançado nos anteriores, cravando um crescimento de 43%. Porém, o crescimento da rede pública, ao contrário da propaganda oficial, foi de apenas 15%%. A conseqüência é fácil de concluir: continuou aumentando o hiato entre participação privada e pública. Em 2006 a rede privada representou 74% contra 26% da rede pública.
Analisando de forma mais detida os dados de 2002 e 2006, com o intuito de não cometer nenhuma injustiça com o esforço de crescimento de matrículas que é apresentado na imprensa pelo governo Lula, verifiquei as taxas de crescimento da rede pública, e dentro dela das instituições federais, estaduais e municipais. E também as mesmas taxas na rede privada, distinguindo as instituições comunitárias ou filantrópicas das genuinamente privadas.
De 2002 para 2006 houve um crescimento de 15% da rede pública, mas a rede federal contribuiu com 58.187 novas matrículas de um total de 157.649. Ou seja, este crescimento baixo só não foi pior porque as redes estaduais e municipais continuaram crescendo, mesmo que a competência pela oferta do ensino superior seja federal e isso sobrecarregue os cofres destes entes federados. Aliás, entes federados que não conseguiram melhorar o acesso nas etapas que são suas obrigações constitucionais, como mostram os dados preliminares do censo escolar da educação básica de 2008.
Na área privada, que contou com um crescimento de 43%, foram efetivadas 1.039.084 matrículas, sendo que 64% foram em instituições com fins lucrativos.
Aliás, reportagem especial produzida pela Rádioagência Noticias do Planalto (http://www.radioagencianp.com.br/) afirma que este "aumento quase desordenado de instituições de ensino privadas comprova que este é um negócio mais lucrativo do que os setores de energia e telecomunicações. Segundo pesquisa divulgada pelo jornal Valor Econômico, os lucros das instituições de ensino superior privada se comparam ao das empresas como Vale, Gerdau e Petrobras. Em março de 2007, a Anhanguera Educacional S.A foi a primeira instituição de ensino superior da América Latina a investir na Bolsa de Valores, tendo obtido no primeiro dia de operações uma valorização de 70% de suas ações. Em seis meses, a Anhanguera captou R$ 512 milhões e seu número de alunos foi de 24 mil para 53 mil neste período".

No final de novembro serão divulgados pelo INEP os números do censo de 2007. Espero que somadas as ampliações feitas em 2008, o segundo mandato de Lula seja capaz de estreitar o hiato entre público e privado, revertendo a tendência dos últimos anos.
Digo isso para não parecer pessimista, mesmo que a tarefa acima descrita seja de difícil execução. Sem uma mudança radical na política econômica é impossível estabelecer um volume de recursos que permita taxas de crescimento animadoras.
Como a crise econômica internacional atravessou o atlântico e aportou em solo brasileiro, o discurso de corte nos gastos públicos voltou a ganhar força, tornando mais remota a hipótese de chegarmos perto das metas do PNE em janeiro de 2011. Nesta data Lula deixa a presidência e o PNE completa 10 anos.

Postado por Luiz Araújo

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

Poesia


Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento (...),
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta é que o movimento se move.


Fernando Pessoa

Manifesto de Niemeyer exige fim do bloqueio a Cuba

Em conjunto com o Comitê de Defesa da Humanidade - Capítulo Rio de Janeiro, o arquiteto Oscar Niemeyer lançou um Manifesto pelo Fim do Bloqueio a Cuba e pela Ajuda Humanitária ao país socialista. ''O objetivo é recolher um milhão de assinaturas até o dia 22 de novembro, data em que se encerra a campanha. No momento contamos com cerca de 900 mil assinaturas'', informou a presidente do Capítulo RJ, Marília Guimarães, ao Vermelho.


Para conhecer e assinar o Manifesto acesse:
http://www.cdhrio.com.br/scripts/index.htm

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Novas eleições no Estado do Rio de Janeiro

Vitória esmagadora dos nulos obriga TSE a convocar novas eleições em dois municípios do RJ

Fonte: Agência Petroleira de Notícias (www.apn.org.br)

Em Bom Jesus de Itabapoana, no Estado do Rio de Janeiro, os votos nulos alcançaram 89,23% da preferência do eleitorado e o candidato único à Prefeitura, João José Pimentel, do PTB, apenas 6,3%. Eram 26.863 eleitores, mas apenas 1.692 votaram em Pimentel. Em Santo Antônio de Pádua, Maria Dib, do PP, obteve 10.074, o equivalente a 37,9% dos votos, enquanto os nulos totalizaram 16.527, o equivalente a 60,35%.

De acordo com as regras eleitorais, nenhum candidato pode tomar posse quando os nulos e brancos vencem as eleições, alcançando um coeficiente maior que a soma dos votos dos candidatos. Nos dois municípios, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá que convocar novas eleições e os dois candidatos rejeitados pela população ficarão inelegíveis. As duas cidades tiveram outros concorrentes, mas suas candidaturas foram impugnadas. Agora será estabelecido um novo prazo para inscrições, propaganda eleitoral e os eleitores terão que voltar às urnas.

O Tribunal Regional Eleitoral (TER-RJ) já está com esquema todo preparado para realizar novas eleições para prefeito em Santo Antônio de Pádua e em Bom Jesus de Itabapoana. A intenção do presidente do TRE, desembargador Alberto Motta Moraes, é convocar o novo pleito ainda este ano, antes da diplomação dos prefeitos eleitos no estado. Pelo calendário eleitoral, a data-limite para os juízes diplomarem os vencedores das eleições deste ano é 18 de dezembro. Sua intenção é evitar que os presidentes de câmaras municipais sejam obrigados a tomar posse, interinamente.

Em Bom Jesus e Pádua, os eleitores deram uma lição de cidadania, demonstrando que o voto nulo é também uma forma de expressar opinião, quando os opções disponíveis não atendem às expectativas.

www.apn.org.br

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A volta do Velho

Com a crise financeira até banqueiros estão comprando e lendo(!) “O Capital”. O livro virou um best-seller. Motivo: entender como o capitalismo pode devorar a si mesmo, que é o que está acontecendo. Há 20 anos o capitalismo obteve uma vitória destruidora sobre o comunismo. Hoje, parece não poder se recuperar de sua vitória.

Flávio Aguiar

Pois é. Karl Marx e “O Capital” estão de volta. A notícia já correu o mundo, do Alaska à Patagônia, do Caribe ao Japão, através dos dois oceanos.
Mas o que ela significa ainda não. Fica oculta nas dobras da crise financeira que ora se abate sobre o planeta.

A notícia é a de que com a crise financeira até banqueiros estão comprando e lendo(!) “O Capital”. O livro virou um best-seller. Motivo: entender como o capitalismo pode devorar a si mesmo, que é o que está acontecendo. Há 20 anos o capitalismo obteve uma vitória destruidora sobre o comunismo. Hoje, parece não poder se recuperar de sua vitória.

Marx explica, sobretudo, que o Capital é um fetiche. Que além de criar a si mesmo, e procriar, como mãe que se auto-fecunda, ele cria uma imagem de si mesmo que fascina todos, e diante da qual todos se entregam. Foi, de um modo exacerbado, o que aconteceu nos últimos decênios. E por isso mesmo os que o cultuam perdem a capacidade de controla-lo, quer dizer, de controla-lo dentro de si mesmos.

Assim posto, o fenômeno de que as venda de “O Capital” de Marx triplicaram na Alemanha dos últimos dias não surpreende.

Mas há mais no estádio, dentro e fora. Na Alemanha, a preferência pela esquerda cresce. Sinais:

1) O Partido Social-Democrata, o SPD, escolheu no ano passado um jovem político como novo líder, Kurt Beck. Descrito como “populista” (pela imprensa liberal e conservadora), Beck se opunha à tendência direitista que empalmara o partido nos anos 90, e que se consagrara recentemente, quando o SPD passou a integrar uma coalizão com a CDU (União Democrata-Cristã), para governar o país numa condição minoritária.

2) A resistência no SPD foi enorme. O partido ameaçou rachar. Resultado: com a pressão da cúpula, apesar do apoio das bases, Beck renunciou ao cargo, em função de lançar a candidatura de um político com perfil mais conservador ao cargo de líder e de futuro primeiro ministro (se o partido obtiver maioria no parlamento nas eleições do ano que vem).

3) Paralelamente, dissidentes do SPD e remanescentes do Partido Comunista da DDR (Alemanha Oriental) fundaram o partido Die Linke, A Esquerda, que vem crescendo e ganhando adeptos em toda a Alemanha. O partido cresce em intenções de voto. Informes extra-oficiais dizem que na antiga DDR ele já contaria com 30% das opções.

4) Os jovens precisam, e manifestam cada vez mais, uma ponte com o seu passado histórico. Isto compreende os jovens da parte oriental da Alemanha, que cada vez mais rememoram o mundo comunista como um de pleno emprego, e os da parte ocidental, que, no fundo, percebem a mesma coisa.

5) Com os mais velhos acontece o mesmo. Sentem-se “roubados” dentro da cena capitalista, que lhes roubou empregos e com eles o sentimento de dignidade.

Portanto, o que se pode concluir é que a presente crise, se não arranhou o poder do capital, arranhou sua imagem-fetiche. E que o Velho Marx está de volta. Até porque não é tão velho assim.

Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.

FONTE: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4014&boletim_id=479&componente_id=8431

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Desigualdade de renda aumentou no mundo e pode piorar com a crise

Apesar do emprego em todo o mundo ter crescido 30% entre 1990 e 2007, a desigualdade de renda aumentou e pode piorar com a atual crise financeira. A informação é de relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho), sediada em Genebra, na Suíça.

Sálarios x Produtividade

China teve os maiores aumentos porcentuais tanto nos salários quanto na produtividade entre 1990 e 2004, seguida da África do Sul. No Brasil, a produtividade evoluiu mais que os salários, que chegaram a sofrer uma queda de mais de 2% entre 1995 e 2004.

Dois terços dos 85 países estudados tiveram aumento na desigualdade entre 1990 e 2000, segundo o relatório. Até 2005, o período viu uma disparidade de 70% entre os rendimentos de 10% dos assalariados mais ricos e os 10% mais pobres.

Para a OIT, o dado representa um aumento na distância entre os altos executivos e o empregado médio. Em 2007, por exemplo, os diretores executivos das 15 maiores empresas americanas receberam salários 520 vezes maiores do que o do trabalhador médio. Em 2003, eles eram 360 vezes maior.

Desigualdade

Menos de um terço dos países conseguiu diminuir a desigualdade de renda. Entre eles, o Brasil e o México.

Os salários também diminuiram sua participação no total da renda da população em 51 dos 73 países que foram avaliados neste critério. A América Latina e o Caribe tiveram a maior queda porcentual, de 13%. A região foi seguida pela Ásia e Pacífico, com recuo de 10%, e das chamadas Economias Avançadas, com 9%.

