Bebidas energéticas estão associadas a comportamento de risco entre adolescentes
Tara Parker-Pope
Pesquisadores da área de saúde identificaram um novo e surpreendente indicador para comportamento de risco entre adolescentes e jovens adultos: bebidas energéticas.
Energéticos com altas doses de cafeína, como Red Bull, Monster, Amp (no Brasil, Burn e Flying Horse), cresceram em popularidade na última década. Cerca de um terço dos jovens entre 12 e 14 anos afirma tomar bebidas energéticas regularmente, o que corresponde a mais de US$ 3 bilhões em vendas anuais nos Estados Unidos.
A tendência tem gerado crescente preocupação entre pesquisadores da área de saúde e profissionais de educação. Em todo o país, a bebida tem sido associada a relatos de náusea, batimentos cardíacos anormais e entradas nas emergências dos hospitais.
Em Colorado Springs, muitos estudantes do ensino médio ficaram doentes no ano passado depois de tomar Spike Shooter, uma bebida com alta concentração de cafeína, levando o diretor do colégio a banir as bebidas. Em março, quatro estudantes do ensino fundamental em Broward County, Flórida, foram parar na emergência com palpitações no coração e sudorese depois de beber o energético Redline. Em Tigard, Oregon, professores enviaram este mês aos pais de alunos um e-mail alertando que os estudantes que levavam energéticos para a escola estavam "literalmente alterados pela agitação da cafeína ou se recuperando de um choque de cafeína".
Novas pesquisas sugerem que as bebidas estão associadas a uma questão de saúde muito mais preocupante do que os efeitos de agitação da cafeína - cujos riscos são aceitáveis.
Em março, o Journal of American College Health publicou um relatório sobre a ligação entre bebidas energéticas, atletas e comportamento de risco. A autora do estudo, Kathleen Miller, pesquisadora sobre vício da Universidade de Buffalo, afirma que o estudo sugere que o alto consumo de bebidas energéticas está associado a comportamentos típicos de usuários de drogas, um conjunto de comportamentos agressivos e arriscados que inclui sexo sem proteção, abuso de substâncias e violência.
A descoberta não significa que as bebidas causam mau comportamento. Mas os dados sugerem que o consumo regular de bebidas energéticas pode ser um sinal de alerta aos pais de que seus filhos têm mais tendência a assumir riscos para sua saúde e segurança. "Parece que os jovens que tomam muito bebidas energéticas têm mais tendência a assumir riscos", disse Miller.
A American Beverage Association (Associação Americanas de Bebidas) afirma que seus membros não comercializam bebidas energéticas para adolescentes. "O público-alvo são adultos", disse o porta-voz Craig Stevens. Ele afirma que a venda está direcionada às "pessoas que realmente podem pagar os dois ou três dólares pelo produto".
As bebidas possuem uma variedade de ingredientes em diferentes combinações: estimulantes naturais como guaraná, ervas como ginkgo e ginseng, açúcar, aminoácidos, incluindo taurina, e também vitaminas.
Mas o principal ingrediente ativo é a cafeína.
A dose de cafeína varia. Uma porção de 340 gramas do energético Amp contém 107 miligramas de cafeína; a mesma quantidade de Coca Cola ou Pepsi tem de 34 a 38mg. O energético Monster tem 120mg de cafeína e o Red Bull tem 116mg. A mais alta concentração é a do Spiker Shooter, que contém 428mg de cafeína em cada 340 gramas, e o Wired X344, com 258mg.
Steve ressalta que as bebidas energéticas mais conhecidas geralmente têm menos cafeína do que uma xícara de café. Na Starbucks, a dose de cafeína varia segundo a bebida, de 75mg em um cappuccino ou latte de 350ml, até 250mg em um café de 350ml passado no coador.
Uma preocupação em relação a essas bebidas é que, pelo fato de serem servidas geladas, podem ser consumidas em grandes quantidades e mais rapidamente do que bebidas quentes como café, que são bebericadas. Outra preocupação é a crescente popularidade da mistura de energéticos com álcool. A adição de cafeína pode fazer usuários de álcool se sentirem menos bêbados, mas a coordenação motora e o tempo de reação visual são tão prejudicados quanto quando bebem álcool puro, segundo um estudo de abril de 2006 publicado no informativo médico Alcoolismo: Pesquisas Clínicas e Experimentais.
"Você fica 100% bêbado do mesmo jeito, só que um bêbado acordado", disse drª. Mary Claire O'Brien, professora associada dos departamentos de medicina emergencial e serviços de saúde pública da Wake Forest University Baptist Medical Center, em Winston-Salem, na Carolina do Norte.
O'Brien pesquisou o uso de álcool e bebidas energéticas entre estudantes universitários em 10 universidades na Carolina do Norte. O estudo, publicado este mês na Academic Emergency Medicine, mostrou que estudantes que misturaram energéticos com álcool ficaram bêbados com duas vezes mais freqüência do que aqueles que consumiram só álcool, e tiveram uma tendência muito maior a se machucarem enquanto estavam embriagados ou necessitaram tratamento médico durante a bebedeira. Pessoas que misturaram energéticos com álcool tiveram maior tendência a ser vítimas ou protagonistas de comportamento sexual agressivo. O efeito permaneceu mesmo depois que os pesquisadores controlaram a quantidade de álcool consumida.
Fabricantes de bebidas energéticas afirmam não encorajar os consumidores a misturá-las com álcool. Michelle Naughton, porta-voz da PepsiCo, que comercializa o energético Amp, disse: "Esperamos que os consumidores apreciem nossos produtos com responsabilidade."
Tradução: The New York News Service
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2008/06/13/ult574u8561.jhtm
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