quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Poesia Premonitória

Elegia 1938
Carlos Drummond de Andrade


Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.

Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século, a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

5 comentários:

Unknown disse...

Bonita poesia!
Gostei do blog.

DCE disse...

Oi prof!!! só agora conheci o blog e adoreeeeeeei. Um pouco de poesia que nos faz refletir... e ainda informaçoes muito interessantes! beijo e sinto saudade! até mais

DCE disse...

ah naum sei porque saiu o nome dce axo que por causa do nosso blog... mas aki é ILNAH hehehehehe

Anônimo disse...

Oi Bambam, muito legal o Blog, vou recomendar. Parabéns.

Anônimo disse...

Entrei e gostei...estou sem tempo de escrever como gostaria, mas gostei bastante do blog.
Parabéns.