Dispersão

Os maiores índices de dispersão salarial foram vistos no Brasil, na Índia, na China e nos Estados Unidos. Os menores, na Bélgica e nos países nórdicos.
A entidade afirma ainda que os trabalhadores foram menos beneficiados pelo ciclo de crescimento econômico das últimas duas décadas do que em períodos de expansão anteriores. Assim, a atual desaceleração da economia mundial deverá afetar "de maneira desproporcional os grupos de baixa renda" e intensificar as desigualdades.

FONTE http://noticias.uol.com.br/ultnot/2008/10/16/ult23u2637.jhtm

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Capitalismo seguirá igual

diz Chomsky
Crítico de Bush, lingüista diz que governo evita palavra "estatização" para que público não reivindique direito de interferir

Intelectual de esquerda descarta o surgimento de um novo capitalismo pós-crash, com maior presença do Estado na economia

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Um dos intelectuais de esquerda mais respeitados do planeta, o lingüista Noam Chomsky, acha que a estatização total ou parcial do sistema financeiro dos EUA não vai ocorrer por causa da atual crise.
Colocaria em risco o que ele classifica de "tirania privada".
Por essa razão os governos do mundo desenvolvido evitam usar o termo até mesmo quando se trata de assumir o controle, ainda que só por algum tempo, de alguns bancos e corretoras que faliram por causa da crise atual.
Aos 79 anos, Chomsky leciona no MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma das mais renomadas instituições de ensino superior dos EUA.
Para ele, se o governo norte-americano assumisse publicamente algumas de suas ações como "estatizações", abriria tecnicamente espaço para que os cidadãos do país também passassem a reivindicar o poder de interferir na condução do sistema. Até porque, diz o lingüista, "em princípio, o governo representa o público".
A possibilidade de um novo tipo de capitalismo surgir no pós-crash, com maior presença do Estado, é um cenário descartado por Chomsky. "A economia já é altamente dependente da dinâmica do setor estatal. É um sistema no qual o público paga os custos e assume os riscos, e os lucros são privados. Eu não vejo nenhuma indicação de que as instituições básicas do capitalismo de Estado estejam prestes a serem significativamente modificadas. É claro que a liberalização será reduzida, mas no interesse das instituições financeiras que vão sobreviver", diz ele.
A seguir, trechos da entrevistas de Chomsky concedida à Folha por e-mail.

FOLHA - Por que o governo dos EUA e banqueiros evitam expressões como "nacionalizar" ou "estatizar" ao falar dos pacotes de resgate para bancos nos quais haverá dinheiro público ou compra de ações pelo Estado?
NOAM CHOMSKY - Nós vivemos numa cultura altamente ideológica na qual "estatização" é uma palavra que põe medo, como "socialismo" (ou, para muitos, até "liberal"). A propósito, esse é um assunto sério. Se o Wells Fargo compra o Wachovia, então tudo fica dentro do setor privado -ou seja, dentro do sistema de tirania privada no qual o público não tem voz, em princípio. Dentro do sistema ideológico isso é chamado "livre mercado" e "democracia". Se [Henry] Paulson dá dinheiro público para bancos mas sem o direito de tomar decisões dentro dessas instituições, trata-se de um distanciamento da tirania pura chamada "liberdade", mas não muito. Se o governo adquire ações com poder de decisão dentro dos bancos, há sempre o risco de o público então também poder interferir -uma vez que, em princípio, o governo representa o público. Essa ameaça de democracia é muito mais severa para ser aceitável dentro do sistema doutrinário reinante.
Um aspecto intrigante do sistema é que o governo é visto como uma força externa, separada da população. E em muitos círculos, é interpretado como força opressora da população.
A idéia de o governo ser "para e pelo povo" é restrita a discursos patriotas e aulas de civismo nas escolas. Ou deveriam ser.

FOLHA - A onda de intervenção do Estados nas instituições financeiras será revertida no futuro ou haverá um novo cenário no qual mais bancos passarão de maneira perene a ser controlados pelo poder público?
CHOMSKY - A estatização completa é muito improvável pelas razões que eu mencionei. Uma ação nessa direção traria junto uma ameaça de democracia, ou seja, uma ameaça de o público se tornar envolvido nas tomadas de decisões sobre o sistema socioeconômico. O principal filósofo americano do século 20, John Dewey, observou que enquanto o público não ganhar controle efetivo das principais instituições da sociedade -financeiras, industriais, mídia etc.- a política permanecerá como "uma sombra dos negócios sobre a sociedade". Naturalmente, esse é o tipo de negócio que o mundo prefere. E a sua dominância sobre os sistemas doutrinários e políticos é tão enorme que a tirania privada é chamada de "democracia".
Já a ameaça de haver democracia real é chamada de "ameaça da tirania".

FOLHA - Esta é a pior crise econômica-financeira desde a Grande Depressão dos anos 30? Seria também o prenúncio de grandes mudanças no capitalismo como hoje o conhecemos?
CHOMSKY - Tem sido vista como a pior crise desde aquela época. Mas ainda não sabemos o quão severa será a crise econômica que está por vir.
Também acho que devemos ser cautelosos ao usar o termo "capitalismo". O sistemas existentes são de uma outra forma, um capitalismo de estado. Tem havido muita discussão sobre se o público deverá bancar o custo e o risco das operações de salvamentos dos bancos, mas essas lamentações -até por economistas que deveriam conhecer melhor as coisas- estão baseados na insatisfação ao se enfrentar a realidade de como a economia funciona.
A economia já é altamente dependente da dinâmica do setor estatal para que haja inovação e desenvolvimento. É um sistema no qual o público paga os custos e assume os riscos. Os lucros são privados. Eu não vejo nenhuma indicação de que as instituições básicas do capitalismo de Estado estejam prestes a serem significativamente modificadas. O sistema financeiro já foi alterado, com o colapso do modelo de bancos de investimentos. Já se reconheceu décadas atrás que a liberalização dos anos 70 embutiam um risco severo de crises repetidas e profundas. É claro que a liberalização será reduzida, mas no interesse das instituições financeiras que vão sobreviver. É possível que a retórica hipócrita do mercado fundamentalista seja também um pouco mais contida.

FOLHA - O sr. era jovem nos anos 30, mas vê semelhanças entre aquela crise a atual?
CHOMSKY - O desemprego era maior, mas essa é apenas uma das diferenças. Entre as semelhanças, creio que assim como naquela época, agora estamos indo em direção a um grande depressão.

FOLHA - Os últimos governos tomaram decisões liberalizantes para o mercado. Tanto o de George W. Bush como o de Bill Clinton -neste último, quebrando o muro que separava bancos comerciais de bancos de investimentos. Democratas e republicanos são igualmente responsáveis?
CHOMSKY - A responsabilidade pela situação atual é dos dois partidos. Alertas foram ignorados. No fundo, republicanos e democratas são ambos facções de um "partido dos negócios".
São um pouco diferentes, mas operam dentro da mesma estrutura institucional. Então não me parece ser uma surpresa que a culpa seja compartilhada. O problema é que essa discussão toda ignora o fato crucial da liberalização financeira: o seu impacto em solapar a democracia.

FOLHA - Quem o sr. acredita estar mais bem preparado para assumir a Casa Branca.
CHOMSKY - Barack Obama, provavelmente. Ao longo do tempo, a população se dá economicamente de maneira melhor com os democratas. Eles têm se movido à direita em políticas socioeconômicas. Mas John McCain é um descontrolado. É difícil saber o que ele poderia fazer. E os interesses que ele representa são extremamente perigosos para os EUA e para o mundo. Também para a esfera econômica.

FOLHA - Fala-se em num novo Bretton Woods, uma nova estrutura econômica mundial. Quem poderia liderar esse processo?
CHOMSKY - O poder ainda reside primeiramente nos EUA. Depois, na Europa. Apesar da diversificação na Ásia, o que vejo ainda é o G7 tomando a frente nesse papel de reformar o sistema.

FOLHA - Que tipo de capitalismo vai emergir da atual crise?
CHOMSKY - O capitalismo de Estado será provavelmente muito parecido ao atual, com um pouco mais de regulação e controle sobre as instituições financeiras, que serão reconstruídas (com os bancos de investimento). Mas não há indicações, pelo menos agora, de mudanças dramáticas.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1410200830.htm

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Por Olimpíada de 2016, COI vai monitorar das contas do Pan

Do UOL Esporte
Em São Paulo

O Comitê Olímpico Internacional (COI) está acompanhando a investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) nos números dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, de 2007. Segundo o presidente da entidade, o assunto será discutido com as autoridades responsáveis pela candidatura carioca para organizar os Jogos Olímpicos de 2016.

"Tenho certeza que vamos receber cópias e olharemos essas questões", afirmou o presidente do COI, o belga Jacques Rogge, ao Estado de S. Paulo. "Não acho que o comitê que avalia as candidaturas será afetado pelo fato de as contas do Pan estarem sendo auditadas, mas certamente vamos ver de todas as maneiras esse ponto", completou o dirigente.

Rogge confirmou que a missão de avaliação do COI irá visitar o Rio de Janeiro em março, quando o TCU já deve ter concluído da avaliação das contas do Pan, de acordo com o Estado. O órgão governamental apresentou na semana passada o relatório sobre o evento do ano passado, com vários questionamentos.

O documento, assinado pelo ministro Marcos Vilaça, reclamava do aumento excessivo do orçamento, segundo ele de 1.289 %. O TCU considerou o responsável pelos problemas o Ministério dos Esportes, isentando parcialmente o Comitê Organizador dos Jogos, formado pelas mesmas pessoas que encabeçam a candidatura Rio-2016.

FONTE: http://esporte.uol.com.br/ultimas/2008/10/01/ult58u1194.jhtm

domingo, 28 de setembro de 2008

Em cuba, um blogue do contra

Por Deonísio da Silva em 23/9/2008


A revista Época desta semana ocupa-se do blogue da cubana Yoani Sanchéz, filóloga de 32 anos que ganhou notoriedade mundial [ver, neste OI, "Cuba me dói"].

Estela Caparelli, com fotos de Luís Matinkoski, informa que Yoani mora em Havana, num apartamento de 60 metros quadrados, com o marido, o jornalista Reinaldo Escobar, 61 anos, e o filho Teo, 12 anos.

Ela não vive de seu blogue. É guia de turismo, faz traduções de alemão e dá aulas de espanhol. Escreve à mão num caderno e depois vai a um hotel ou café que tenham computadores e acesso à internet para postar seus protestos. Paga seis dólares por hora para fazer isso.

O jornal El País, da Espanha, outorgou-lhe o Prêmio Ortega y Gasset. A revista Time já a reconheceu como uma das pessoas mais influentes do mundo.

