Com a crise financeira até banqueiros estão comprando e lendo(!) “O Capital”. O livro virou um best-seller. Motivo: entender como o capitalismo pode devorar a si mesmo, que é o que está acontecendo. Há 20 anos o capitalismo obteve uma vitória destruidora sobre o comunismo. Hoje, parece não poder se recuperar de sua vitória.
Flávio Aguiar
Pois é. Karl Marx e “O Capital” estão de volta. A notícia já correu o mundo, do Alaska à Patagônia, do Caribe ao Japão, através dos dois oceanos.
Mas o que ela significa ainda não. Fica oculta nas dobras da crise financeira que ora se abate sobre o planeta.
A notícia é a de que com a crise financeira até banqueiros estão comprando e lendo(!) “O Capital”. O livro virou um best-seller. Motivo: entender como o capitalismo pode devorar a si mesmo, que é o que está acontecendo. Há 20 anos o capitalismo obteve uma vitória destruidora sobre o comunismo. Hoje, parece não poder se recuperar de sua vitória.
Marx explica, sobretudo, que o Capital é um fetiche. Que além de criar a si mesmo, e procriar, como mãe que se auto-fecunda, ele cria uma imagem de si mesmo que fascina todos, e diante da qual todos se entregam. Foi, de um modo exacerbado, o que aconteceu nos últimos decênios. E por isso mesmo os que o cultuam perdem a capacidade de controla-lo, quer dizer, de controla-lo dentro de si mesmos.
Assim posto, o fenômeno de que as venda de “O Capital” de Marx triplicaram na Alemanha dos últimos dias não surpreende.
Mas há mais no estádio, dentro e fora. Na Alemanha, a preferência pela esquerda cresce. Sinais:
1) O Partido Social-Democrata, o SPD, escolheu no ano passado um jovem político como novo líder, Kurt Beck. Descrito como “populista” (pela imprensa liberal e conservadora), Beck se opunha à tendência direitista que empalmara o partido nos anos 90, e que se consagrara recentemente, quando o SPD passou a integrar uma coalizão com a CDU (União Democrata-Cristã), para governar o país numa condição minoritária.
2) A resistência no SPD foi enorme. O partido ameaçou rachar. Resultado: com a pressão da cúpula, apesar do apoio das bases, Beck renunciou ao cargo, em função de lançar a candidatura de um político com perfil mais conservador ao cargo de líder e de futuro primeiro ministro (se o partido obtiver maioria no parlamento nas eleições do ano que vem).
3) Paralelamente, dissidentes do SPD e remanescentes do Partido Comunista da DDR (Alemanha Oriental) fundaram o partido Die Linke, A Esquerda, que vem crescendo e ganhando adeptos em toda a Alemanha. O partido cresce em intenções de voto. Informes extra-oficiais dizem que na antiga DDR ele já contaria com 30% das opções.
4) Os jovens precisam, e manifestam cada vez mais, uma ponte com o seu passado histórico. Isto compreende os jovens da parte oriental da Alemanha, que cada vez mais rememoram o mundo comunista como um de pleno emprego, e os da parte ocidental, que, no fundo, percebem a mesma coisa.
5) Com os mais velhos acontece o mesmo. Sentem-se “roubados” dentro da cena capitalista, que lhes roubou empregos e com eles o sentimento de dignidade.
Portanto, o que se pode concluir é que a presente crise, se não arranhou o poder do capital, arranhou sua imagem-fetiche. E que o Velho Marx está de volta. Até porque não é tão velho assim.
Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.
FONTE: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4014&boletim_id=479&componente_id=8431
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