Fidel Castro não ignorou o trabalho da blogueira. Em texto publicado no jornal Granma e depois incluído no livro Fidel, Bolivia y Algo más... Una Visita Histórica al Corazón de América Latina, ele criticou a "jovem cubana", ao reproduzir sete declarações que ela postou. E lamentou que jovens cubanos atuem como "enviados especiais para fazer trabalhos secretos e de imprensa neocolonial da antiga metrópole espanhola que os premia".

Educação, cultura e saúde

Os jovens querem mais do que seus pais e avós conquistaram para eles. Quando jovens, os revolucionários da Sierra Maestra também quiseram e por isso lideraram uma revolução popular.

Os intelectuais brasileiros têm dificuldades de escrever sobre Cuba. Ou tomam o caminho da denúncia política, ignorando as altas conquistas sociais da Revolução Cubana, ou partem para endossos irrestritos, fechando os olhos às mais óbvias limitações das liberdades, como a da imprensa.

Como alguém que lá esteve algumas vezes, quando Cuba recebia bilhões a fundo perdido da então URSS, e também depois, quando a ajuda cessou, reitero que, em geral, os problemas são mal formulados nessas críticas. Em geral, a confusão começa na abertura dos artigos, pois o caminho logo se bifurca.

Se os 48 milhões de iletrados brasileiros, para quem as liberdades democráticas de nada lhes servem, tivessem nascido em Cuba, não seriam iletrados! Não levariam balas perdidas, não precisariam transportar cocaína e maconha para os abastados, que esperam a droga no conforto de lares do primeiro mundo, em bairros chiques, não precisariam solicitar que alguém lesse ou escrevesse por eles, como a mesma revista Época mostra em reportagem magistral, de Solange Azevedo, à página 124 e seguintes. Os níveis de educação, cultura e saúde em Cuba são invejáveis, comparados com os indicadores de outros países do continente.

Coragem na denúncia

Em nome da democracia, que não resolveu problemas seculares, critica-se a ditadura cubana irrestritamente, sem considerar avanço social algum, e absolvem-se as democracias do mundo inteiro, com descabidas indulgências a problemas como a violência urbana, a péssima distribuição de renda, o rebaixamento da qualidade na educação e na cultura, a saúde para poucos, a corrupção e a roubalheira etc.

Devido à influência dos russos, muitos nomes na ilha começam com Y, como o de Yoani. É o caso do médico Yohandry Fontana, de 37 anos, que também mantém um blogue. Ele combate a conterrânea, denunciando "aqueles que dentro e fora de Cuba distorcem a realidade do país e recebem dinheiro sujo para difamar a Revolução".

Yoani morou alguns anos na Suíça. Se recebesse dinheiro sujo para difamar a Revolução, não voltaria para Cuba e não estaria vivendo como vive. É preciso prestar atenção à sua coragem e ao que denuncia.

***

P.S. Quase todos grafam blog, mas então, para serem coerentes, deveriam escrever dog e não dogue, para designar o conhecido cão de guarda, como os dicionários já registram.

FONTE: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=504FDS001

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O Pan ainda não acabou

O Tribunal de Contas da União (TCU) deu prazo de 30 dias para que o Ministério do Esporte apresente as prestações de contas dos diversos convênios celebrados por ocasião dos Jogos Pan-americanos a Parapan-americanos do Rio de Janeiro, realizados no ano passado.

As informações foram divulgada nesta quarta-feira (24) pela assessoria do TCU e constam de relatório apresentado ao Plenário do tribunal pelo ministro Marcos Vilaça.

Segundo o relatório, o ministério deverá enviar ao TCU a documentação referente à reforma do Complexo Esportivo do Maracanã, do Parque Aquático Maria Lenk, da pista do Velódromo, bem como das obras de infra-estrutura da Vila Pan-americana, entre outros. Caso haja alguma irregularidade nesses convênios, o ministério deverá comprovar se tomou as providências relativas à instauração de tomadas de contas especiais.

Ao analisar a documentação, o TCU poderá instaurar processos específicos para apurar eventuais indícios de irregularidades. Em seu relatório, o ministro Vilaça lamenta “o excessivo tempo que o Ministério dos Esportes tem levado na análise dos contratos e convênios do Pan. Essa demora embaraça o trabalho do TCU e impede o trâmite mais ágil dos processos”.

O TCU também determinou à Petrobras, à Caixa Econômica Federal e à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos que apresentem, em até 15 dias, informações relativas aos patrocínios do Pan 2007, esclarecendo quais os valores envolvidos e as fontes dos recursos.

FONTE: http://www.atarde.com.br/esporte/noticia.jsf?id=968429

Caráter de um governo

De como se revela o caráter de um governo: Furacão em New Orleans,
região de negros economicamente empobrecidos dos EUA: ajuda escassa e demorada, abandono da gente pobre à própria sorte.

Furacão na economia de bancos de gente endinheirada em New York: urgência em destinar-lhes mais de 700 bilhões de dólares para salvar-lhes da própria ganância de lucros. Mais alguma coisa precisaria ser dita sobre o caráter de um governo? Que aprendizados podemos tirar destes acontecimentos aqui no Brasil? Renda Social Mínima, aposta na economia solidária, regulamentação criteriosa do mercado financeiro, por exemplo: haverá alguma chance para idéias como essas em todos os níveis de governo, antes de furacões ainda mais potentes?

Abraço,Tarcísio.

Mensagem postada na lista do CEVCBCE pelo professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Tarcísio Mauro Vago, em 25.09.2008

domingo, 21 de setembro de 2008

A vírgula

Vírgula pode ser uma pausa ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

Uma vírgula muda tudo.

ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

Detalhes Adicionais


SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.

Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER.
Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Censura



Carlos Latuff, desenhista, teve sua ilustração fixada em alguns outdoors no Rio de Janeiro, censurada. A ilustração faz parte de uma estratégia de contrapropaganda que denuncia as violências e injustiças praticadas principalmente pela polícia daquele Estado.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Aniversariamos

Olá, pessoal.

Gostaria de me desculpar pela ausência. Nossa última postagem foi no dia 10 de agosto e só agora, quase um mês depois, tenho condições de retornar. Como diz o velho Marx, nós fazemos a história, mas não fazemos como queremos, elementos mediadores da realidade muitas vezes obliteram, impedem agente de fazer o que queremos realmente. Outras vezes, avançamos, vamos em frente, construindo possibilidades emancipatórias. É a dinâmica social, é o MOVIMENTO DO REAL, complexo e contraditório.

Estamos de volta.

Já fizemos aniversário. Sopramos a velinha no dia 29 de agosto com quase 11.000 (onze mil) acessos. Não é muito, sabemos, mas para um blog sem pretenções comerciais, que foge dos modelos de mensagens curtas e rasteiras, entre outros elementos que tornam um blog um "sucesso", este número é muito significativo e devemos ele a todos vocês que acessaram, leram e também fizeram comentários.

Um muito, muitíssimo obrigado pela confiança.

Abaixo, em uma outra postagem, um texto sobre Medalha de Ouro, do Fidel Castro, reproduzido na íntegra pelo sítio http://www.vermelho.org.br, reflexão extremamente pertinente para todos nós que vivemos, recentemente, a experiência das Olimpíadas.

Boa leitura e reflexão.

Para a honra, Medalha de Ouro

Fidel Castro Ruz

Se for feita uma estatística sobre o número de instalações, campos esportivos e equipamentos sofisticados por milhão de habitantes que acabamos de ver nos últimos Jogos Olímpicos: piscinas de natação, de saltos de pólo aquático; solos artificiais para disputas de campo e pista, hóquei sobre grama; instalações para basquete, para voleibol; de águas rápidas para caiaque; pistas para bicicletas de velocidade, polígonos de tiro, etc., etc., poderia se afirmar que não estão ao alcance de 80% dos países representados em Beijing, o equivalente a milhares de milhões de pessoas que habitam o planeta. A China, imenso e milenário país com mais de 1 bilhão e 200 milhões de habitantes, investiu 40 bilhões de dólares nas instalações olímpicas e ainda precisará de tempo para satisfazer as necessidades esportivas de uma sociedade em pleno desenvolvimento.

Se forem somadas as pessoas que habitam Índia, Indonésia, Bangladesh, Paquistão, Vietnã, Filipinas e outros, sem contar os quase 900 milhões de africanos e mais de 550 milhões de latino-americanos, será possível ter uma idéia das pessoas que no mundo carecem de tais instalações esportivas.

É à luz destas realidades que devemos analisar as notícias que giraram em torno dos Jogos Olímpicos de Beijing.

O mundo desfrutava da Olimpíada porque dela precisávamos, porque desejávamos ver os sorrisos e as emoções dos atletas participantes, e em especial dos primeiros lugares, que recebiam o prêmio por seu empenho e disciplina.

A qual deles poderia se culpar das colossais desigualdades do planeta em que nos tocou viver? Como esquecer, por outro lado, a fome, a subnutrição, a ausência de escolas e professores, hospitais, médicos, medicamentos e meios elementares de vida que padece o mundo!

Sabemos o que evidentemente desejam aqueles que saqueiam e exploram o planeta que habitamos. Por que desataram a violência e agravaram os perigos de guerra no mesmo dia que se iniciaram os Jogos Olímpicos? Estes acabam de decorrer em apenas 16 dias.

Agora, quando já passou o efeito da anestesia, o mundo volta aos seus angustiosos e crescentes problemas.

Dias atrás escrevi sobre nosso esporte. Vinha denunciando há muito tempo as repugnantes ações mercenárias contra essa atividade revolucionária e em defesa do valor e da honra dos nossos atletas.

Enquanto aconteciam as competições, meditava sobre estas questões. Talvez não teria tomado tão rápido a decisão de escrever algo sobre o tema se não tivesse acontecido o incidente do atleta cubano de taekwondo, Ángel Valodia Matos -campeão olímpico há 8 anos em Sidney- cuja mãe morreu quando competia e ganhava a medalha de ouro a 20 mil quilômetros de sua pátria. Assombrado por uma decisão que lhe pareceu totalmente injusta, protestou e lançou um chute contra o árbitro. Haviam tentado comprar ao seu próprio treinador, estava pré-disposto e indignado. Não pôde se conter.

O atleta costumava enfrentar valentemente as lesões que costumam ser freqüentes no taekwondo. O árbitro suspendeu o combate quando estava ganhando de três a dois. Não foi o único caso. É muito grande o poder do árbitro nesse tipo de disputa e nenhum o dos atletas. Aos dois cubanos, taekwondoca e treinador, ficou proibida a participação por toda a vida em competições internacionais.

Vi quando os juízes roubaram descaradamente as brigas de dois boxeadores cubanos nas semi-finais. Os nossos combateram com dignidade e valentia; atacavam constantemente. Tinham esperanças de ganhar, apesar dos juízes; mas foi inútil: estavam condenados de antemão. Não vi a de Correa, a qual também arrebataram.

Não estou obrigado a guardar silêncio com a máfia. Esta faz arranjos para corromper as regras do Comitê Olímpico. Foi criminoso o que fizeram com os jovens de nossa equipe de boxe para complementar o trabalho dos que se dedicam a roubar atletas do Terceiro Mundo. Em seu enfurecimento, deixaram Cuba sem uma só medalha de ouro olímpica nessa modalidade.

Cuba jamais comprou um atleta ou um árbitro. Há esportes onde a arbitragem está muito corrompida e nossos atletas lutam contra o adversário e o árbitro. Antes o boxe cubano, reconhecido internacionalmente por seu prestígio, teve que enfrentar as tentativas de suborno e corrupção para arrancar à dentadas as medalhas de ouro para o país comprando boxeadores altamente treinados e curtidos, como fazem com jogadores de beisebol ou outros destacados esportistas.

Os atletas cubanos que competiram em Pequim em vez de ouro trouxeram prata, bronze ou um lugar destacado nas competições, têm um enorme mérito como representantes do esporte amador que deu origem ao ressurgimento do movimento olímpico. São exemplos insuperáveis no mundo.

Com que dignidade competiram!

O profissionalismo foi introduzido nas Olimpíadas por interesses comerciais, que transformaram o esporte e os esportistas, como dissemos, em simples mercadorias.

Foi exemplar a conduta da equipe olímpica de Cuba no besisebol. Duas vezes derrotaram em Pequim a seleção dos Estados Unidos, o país que inventou esse esporte que por interesses das grandes empresas comerciais foi expulso das Olimpíadas. Em 2008 foi por hora seu último ano de participação olímpica.

A partida final com a Coréia do Sul foi considerada como a mais tensa e extraordinária que já aconteceu em uma Olimpíada. Foi decidida no último inning com três cubanos em base e um out.

Os jogadores profissionais adversários eram como máquinas projetadas para rebater; seu pitcher, um canhoto de velocidade, bolas variadas e precisão exata. Tratava-se de uma excelente equipe. Os cubanos não praticam o esporte como profissão lucrativa; são educados, como todos nossos atletas, para servir ao seu país. Se não for assim, a Pátria, pequena em tamanho e com limitados recursos, os perderia para sempre. Não é possível calcular sequer o valor dos serviços recreativos e educativos que ao longo de sua vida prestam à nação, em todas as províncias e na Ilha da Juventude.

No voleibol, a equipe derrotou a seleção norte-americana na fase eliminatória, vindo em ascensão do último da parte baixa de uma escada para mais de 50 degraus. Uma façanha que, ainda que regressem sem medalhas, passará à história.

Mijaín ganhou com orgulho, em difícil prova com um rival russo, a primeira medalha de ouro para Cuba.

Dayron Robles ganhou o ouro com ampla margem. A chuva ensopou a pista em chamas. Sem a umidade que ainda restava, teria podido quebrar facilmente o recorde olímpico, além do mundial que tinha imposto semanas antes no difícil e milimétrico evento dos 110 metros com barreiras. É um atleta disciplinado e tenaz com 21 anos e nervos de aço.

Yoanka González ganhou a primeira medalha cubana de ciclismo em uma Olimpíada.

Leonel Suárez, que obteve em decatlo medalha de bronze, completará 21 anos em setembro. Os resultados atingidos em cada um dos dez eventos de seu quase inacessível esporte impressionam.

São tantos os atletas com grandes méritos, homens e mulheres, que não pode ser enumerado aqui, mas que é impossível esquecê-los.

Mais de 150 atletas de nossa pequena ilha participaram na Olimpíada de 2008 e batalharam em 16 dos 28 esportes que ali se competiu.

Nosso país não pratica o chauvinismo nem comercializa com o esporte, que é tão sagrado como a educação e a saúde do povo; pratica, em troca, a solidariedade. Há anos criou uma Escola Formadora de Professores de Educação Física e Esportes, com capacidade para mais de 1.500 alunos do Terceiro Mundo. Com esse mesmo espírito solidário celebra o triunfo dos velocistas jamaicanos, que obtiveram 6 medalhas de ouro; do saltador panamenho com ouro; do boxeador dominicano com igual título, ou o das jogadoras de vôlei brasileiras que venceram avassaladoramente à equipe dos Estados Unidos e ganharam a liderança.

Por outro lado, milhares de instrutores esportivos cubanos cooperaram com países do Terceiro Mundo.

Estes méritos de nosso esporte não nos eximem nem um pouco de responsabilidades presentes e futuras. Nas disputas esportivas mundiais, pelas causas assinaladas, produziu-se um salto de nível. Não vivemos hoje as mesmas circunstâncias da época em que chegamos a ocupar relativamente cedo o primeiro lugar do mundo em medalhas de ouro por habitante, e claro que isso não voltará a se repetir.

Constituímos ao redor de 0,07% da população mundial. Não podemos ser fortes em todos os esportes como os Estados Unidos, que possui pelo menos 30 vezes mais população. Nunca poderíamos dispor nem de 1% das instalações e equipes de diversa natureza, nem dos climas variados de que eles dispõem. Outro tanto ocorre com o resto do mundo rico, que possui pelo menos duas vezes o número de habitantes dos Estados Unidos. Esses países somam ao redor de bilhões.

O fato de que participem mais nações e as disputas sejam mais duras é em parte uma vitória do exemplo de Cuba. Mas dormimos sobre os loureiros. Sejamos honestos e reconheçamos todos. Não importa o que digam nossos inimigos. Sejamos sérios. Revisemos a cada modalidade, cada recurso humano e material que dedicamos ao esporte. Devemos ser profundos nas análises, aplicar novas idéias, conceitos e conhecimentos. Distinguir entre o que se faz pela saúde dos cidadãos e o que se faz pela necessidade de competir e divulgar este instrumento de bem-estar e de saúde. Podemos não competir fora do país e o mundo não se acabaria por isso. Penso que o melhor é competir dentro e fora, enfrentarmos todas as dificuldades e fazermos um uso melhor de todos os recursos humanos e materiais disponíveis.

Preparemos-nos para importantes batalhas futuras. Não nos deixemos bajular pelos sorrisos de Londres. Ali terá chauvinismo europeu, corrupção arbitral, compra de músculos e cérebros, custo impagável e uma forte dose de racismo.

Nem sequer sonhar que Londres atingirá o grau de segurança, disciplina e entusiasmo que conseguiu Pequim. Uma coisa é certa: terá um governo conservador e talvez menos belicoso que o atual.

Não esqueçamos a honradez, honestidade e prestígio profissional de que gozam nossos árbitros internacionais e os cooperantes esportivos.

Para nosso atleta de taekwondo e seu treinador, nossa total solidariedade. Para os que regressam hoje, o aplauso de todo o povo.

Recebamos aos nossos esportistas olímpicos em todos os cantos do país. Ressaltemos sua dignidade e seus méritos. Façamos por eles o que esteja ao nosso alcance.

Para a honra, Medalha de Ouro!

Fidel Castro Ruz, Havana, 24 de agosto de 2008, 21h05

domingo, 10 de agosto de 2008

Os Jogos da hipocrisia

Não é de hoje que o Movimento Olímpico perdeu seu idealismo. Mas Pequim passa de todos os limites

"POR QUE você não foi para Pequim?", perguntam.
"Porque não quis", respondo. Mais: estou entrando em férias e só volto aqui no dia 21.

Claro que verei a Olimpíada e até comentarei no blog, mas ando cheio de tanta hipocrisia, a começar pela caça aos que são pegos no antidoping por hábitos que só fazem mal e pioram o rendimento.

Não aceito ver essa cartolagem imunda da família olímpica no papel de fiscal dos hábitos da juventude e, ainda por cima, expondo jovens à execração pública, como acabam de fazer com um jogador do handebol brasileiro.

Como não suporto o ufanismo da maior parte das narrações, com as exceções de praxe para os felizardos que podem assinar um canal de televisão fechada, razão pela qual darei uma fugidinha do país para acompanhar Pequim de uma cidadezinha colonial mexicana apaixonante chamada Guanajuato.

Porque passa do limite ver um Carlos Nuzman fazer quase o elogio da poluição ou se jactar pela maior delegação brasileira da história, quando só 12% de nossa rede escolar tem quadras de esporte.

Aliás, quanto mais medalhas o Brasil ganhar, mais ficará demonstrado o desvio de sua não-política esportiva, porque privilegia o alto rendimento em vez da inclusão social ou a saúde pública por meio da prática de esportes.

Dá engulhos ver a cartolagem em hotéis de até sete estrelas enchendo a boca para dizer que esporte e política não se misturam, quando nada foi mais político do que escolher Pequim para receber os Jogos, cidade que, além de poluída, é uma capital que se notabiliza por cercear direitos básicos da cidadania.

Tudo por dinheiro, tão simples assim. Porque a China talvez seja o melhor exemplo, com todas as suas contradições, de como ainda não se achou um sistema razoável, tão óbvias são as mazelas do comunismo e do capitalismo reais.

É claro que verei tudo, é claro que me emocionarei com as vitórias brasileiras, como com a festa de abertura. É evidente que torcerei para que aconteçam triunfos como nunca, porque tenho a surpreendente capacidade (surpreende a mim mesmo, diga-se) de voltar a ser criança a cada competição em seu apito inicial. E não é de hoje.

Faço assim com os jogos de futebol lá se vão bem uns 26 anos, depois que se revelou a existência da chamada "Máfia da Loteria Esportiva". Porque paixão é paixão e não se explica, não se racionaliza, se sente. E se curte.

Sim, eu sei que serei capaz de me comover às lágrimas até com a superação de um atleta que não seja conterrâneo, como já me aconteceu inúmeras vezes.

Mas é preciso que se diga que mais que em Atlanta, quando os Jogos Olímpicos modernos comemoraram cem anos e a Coca-Cola alijou Atenas de recebê-los num crime contra a história, esta edição chinesa é um soco em quem associa o esporte à saúde e à liberdade.

Lamento sentir assim, mas quem viveu a inesquecível festa de Barcelona-1992, cujos equipamentos até hoje são utilizados por quem os pagou, os catalães, além da hospitalidade que recebeu o mundo tão bem, não pode engolir Pequim-2008.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1008200808.htm

Autor: Juca Kfouri

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Curso Livre Marx e Engels

Marx morreu? Então, viva Marx!!! O primeiro curso Marx e Engels promovido pela Boitempo teve uma procura tão inesperada como alvissareira. Mais de 2.000 (duas mil pessoas) procuraram o curso. Outras tantas (incluindo eu), ficaram com vontade de fazer, mas impedidas pelas condições geográficas (e, financeira, diga-se de passagem).

Há uma imensa luz no fim do túnel e, com certeza, não é a de um grande vaga-lume!!!

Abaixo, informe sobre o próximo curso.

Clique na imagem para ampliá-la.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Luta de classes



A imagem acima é de autoria do cartunista Latuff e gerou a maior polêmica na cidade do Rio de Janeiro.

Latuff também falou sobre as reações:

“O desenho tem a mãe desesperada, berrando. O filho dela, uma criança, com uniforme de escola, baleada, morta. Ela estava indo ou vindo da escola. Provavelmente, como a imagem é de noite, estava voltando da escola. Mas isso não sensibilizou a maioria das pessoas. A reação a este desenho é didática e serve de alerta. Ninguém se comoveu com o assassinato da criança. As pessoas se incomodaram mais com a descrição do policial. Isso porque as instituições da repressão são sacrossantas, não podem ser maculadas. Independentemente de elas já estarem maculadas, comprometidas”.

Para Latuff, isto resulta da velha luta de classes:

“Dizem que caiu o muro, que não tem mais luta de classes... Sinto dizer, mas isso é uma questão de classe. O cara do asfalto não reconhece o da favela como um igual; é o outro, é o favelado. Por isso uma vez um policial me disse: “Quando a gente prende alguém, as pessoas não gritam ‘solta, solta’. Elas gritam ‘mata, mata’”.

“É irônico. Esses jornais não acham a realidade polêmica, mas sim o desenho que a retrata. Para eles, não é a política de segurança que é polêmica, mas o desenho. Para O Globo e a imprensa de modo geral não existe polêmica quando a polícia entra na favela e mata 30. A polêmica é quando vem o desenho. É curioso como uma charge pode ser mais polêmica que a própria realidade... O fato é que aquele desenho não tem ficção. Aquilo não é nenhuma ficção da minha cabeça. Qualquer cidadão do Rio de Janeiro entende aquela imagem. Nem precisava de texto. Ela é quase uma fotografia, uma representação fiel da realidade. E cumpre função inglória: de esfregar a realidade na cara das pessoas”.

Fragmentos retirados do site http://www.fazendomedia.com/diaadia/protoblog.htm

terça-feira, 22 de julho de 2008

Estados Unidos promovem carnificina

Sobreviventes da Guerra da Coréia descrevem carnificina promovida pelos Estados Unidos

Choe Sang-Hun
Na Ilha Wolmi, na Coréia do Sul

Quando as tropas dos Estados Unidos invadiram esta ilha mais de um século atrás, ela estava repleta de trincheiras e ninhos de metralhadora comunistas. Agora a ilha é um parque no qual as crianças brincam e os aposentados caminham ao longo de uma esplanada sombreada pelas árvores.

Do alto de uma colina, do outro lado de um canal estreito, o general Douglas MacArthur, imortalizado em uma estátua de bronze, olha para as praias em Incheon nas quais as suas tropas desembarcaram em setembro de 1950, mudando o curso da Guerra da Coréia e transformando-o em um herói nesta região. No porto abaixo, carros estacionados em filas, reluzindo ao sol, aguardam para serem transportados para todo o mundo - uma demonstração da força econômica da Coréia de Sul e uma indicação de qual lado acabou emergindo vitorioso no conflito que terminou há 55 anos.

Mas no interior de uma tenda velha na entrada do Parque Wolmi, um grupo de sul-coreanos idosos quer revelar ao mundo um aspecto oculto do triunfo militar dos Estados Unidos. Uma história de carnificina incendiária que não é mencionada nos livros oficiais de história da Coréia do Sul.

"Quando o napalm atingiu a nossa vila, muitas pessoas ainda dormiam nas suas casas", conta Lee Beom Ki, 76. "Aqueles que sobreviveram às chamas correram para os baixios na costa. Nós tentávamos mostrar aos pilotos norte-americanos que éramos civis. Mas eles nos bombardearam; mulheres e crianças".

Em 10 de setembro de 1950, cinco dias antes do desembarque das tropas em Incheon, 43 aviões de combate norte-americanos sobrevoaram Wolmi, despejando 93 tanques de napalm para "queimar" as elevações orientais da ilha, segundo documentos das forças armadas dos Estados Unidos que recentemente foram analisados por investigadores do governo sul-coreanos, após a classificação de sigilo dos papéis ter expirado.

Mas Wolmi não foi o único alvo. Em novembro deste ano a Comissão para Reconciliação e Verdade do governo sul-coreano começará a divulgar uma série de relatórios sobre Wolmi e dois outros locais onde, segundo os moradores, uma grande quantidade de civis desarmados foi morta em bombardeios indiscriminados feitos pelos Estados Unidos. Classificando os ataques de violações das convenções internacionais da guerra, a comissão recomendou que o governo negociasse com os Estados Unidos para que as vítimas sejam indenizadas.

O governo não divulgou os seus planos, e a comissão, criada em 2005 para examinar questões pendentes na história sul-coreana, dá continuidade às suas investigações.

Segundo as outras descobertas feitas pela comissão, em 19 de janeiro de 1951 pelo menos 51 moradores, incluindo 16 crianças, foram mortos quando aviões dos Estados Unidos bombardearam com napalm a vila de Sansong, que fica 160 quilômetros ao sudeste de Seul.

Segundo a comissão, um dia depois disso pelo menos 167 moradores, mais da metade mulheres, foram mortos por queimaduras ou asfixia em Tanyang, 35 quilômetros ao norte de Sansong, quando aviões norte-americanos despejaram napalm na entrada de uma caverna cheia de refugiados.

"Não devemos ignorar ou ocultar as mortes de civis desarmados que foram causadas por um bombardeio aéreo sistemático, e não pelos erros de um punhado de soldados", afirma Kim Dong, um membro da comissão. "A História nos ensina que precisamos de uma aliança, mas esta aliança tem que se basear em princípios humanitários".

Sob os primeiros governos da Coréia do Sul, autoritários e ferrenhamente anti-comunistas, criticar as ações dos Estados Unidos na guerra era um tabu. Mas quando o governo criou a comissão para a apuração dos fatos, os cidadãos denunciaram mais de 210 casos de supostos assassinatos em massa promovidos pelas forças norte-americanas, especialmente por meio de bombardeios aéreos. A exigência de reconhecimento do massacre toca em complicadas emoções subjacentes à aliança da Coréia do Sul com os Estados Unidos.

"Nós somos gratos às tropas norte-americanas por terem salvo o nosso país do comunismo e pela paz e a prosperidade que temos hoje em dia", diz Han In Deuk, diretora do grupo de ativistas de Wolmi. "Mas será que isso significa que temos que nos calar a respeito daquilo que aconteceu com as nossas famílias?".

O major Stewart Upton, um porta-voz do Departamento de Defesa em Washington, diz que o Pentágono não fará comentários sobre os relatórios antes que haja uma ação formal por parte do governo sul-coreano.

Os ataques aéreos ocorreram durante uma época de desespero para as forças dos Estados Unidos, e também para os sul-coreanos que aquelas forças vieram defender.

A guerra irrompeu em junho de 1950 com uma invasão comunista a partir do norte. Em setembro, quando as forças armadas norte-americanas planejaram o desembarque em Incheon, para ajudar as forças da Organização das Nações Unidas (ONU) que encontravam-se encurraladas no extremo sudeste da península, decidiu-se que primeiro seria necessário neutralizar Wolmi, que fica no canal que dá acesso ao porto.

"A missão consistia em saturar tão intensamente a área com napalm que todas as instalações no local fossem incineradas", disseram pilotos do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos em um dos seus relatórios sobre a missão em Wolmi obtidos pela comissão junto aos Arquivos e Registros Nacionais do governo dos Estados Unidos.

Eles relataram ainda: "Não vimos nenhum soldado, mas os clarões observados no solo indicaram que o nosso bombardeio foi suficientemente intenso e preciso para destruir qualquer instalação inimiga".

Os relatórios descrevem bombardeios na praia, mas não mencionam baixas civis.

O desembarque em Incheon ajudou as tropas da ONU a recapturar Seul e rechaçar os norte-coreanos. Mas a tendência reverteu-se quando os chineses entraram na guerra.

Em janeiro de 1951, os soldados dos Estados Unidos lutavam contra forças comunistas que movimentavam-se rapidamente na região central da Coréia do Sul, perto de Tanyang e Sansong. Eles também foram atacados por guerrilheiros que eram difíceis de distinguir dos refugiados.

Temendo uma infiltração inimiga, as tropas dos Estados Unidos detiveram as colunas de refugiados que seguiam para o sul pelas estradas e ordenaram a eles que retornassem às suas casas ou ficassem nas montanhas, caso contrário poderiam ser mortos a tiros pelas tropas aliadas. Em 14 de janeiro, a 10ª Corporação, do general Edward Almond, ordenou "a destruição metódica de habitações e outras construções próximas à linha de frente, que são, ou poderiam ser, utilizadas como abrigo pelo inimigo". Na ordem havia a recomendação de que fossem efetuados bombardeios aéreos.

"Excelentes resultados", foi como os pilotos norte-americanos resumiram os bombardeios contra Sansong em 19 de janeiro de 1951.

No entanto, naquele mesmo dia, um dos subordinados de Almond, o general David Barr, da 7ª Divisão de Infantaria, escreveu a Almond afirmando que "incinerar metodicamente agricultores pobres quando não há nenhum inimigo presente é algo que vai contra a mentalidade dos soldados norte-americanos". No dia seguinte, segundo os sobreviventes de Tanyang, a caverna na qual os refugiados buscaram abrigo ressoava com os gritos dos moribundos.

"Quando o napalm atingiu a entrada, a concussão e a fumaça destruíram as lamparinas de querosene ou óleo de castor que havia na caverna. Foi um caos em uma escuridão completa - as pessoas chamavam umas pelas outras aos gritos, pisoteando e sufocando", disse em uma entrevista Eom Han Won, que na época tinha 15 anos. "Alguns disseram que deveríamos rastejar para as profundezas da caverna, cobrindo as faces com um pano molhado. Outros afirmavam que tínhamos que sair correndo da caverna, passando pelas chamas. Os que não foram queimados morreram asfixiados".

De acordo com os sobreviventes, assim como a família de Eom, as pessoas eram em sua maioria refugiados que foram obrigados pelos norte-americanos a retroceder em um bloqueio na estrada ao sul de Tanyang. No dias que antecederam o ataque, a caverna estava cheia de famílias. Quando os aviões dos Estados Unidos surgiram no sudoeste, as crianças brincavam do lado de fora em meio ao gado e às bagagens.

Naquele dia, de acordo com os relatórios de operações da 7ª Divisão, 13 aviões atacaram "tropas inimigas, animais de manada e uma caverna". Segundo o relatório houve "muitas baixas e todos os animais foram mortos".

Eom, que saiu correndo da caverna em meio ao fogo intenso das metralhadoras dos aviões, mas que sobreviveu, disse: "Os norte-americanos nos empurraram para a área inimiga e a seguir nos bombardearam".

Eom perdeu dez familiares na caverna.

Depois que a 2ª Divisão da Coréia do Sul relatou que 34 civis foram mortos e que 72 ficaram feridos em Sansong - sem que houvesse "baixas entre o inimigo" - as forças armadas dos Estados Unidos deram início a uma investigação.

Os investigadores norte-americanos não questionaram o relato dos sul-coreanos, mas concluíram que os bombardeios aéreos foram "plenamente justificados". Eles afirmaram que Sansong era considerada um reduto inimigo e que os seus moradores foram alertados para evacuar o local.

O caso parecia ter sido encerrado até alguns anos atrás, quando, no curso de uma investigação em uma reportagem, os moradores viram os relatórios feitos na época pelas forças armadas dos Estados Unidos, e leram que tinham sido avisados para que evacuassem a vila. Eles insistem - e a comissão concorda - que isso é mentira. Segundo eles, a vila na qual se encontravam as tropas norte-coreanas ficava em outro lugar e jamais foi bombardeada.

Em relação ao ataque contra Wolmi, a comissão anunciou que, embora reconheça que havia a necessidade de um desembarque em Incheon, "não existe nenhuma evidência de esforços para limitar as baixas civis".

Os sobreviventes de Wolmi dizem que as habitações dos oficiais norte-coreanos ficavam a 300 metros da vila. Segundo eles, os pilotos norte-americanos, cujos relatórios de missão atestam que havia "visibilidade ilimitada" e que atacaram em vôos baixos, em algumas ocasiões a apenas 30 metros do solo, não poderiam ter confundido os moradores, incluindo mulheres e crianças, com o inimigo.

Segundo eles, dezenas de moradores foram mortos. O número total de mortos é desconhecido. Os sobreviventes contam que mais tarde as tropas dos Estados Unidos demoliram com tratores a vila incinerada para construir uma base militar.

"Se alguém diz que esses assassinatos não foram deliberados, tendo sido apenas erros, como explicar o fato de que houve uma quantidade tão grande desses incidentes?", questiona Park Myung Lim, um historiador da Universidade Yonsey, em Seul.

As vítimas tiveram a oportunidade de dar vazão à sua mágoa em 2005, quando grupos militantes de esquerda tentaram derrubar a estátua de MacArthur. Mas os sobreviventes de Wolmi contam que não participaram do protesto por temerem ser tachados de anti-americanos.

"Consideramos MacArthur um herói para o nosso país, mas ninguém é capaz de saber o sofrimento enfrentado pelas nossas famílias", diz Chun Ji Eun, um motorista de táxi de Incheon, cujo pai morreu em Wolmi. "Ambos os governos enfatizam a aliança. Mas eles nunca se preocupam com pessoas como nós, que foram sacrificadas em nome desta aliança".

FONTE: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/herald/2008/07/22/ult2680u708.jhtm

sexta-feira, 11 de julho de 2008

MUDANÇA



Querem emudecer a luta pela igualdade
Com a voz da “justiça”
Muito se enganam...
Mal sabem esses senhores – esses, que de tanto pensar em lucro não enxergam a beleza da vida – que buscam a dissolução do insolúvel...
Os caminhos que percorrem não são profícuos
Soterrando a solidariedade, nossa pedagogia e didática
Esquecem, pobres (de tão ricos) senhores
Que é a terra que semeia frutos e flores
E que, quanto mais terra colocarem sobre nós
Mais mudas semearemos
Mudas que não fazem nenhum minuto de silêncio
Que semeiam dança, poemas, cores
E que, cantando,
fazem a mudança no mudo mundo desses senhores.

Isabel Mansur

quarta-feira, 2 de julho de 2008

CONVITE


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terça-feira, 1 de julho de 2008

Dissidentes voltam a conversar com C-13, mas seguem fora de TV

Jorge Corrêa e Thales Calipo
Em São Paulo

Depois de ficar fora das três últimas reuniões do Clube dos 13 - entidade que representa os principais clubes do futebol brasileiro - parte dos times dissidentes participou do encontro acontecido nesta terça-feira no escritório da entidade, na capital paulista. São Paulo e Corinthians foram à reunião, e o Flamengo não enviou representantes.

A pauta da discussão foi novamente os contratos de direito de transmissão das partidas do triênio 2009-2011 do Campeonato Brasileiro. Depois de terem definido os valores de TV aberta, foi a vez dos valores da transmissão em canais por assinatura serem decididos.

Foi acordado o pagamento de R$ 50 milhões por ano pela Globosat para a transmissão dos jogos pelo canal Sportv, além do total de R$ 370 milhões para o Pay-Per-View (R$ 110 milhões em 2009; R$ 125 milhões em 2010; e R$ 135 milhões em 2011). Se a arrecadação for superior, eles vão discutir mais para frente como será feita a divisão.

Mais uma vez, porém, os três clubes dissidentes não assinaram o acordo entre a entidade e a empresa que comprou os direitos. No entanto, eles vêem uma reaproximação das partes. "Nos disseram que alguns dos nossos pedidos foram aceitos e fomos à reunião para conferir", explicou Marcelo Portugal Gouveia, diretor de planejamento do São Paulo.

"Realmente houve algum avanço. No entanto, não assinamos mais uma vez. O São Paulo acompanhou o Corinthians, e vice-versa. Eles sempre quiseram a nossa reaproximação com a entidade. Vejo uma melhora, mas ainda falta muito para aceitarmos os termos colocados", completou o dirigente são-paulino.

Na primeira reunião do ano, a Globo assinou um novo contrato para a aquisição dos direitos de transmissão em TV aberta do triênio pagando R$ 220 milhões por temporada. Os três clubes discordam da forma que o dinheiro será rateado entre os clubes participantes da entidade.

FONTE: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2008/07/01/ult59u162705.jhtm

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Mídias da classe trabalhadora


STÉDILE, DO MST, CHAMA À CONSTRUÇÃO DE MÍDIAS DA CLASSE TRABALHADORA

Por Arthur William e Raquel Júnia, da redação

Em entrevista concedida ao Boletim do NPC e ao Fazendo Media, o membro da coordenação nacional do MST João Pedro Stédile deixa claro o acúmulo que o Movimento tem sobre a comunicação. Aos estudantes de jornalismo Arthur Willian e Raquel Júnia, Stédile fala no almoço, entre uma garfada e outra, sobre o papel do estudante, sobretudo de jornalismo; a necessidade de se construir mídias da classe trabalhadora e a atuação dos meios de comunicação da burguesia.

Para João Pedro, não deve haver obrigatoriedade de diploma para ser comunicador. A entrevista foi feita após a participação de Stédile no Congresso dos Trabalhadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), no dia 6 de maio.

O senhor comentou sobre essa questão da mídia assumir hoje o papel de disseminar a ideologia da classe dominante. A solução a esse contexto seria a criação de uma mídia da classe trabalhadora?

João Pedro Stédile - Quando a sociedade brasileira estava ainda sob a égide do capital industrial, os trabalhadores tinham diversas formas de organização social, tinham o sindicato, a associação de bairro, o partido e a escola. O capital industrial reproduzia a sua ideologia, a sua hegemonia, a sua forma de ver o mundo nesses espaços onde a classe trabalhadora estava organizada.

O capital dirigia a escola, dirigia o sindicato e influenciava por aí o partido porque os partidos nasceram na República não só para eleger pessoas, mas para reproduzir o projeto da burguesia. Agora nós estamos em uma outra etapa do capital, em que ele usa outras formas de dominação. Basicamente é o capital financeiro, são as empresas internacionalizadas, e para esse capital financeiro e para as empresas internacionais é muito difícil dirigir ideologicamente os trabalhadores porque, inclusive, eles não estão mais organizados como antes.

Aqui mesmo, no Brasil, só 51% da população economicamente ativa tem carteira assinada, isso significa que a metade dos trabalhadores está dispersa no trabalho informal, sem nenhuma forma de organização.

Nessa etapa que ficou mais conhecida como neoliberalismo, como o capital reproduz a sua forma de ver o mundo? Através da televisão, dos grandes meios de comunicação, jornal e revista mais para a classe média, pequena burguesia, setores intelectualizados, das universidades, e a televisão e o rádio para a grande massa, que agora está dispersa.

Então, o balanço crítico que nós fizemos, as reflexões que temos com esses setores que acompanham mais a imprensa, é que a grande imprensa se transformou em uma arma poderosa na mão do capital. Primeiro porque ela não se preocupa com a neutralidade da informação, ela usa a informação como uma mercadoria, então, ela tem que ganhar dinheiro vendendo uma idéia.

O segundo problema é que a imprensa virou um monopólio, sete ou oito grupos no Brasil, nos Estados Unidos, no Japão, na Europa. Esse monopólio é importante para a classe dominante porque é a maneira deles controlarem; por isso é que no Brasil, quando algum jornal resolve nos atacar, todos atacam porque é um monopólio.

O terceiro fato é que a imprensa está misturada com grandes grupos econômicos, não são mais aquelas famílias, aqueles jornalistas históricos, nem sequer são os Marinho, os Marinho são frutos do período anterior. Agora a grande imprensa se mistura como grupo econômico, em todos os grupos econômicos do capital financeiro e internacional.

Não é por nada que a Abril foi vendida para um banco da África do Sul, não é por nada que a Telefônica tem ações na Folha, e assim sucessivamente, ou seja, o grande capital controla por meio de acumulação.

Bem, para fazer frente a isso, é preciso primeiro que a classe trabalhadora se conscientize, saia daquela visão, daquela ilusão de que a imprensa é democrática, republicana, ouve os dois lados e é neutra e ao mesmo tempo construa novos meios de comunicação. Esses novos meios têm que representar em primeiro lugar um avanço em termos democráticos, ou seja, eles têm que levar a informação mais ampla possível para as massas. Segundo, tem um componente ideológico que é explicar o mundo e os fatos pelo olhar dos trabalhadores.

Então não seria uma imprensa neutra?

João Pedro Stédile - Tampouco é uma imprensa neutra. Isso no ideológico, mas ela tem que ser democrática no sentido de apresentar as várias formas que a classe trabalhadora tem de interpretar o mundo, também não há uma só visão da classe trabalhadora de ver o mundo. Há várias visões, então nisso ela tem que ser plural, não pode ser única, mas ela tem que ser um olhar das maiorias da classe trabalhadora.

E combater o uso da imprensa como mercadoria, como forma de ganhar dinheiro, de explorar, que é isso que está, inclusive, na base das distorções dos próprios profissionais de imprensa, que reproduziu a mesma desigualdade social nos meios de comunicação. Os editores que são os zeladores da linha editorial ganham fortunas. Uma editora aqui no Brasil ganha mais do que nos Estados Unidos e na Europa. E por outro lado, como vocês dizem, os foquinhas, os repórteres recém formados, ganham salários abaixo do que a classe trabalhadora humilde ganha – mil e duzentos reais, três salários mínimos – isso não é nada.

O senhor mencionou a televisão, mas talvez esse meio, juntamente com o rádio, apresente dificuldades maiores para que seja de fato da classe trabalhadora, por causa da legislação restritiva e outros fatores. Quais seriam os caminhos, então, para construirmos efetivamente essa mídia da classe trabalhadora?

João Pedro Stédile - Eu acho que a maior restrição da televisão é o poder econômico mesmo, porque no caso brasileiro, inclusive o território é grande, para você chegar a amplas massas tem que ter canais de difusão potentíssimos, que custam milhões de dólares, e isso a classe trabalhadora não tem. Mas para a nossa sorte aquela forma da classe dominante de usar os meios de comunicação tem contradições também, não é assim, passe de mágica.

Tudo no mundo tem contradições e uma das contradições da televisão é que ela é efêmera, ela te dá uma informação e tu esqueces porque tu viras um espectador. A segunda contradição é que a juventude já cansou, a juventude sempre quer mudar, então entre quatorze e vinte e oito anos os índices da audiência são baixíssimos, são ridículos; a televisão hoje consegue influenciar ideologicamente as camadas de maioridade, acima de 50 anos, e abaixo de dez anos. Então, a juventude procura outras alternativas, e isso é positivo para nós.

Agora, a segunda parte da sua pergunta, essas mudanças em construir outros e novos tipos de comunicação, essas mudanças para deixar a nossa sociedade mais democrática, não aconteceram separadas das mudanças gerais da sociedade. Só vão acontecer quando o Brasil fizer um grande movimento de massas que derrote o neoliberalismo, derrote o capital financeiro e o capital internacional, ou seja, derrote essa forma de dominação do capital.

Com isso então abrirá espaços para mudanças estruturais na sociedade brasileira nos vários campos, abrirá espaços para termos uma educação universalizada para todo o jovem entrar na universidade, abrirá espaço para todo mundo ter direito à sua casa, uma moradia digna, abrirá espaço para a reforma agrária e abrirá espaço, então, para que a sociedade organize de uma maneira diferente a forma de se comunicar.

A TV Brasil, chamada de TV Pública, atende essa demanda dos movimentos sociais ou está aquém disso?

João Pedro Stédile - A TV pública é uma boa iniciativa no sentido do estado chamar para si, sem ser governamental. Mas se o Estado, o público no Brasil, ainda é dominado pelo capital financeiro e internacional, o espaço de manobra da TV Pública, embora na sua origem a idéia é boa, vai ser limitadíssimo. Porque o estado é que vai controlá-la, não são os movimentos sociais, e o estado está sob a hegemonia ideológica e do poder econômico do capital financeiro e internacional. Então eu acho que é uma idéia que só vai alcançar plenitude quando houver essas outras mudanças que eu falei, quando houver mudanças do modelo econômico do Brasil.

Paralelamente eu poderia comparar com a Petrobrás. A Petrobrás é uma empresa estatal, embora já metade do seu capital seja estrangeiro; na idéia é importante, o petróleo que é uma energia importante tem que estar sob o controle do estado para beneficiar a todos, mas o jeito que o capital financeiro fez, manteve 51% da administração do estado e se apropriou das ações para ter o lucro da Petrobrás.

Então a Petrobrás do jeito que está hoje apenas reproduziu o modelo do capital financeiro, ela não serve. Ah, então você é contra a Petrobrás? Não, mas eu acho que a idéia boa da Petrobrás só vai se realizar em plenitude quando tivermos um outro modelo econômico, que reorganize a economia para atender as necessidades da população, aí sim vai ser fundamental termos uma empresa pública como a Petrobrás a serviço do povo.

Qual deve ser o papel dos comunicadores com vistas a esse novo modelo? Só para complementar a pergunta, o senhor é a favor da obrigatoriedade do diploma para jornalista?

João Pedro Stédile - Não faz sentido, todo o povo se comunica. É claro que existem técnicas de você fazer o melhor, mas as pessoas não necessariamente podem dominar essas técnicas em um banco escolar. Eu acho que nós devemos estimular que todos os militantes sociais sejam comunicadores, que eles escrevam notícias, que eles falem, que eles saibam editar um programa de rádio.

Sem desmerecer o papel que a universidade como um centro acadêmico tem de aprimorar as técnicas, de preparar profissionais mais capacitados, mas esse papel não pode ser exclusivo, sobretudo porque a comunicação é, acima de tudo, um direito, uma forma de expressão cultural do povo, então não pode ser restrita a alguns profissionais só porque tem o diploma.

Mas então qual seria o diferencial dessa pessoa que tem um diploma, uma formação acadêmica, dos demais comunicadores populares, diríamos?

João Pedro Stédile - Eu acho que ele tem muitas funções em um outro modelo, ele pode ajudar a formar melhor os comunicadores populares que não têm formação acadêmica, ele pode aprimorar a técnica nas redações, nas rádios, ele pode contribuir para que as coisas sejam feitas de uma maneira mais profissional, mas não pode ser exclusiva dele essa missão.

Vou comparar com outro exemplo, para você pregar uma doutrina religiosa não precisa ser padre, não precisa ter o título de teólogo, qualquer pessoa se estudar um pouco, ler, pode ser um pregador de uma idéia religiosa, e para isso não precisa ser teólogo. E às vezes os melhores pregadores são os pregadores populares que dominam a cultura. Isso não quer dizer que não é necessário teólogos, eles vão se aprimorar, vão fazer a exegese, no caso de vocês, como profissionais da comunicação, vão fazer a exegese da luta de classe, vão interpretar melhor, mas não pode ser exclusivo de quem passa na universidade.

Essa seria, então, nossa função? Se o senhor estivesse em nossas universidades o que o senhor falaria para os estudantes de comunicação sobre a forma pela qual eles podem contribuir, por exemplo, para a luta do MST?

João Pedro Stédile - Não pretendo ser pedante, nem existe manual com regra, faça isso, faça aquilo. Mas eu acho que os estudantes de comunicação, assim como qualquer outro estudante universitário de outras carreiras, a sua missão principal na conjuntura atual, e é disso que nós estamos falando, é serem pessoas conscientes, terem conhecimento da realidade em que vivem.

Esse é o primeiro passo, deixar de ser alienado, de ser manipulado por outros, e isso as pessoas só adquirem com estudo, participando da luta social, vivenciando os problemas da nossa sociedade. É assim que as pessoas viram conscientes, ou seja, como vem do latim, conhecer a realidade, isso é que é ser consciente. Então esse é o primeiro passo, até porque os estudantes universitários são privilegiados na sociedade atual, só oito, dez por cento de jovens chegam às universidades, então, os que chegam deveriam ter a consciência de conhecer melhor a realidade e ajudar a organizar para que outras pessoas também se conscientizem para mudá-la.

Evidentemente que eu não estou colocando a responsabilidade de achar que os estudantes universitários vão mudar a realidade brasileira, isso é uma tarefa de milhões e do povo, mas os estudantes universitários, por serem um setor social privilegiado que tem acesso ao conhecimento, podem colocar os seus conhecimentos para ajudar a conscientizar outras pessoas e organizá-las.

Isso seria então a segunda missão histórica, embora nessa conjuntura, ajudar a conscientizar outras pessoas. E você ajuda de muitas formas, fazendo um boletim, fazendo um programa de rádio, fazendo uma reunião no centro acadêmico, fazendo uma reunião onde tu mora; as formas dependem do meio onde tu vive, e são infinitas, não há regras e nem grau de prioridade. Terceiro, como missão, eu acho que os estudantes de comunicação deveriam então contribuir também para levar essa leitura de que todos os movimentos e setores da classe precisam se comunicar, terem seus meios de comunicação.

E assim, com a sua profissão e a sua consciência, ajudar que a classe organize esses meios de comunicação para que ela se comunique com a base, com seus vizinhos e com a sociedade em geral. Tudo isso só tem um sentido se as pessoas obviamente se colocarem também, como missão histórica, de que querem lutar contra as injustiças e mudar a sociedade. Se você está satisfeito com a sociedade brasileira, com o jeito que ela funciona, então, as três missões anteriores não tem sentido nenhum. Então, faz parte também da missão do jovem consciente, se dispor a lutar para mudar a sociedade.

Tem uma música do Rappa que diz que “hoje eu desafio o mundo sem sair da minha casa”. As tecnologias permitiram uma pulverização da produção da mídia o que acabou sendo uma individualização, a pessoa que tem um computador pode produzir um vídeo, um 'blog', uma mídia qualquer, só que a recepção é muito menor, poucas pessoas ouvem as 'webradios', poucas pessoas acessam os 'blogs'. O que você acha desse fenômeno de facilidade de produção, mas também dificuldade de recepção dessa produção midiática?
João Pedro Stédile - É essa pluralidade que eu estava falando antes, eu acho que nós não podemos nos ater, 'ah o prioritário é isso ou aquilo', mas procurar potencializar todas as formas de comunicação. É claro que algumas são mais massivas, outras são mais individualistas, mas eu acho que na soma todas são importantes.

Mas também não é uma luta de Davi contra Golias, de um lado a grande imprensa, de outro, as pequenas imprensas alternativas, com dificuldades de financiamento e sem conseguirem ter uma audiência tão grande quanto a grande mídia.
João Pedro Stédile - Não se preocupe com isso, com você bem usou o exemplo bíblico, no final da história o Davi vai ganhar. Vocês são jovens e não viveram o período da ditadura militar, o período da ditadura militar foi ainda mais hegemônico do capital e dos meios de comunicação, tanto é que essa estrutura atual, se formou lá. Aí as pessoas que queriam mudar a sociedade, que queriam lutar contra a ditadura se sentiam ainda mais fracas, frágeis diante do tamanho do Golias.

Mas se você considerar que o que muda a sociedade é a consciência das pessoas, e que a consciência das pessoas não se compra, nem se vende, em algum momento as massas vão despertando, vão tendo conhecimentos que levam a elas se moverem contra as injustiças. E aí é que tu vê que tudo que você fizer para levar algum conhecimento para as massas é importante. O que eu acho é que nós devemos ser criteriosos nessa pluralidade dos meios de comunicação é com o foco para levar informação, levar consciência. Nesse sentido devemos priorizar os trabalhadores, os pobres.

Se você ficar fazendo comunicação de internet para informar outro pequeno burguês ou camada da classe média que já está acomodada, aí a sua comunicação não serve para nada porque ela vai ser uma comunicação pequeno burguesa, no fundo vai ser alienante. Aí seria unicamente pelo exercício de exercitar, para ser redundante, um meio de comunicação novedoso como a internet, como um blog. Então, eu acho que aí o diferencial não está no instrumento, mas para quem ele se dirige, tu pode fazer um bom programa de rádio para as massas populares, e pode fazer um programa de rádio muito bem feito mas uma porcaria, porque vai ser só para a classe média que está interessada na última moda de Paris.

Você pode fazer um bom programa jornalístico, explicando as tendências da moda, quais são os principais estilistas, qual foi o último lançamento em Paris, e ser um programa de rádio agradável, todo mundo ficar ouvindo, mas serve para que? Quem é que está ouvindo? Mais do que o instrumento é para quem se dirige. Então, se é para eu dar algum conselho eu daria esse: se preocupem em fazer comunicação que ajude a classe trabalhadora, que ajude os pobres, para que eles possam entender melhor o mundo, porque somente eles poderão transformá-lo. Não há outra força que possa transformar a sociedade, mudar a sociedade, deixar a sociedade mais progressista, mais democrática, mais justa, se não a força das massas organizadas.

O senhor pode comentar a atitude recente da companhia Vale do Rio Doce em entrar com uma ação na justiça contra o senhor...

João Pedro Stédile - Primeiro para os leitores ou ouvintes de vocês entenderem a natureza da nossa luta contra a Vale é preciso explicar que há dois tipos de luta que estão sendo travadas agora. Uma de caráter mais macro, mais político, que é a luta de todo o povo brasileiro para reestatizar a Vale, da qual o MST é um mero figurante. O plebiscito que consultou o povo do qual participaram cinco, seis milhões de pessoas, foi organizado por 280 movimentos, alguns locais, outros nacionais, participaram como mesárias de urnas, 150 mil pessoas, portanto é um movimento popular, cívico, e essa luta pela reestatização tem vários componentes.

Tem um componente jurídico, que nós já ganhamos uma sentença no Tribunal Regional Federal de Brasília anulando o leilão, tem componentes políticos, tem componentes sindicais porque a previdência do Banco do Brasil é dona de 15% das ações da Vale, a Caixa Econômica eu acho que também tem, então, até parcelas do movimento sindical estão envolvidas nesse processo, e essa luta vai ser prolongada. Não é uma luta do MST, é uma luta do povo brasileiro, quando vai ter um desfecho?

De novo, eu acho que vai ter um desfecho feliz para o povo com a reestatização da Vale, mas vai depender dessa re-ascenso do movimento de massas que leve a outras mudanças na sociedade brasileira. Para daí o povo se dar conta que os minérios e o subsolo não podem estar a cargo de uma empresa privada, tem que ser a velha Vale estatal, para que o lucro da Vale seja distribuído para todos os brasileiros e não só para os seus acionistas.

E há um outro contencioso com a Vale, que são os problemas localizados que a Vale, por suas operações econômicas cada vez mais buscando unicamente o lucro, tem afetado comunidades que tem relação com o MST. Vou citar três exemplos que são emblemáticos. Nós temos um assentamento em Açailândia, com 250 famílias, em uma fazenda de 10 mil hectares que nós ocupamos, foi desapropriada e as famílias estão lá há dez anos.

A Vale comprou uma fazenda vizinha, instalou uma carvoaria com 70 fornos industriais e aquela fuligem do carvão alterou o clima completamente, os companheiros não conseguem produzir mais na agricultura, nem arroz dá, e agora começou a dar doenças, então, está aí um conflito. Ou a Vale põe filtro, ou sai de lá, ou desapropria uma outra fazenda, mas do jeito que está as pessoas vão morrer. E essas pessoas têm direito, até porque chegaram antes no assentamento do Incra, a lutar contra a Vale, então essa carvoaria foi ocupada no dia 8 de março.

Outro exemplo, também relacionado com o 8 de março, a Vale está construindo com a Camargo Correia, uma hidrelétrica no Rio Tocantins, na região do estreito no Maranhão e Tocantins. Isso vai atingir 13 mil famílias, entre elas, três assentamentos nossos, três reservas indígenas, ribeirinhos, fazendeiros, quilombolas, tudo o que puder imaginar. A Vale não apresentou nenhum plano de reassentamento, as pessoas até se dão conta, “bom nós não vamos conseguir parar a barragem, né, mas e onde nós vamos morar? Qual é a terra? Para onde vão me levar? Quem vai me indenizar?”

Ninguém falou nada para essas pessoas, então, elas ocuparam o canteiro de obras, e exigiram um processo de negociação. A maioria delas nem é do Movimento. Então, se não resolver o problema do reassentamento, o conflito vai ser permanente, porque é a vida delas, é um problema de direitos humanos. Bem, depois a Vale tem outros contenciosos com outras comunidades, seja de garimpeiros, seja dos próprios trabalhadores que estão mais próximos do trem.

Essas comunidades que tem alguma demanda contra a Vale pararam o trem duas vezes. Eles param o trem como se fosse fazer uma greve, para forçar a Vale a negociar, e muitos desses movimentos que aconteceram lá no município onde está a Serra dos Carajás, a própria prefeitura local apoiou. Por que? Porque a Vale está devendo para a prefeitura de Paraopebas 500 milhões de reais em impostos atrasados. Isso não sai em lugar nenhum, está lá na dívida ativa da prefeitura, isso nos últimos dez anos, depois da privatização.

Então, nós temos três assentamentos nesse município, o prefeito puxa lá o balanço da prefeitura e diz “oh, não temos dinheiro, estamos em déficit, porque que nós estamos em déficit? Porque a Vale não pagou imposto”. Então a turma faz a associação: “vamos pressionar a Vale para pagar a prefeitura aí teremos escola”.

Claro, não precisa ser muito inteligente para isso. Estou eu um dia dando a aula magna no inicio do ano letivo na universidade e chega a oficial de justiça com uma intimação da juíza. A Vale entrou com um processo como se eu fosse o responsável por aquelas mobilizações, eu e o MST. A sacanagem é que esses processos em geral são demorados, mas em dois dias a Vale entrou, eles tem o maior escritório de advocacia do Rio, eu nem moro aqui, mas eles monitoraram tudo, sabiam que eu estaria na universidade, vieram, inclusive, com uma produtora de vídeo independente para filmar tudo, e me coagiram a assinar, embora não seja meu domicílio aqui, e ao assinar, pelos prazos legais eu tive só oito dias para contestar.

O mais absurdo é a natureza da ação. Eles alegam o seguinte: essas populações param o trem, a carvoaria e causam prejuízos econômicos, portanto, eu tenho que ressarci-los. E a multa por esses prejuízos econômicos, eles pediram inicialmente para a juíza, quinhentos mil reais por ação, a juíza no despacho da sentença já botou menos, cinco mil reais. Mas não é o problema do valor, o problema da natureza, ou seja, eu moro em São Paulo, toda a opinião pública sabe, qualquer sociólogo num primeiro ano de faculdade sabe que o movimento social decide as coisas por assembléia, eles que decidem o que fazer, quando fazer, como fazer, não é de minha responsabilidade.

Agora o mais grave é, você até pode ilustrar a sua matéria, compre a revista Exame dessa semana [5 a 11 de maio], a revista tem uma matéria que era para sair na Veja. A Veja tentou fazer aquelas páginas amarelas comigo, eu mandei eles tomarem banho. O editor da Veja, um tal de Alexandre me ligou, querendo me entrevistar para as páginas amarelas, aí nós explicamos para ele que o movimento não tem a prática de dar entrevistas para meios de comunicação mentirosos e não idôneos como é a Veja. A matéria, que é uma paulada no MST, que eu acho que ia sair na Veja, eles deslocaram para a Exame. Porque é a mesma linha, né, bem direitista.

A Vale fala na matéria que organizou um sistema de vigilância 24 horas sobre o MST e os movimentos, que inclui escuta telefônica, espionagem, acompanhamento das lideranças, filmagem, eles atribuíram a si agora o poder de polícia, o poder de estado, o poder de justiça, quem são eles para fazer isso. Eu acho que cabe um pedido de explicação judicial.

A ação continua correndo?

João Pedro Stédile - Sim, nossos advogados contestaram. A primeira contestação que nós fizemos foi a seguinte: meu domicílio é em São Paulo então o processo não pode ser aqui, ou é lá em Açailandia ou em São Paulo. Mas o Tribunal de Justiça do Rio, tão ponderado que é, diz que não, que pode ser aqui. Sabe-se lá porque né? Só porque passei aqui, poderia ter passado em Nova York. Então já por aí você vê as influencias.

No escritório de advocacia da Vale tem o ex-ministro Sepúlveda [Pertence], tem aquela mulher que era do BNDES que fez a privatização da Vale, a [Elena] Landau, então é um escritório poderoso. Tem filhos de ministros do supremo e, evidentemente, as influências que eles têm são enormes. Segundo passo, eles contestaram então a natureza da ação e isso está correndo. E os advogados me informaram que como na sexta-feira houve mais uma ação de garimpeiros na Vale, a Vale entrou com uma espécie de agravo no processo dizendo “estão vendo como ele não obedece” e pedindo para aumentar para um milhão.

O MST está preocupado com isso?

João Pedro Stédile - Nem um pouco, eu falei no dia que era uma idiotice, e falo agora de novo. Digo que é idiotice não para ficar ofendendo o poder judiciário, idiotice no sentido de falta de idéia da Vale, isso que é idiota, o cara que não tem idéia. Porque é obvio, qualquer pessoa que pensa um pouquinho, que tem idéia, deve se dar conta de que se há uma população que vai ser despejada por uma hidrelétrica da Vale, enquanto não for resolvido o problema dessa população, pode prender o João Pedro, pode botar multa, que a população vai continuar protestando.

Se há um assentamento sem terra ao lado de uma carvoaria e que as pessoas e as crianças amanhecem todo o dia tossindo, cuspindo cimento preto, é obvio que aquela população vai continuar protestando contra a Vale, não sou eu o responsável. Então, só tem uma maneira de resolver problemas sociais, se tu resolver, se não o problema vai continuar lá. Por isso é uma idiotice, no fundo o verdadeiro objetivo da ação judicial é amedrontar as lideranças, e dar uma resposta para os acionistas da Vale, “vejam como estamos tomando medidas energéticas”. Porque como devem ter vendido a imagem do Brasil para os acionistas estrangeiros que aqui é o paraíso, que voltou a ser colônia, ninguém reclama, aqui é Barbada, tu investe e só leva dinheiro de volta. Esqueceram de combinar com o povo!

O MST está participando do movimento pró Conferência Nacional de Comunicação. Quais as expectativas de vocês?

João Pedro Stédile - Em geral eu acho que nossa participação nesse tipo de evento é coadjuvante, nossos companheiros vão lá para se somar a esse esforço político de democratizar a comunicação e ao mesmo tempo trazer o acúmulo do debate que vai gerando para dentro do movimento. Mas nós não queremos ser hegemonia, nem dirigir, nem ter um papel vanguardista, por isso sempre ficamos mais na retaguarda aprendendo com esses companheiros que tem uma visão mais aprofundada, que tem uma clareza maior sobre quais são os caminhos para democratizar os meios de comunicação.