quarta-feira, 23 de abril de 2008

Mudança no fuso horário: o retrato de um poder sem limites
Venício A. de Lima - Publicado originalmente no Observatório da Imprensa em 22/4/2008

Até mesmo aqueles que conhecem a história da radiodifusão privada e sabem que na sua regulação – apesar de ser um serviço público concedido pelo Estado – sempre tem prevalecido o interesse dos radiodifusores, não deixaram de se surpreender.

O Congresso Nacional aprovou, na noite da sexta feira (11/4), projeto de lei que reduz de quatro para três os fusos horários no país e altera os efeitos da portaria da Classificação Indicativa no Acre e demais estados do Norte.

Como no Brasil os grandes grupos de comunicações são multimídia, isto é, abarcam empresas de radiodifusão (rádio e televisão), jornais e revistas, o lobby do setor se torna aqui mais robusto do que em outros países. E a cada nova vitória, naturalmente, esse lobby aumenta seu cacife para fazer pressão tanto junto ao Executivo quanto ao Legislativo.

Um pouco de história

O exemplo mais conhecido do poder dos radiodifusores talvez seja a derrubada, pelo Congresso Nacional, de todos os 52 vetos que o então presidente João Goulart impôs ao projeto de lei que viria a se transformar no CBT – Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4.117/1962). A ampla articulação de empresários de radiodifusão e parlamentares que permitiu tamanha façanha foi liderada pelo então diretor-geral dos Diários e Emissoras Associados, João Calmon (já falecido), e dela resultou a criação da Abert – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, da qual ele se tornou o primeiro presidente.

Decorridos mais de 45 anos, o CBT (excluída a regulação da Lei Geral de Telecomunicações – Lei 9.472/1997) continua sendo a norma básica que rege a radiodifusão no Brasil e alguns dos seus vetos derrubados e omissões tornam a radiodifusão brasileira singular em todo o mundo: a duração das concessões de 15 anos para emissoras de TV e 10 anos para emissoras de rádio; a renovação automática das concessões e a ausência de qualquer norma que proíba a propriedade cruzada dos meios de comunicação.

Desde a promulgação do CBT em 1962, no entanto, são inúmeras as ocasiões em que o poder dos radiodifusores prevaleceu.

Na Constituinte de 1987-88, por exemplo, a "bancada da comunicação" conseguiu incluir normas que diferenciam a radiodifusão de outras concessões de serviço público: as concessões e suas renovações têm que ser aprovadas pelo Congresso Nacional, onde os grupos de mídia têm expressiva representação; o cancelamento das concessões só pode ser feito por decisão judicial e a não-renovação exige votação nominal de, no mínimo, dois quintos dos deputados e senadores. O Conselho de Comunicação Social, que deveria ser um órgão regulador, tendo como referência a Comissão Federal de Comunicações americana (FCC), se transformou num mero auxiliar do Congresso Nacional que, aliás, há quase dois anos sequer se reúne.

Por outro lado, nunca lograram ser regulamentados – e, portanto, não são cumpridos – os dispositivos da Constituição de 1988 que rezam não poder os meios de comunicação, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio; e que determinam a regionalização da produção cultural, artística e jornalística, a promoção da produção independente e a complementaridade entre os sistemas privado, público e estatal.

A lista das "vitórias" dos radiodifusores é longa. Lembro outras: a implantação das TVs pagas via satélite (DTH) e MMDS antes da existência de qualquer regulação; a norma restritiva e excludente das rádios comunitárias (Lei 9.612/1998); a interrupção do processo de transformação da Ancine em Ancinav; a escolha do padrão japonês para a TV digital que frustrou o potencial de democratização das concessões; na Lei 11.652/2008, que criou a Empresa Brasileira de Comunicação, o veto do presidente da República ao artigo que obrigava as emissoras de TV comerciais a entregar à TV pública os sinais de jogos de seleções nacionais contratados com exclusividade e não transmitidos em seus canais; e as recentes modificações do relator no substitutivo do PL 29/2007 em tramitação na Câmara dos Deputados, em relação às cotas de programação do conteúdo nacional na TV paga.

É ainda o interesse dos radiodifusores que tem impedido a materialização de um projeto de Lei Geral da Comunicação Eletrônica de Massa para regular o setor de forma integrada e coerente, contemplando a revolução digital e a conseqüente convergência tecnológica entre telecomunicações, comunicação de massa e informática.

A mudança nos fusos horários

Não creio, todavia, que o poder dos radiodifusores jamais tenha se manifestado de forma mais contundente e acintosa do que na recente aprovação do projeto do senador Tião Viana (PT-AC), apenas quatro dias após a entrada em vigor da Portaria 1.220/07 determinando que as emissoras de TV adaptem suas transmissões aos diferentes fusos horários do país em função da Classificação Indicativa. Note-se que, por pressão dos radiodifusores, houve cinco adiamentos da data para a entrada em vigor da portaria no período de 9 meses.

Quando se convenceram que não seria mais possível alterar a própria portaria, os radiodifusores passaram a trabalhar pela aprovação do projeto que muda os fusos horários.

O projeto de lei, apresentado em 2006, foi aprovado no Senado no início de 2007 e encaminhado à Câmara dos Deputados. Durante a tramitação na Câmara houve forte pressão da Abert, expressa pela deputada Rebecca Garcia (PP-AM), vinculada à TV Rio Negro Ltda. (afiliada da Rede Bandeirantes), que defendia a existência de um único fuso horário em todo o país. Foi da deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) – esposa do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), ambos vinculados à Rede Brasil Amazônia de Televisão Ltda. (RBA, afiliada da Rede Bandeirantes) – a alteração determinando que o estado do Pará tenha somente um fuso horário (hoje tem dois). Com essa modificação o projeto voltou para o Senado, onde foi novamente aprovado.

A jornalista Laura Mattos, em matéria publicada na Folha de S.Paulo ("Lobby das TVs está por trás da mudança", 15/4) relata que "o lobby [das emissoras de TV] era tão claro que, na segunda passada [7/4], quando a obrigatoriedade de respeito aos fusos entrou em vigor, a Record, questionada pela Folha sobre quais alterações faria, disse aguardar `a tramitação do projeto de lei que iguala o fuso horário do Acre ao do Amazonas´".

Vale ainda registrar que um dos argumentos que têm sido usado pelos defensores da mudança do fuso horário no Congresso – e, de forma velada, pelos próprios radiodifusores – é que a Portaria 1.220/07 impediria a população do Norte de assistir ao vivo os jogos de futebol realizados no Sul do país. Obviamente esse argumento é falso porque a classificação indicativa do futebol é livre e não impede, portanto, sua transmissão ao vivo.

Interesse privado vs. interesse público

O projeto de lei que altera os fusos horários ainda terá que ser sancionado pelo presidente da República, o que o líder do governo no Senado garante acontecerá nos próximos dias.

Será que o interesse dos radiodifusores privados sempre coincide com o interesse público e, portanto, não há qualquer problema que prevaleça?

Será que é assim mesmo que funciona nas democracias: os grupos que reúnem mais força política devem sempre decidir o rumo das políticas públicas?

Ou será que a anedota "no Brasil, a televisão não é uma concessão do Estado, o Estado que é uma concessão da televisão" tem um fundo de verdade?

Ou será que o interesse público, mais uma vez, deixará de ser atendido para que prevaleçam os interesses privados dos radiodifusores, concessionários do serviço público de rádio e televisão?

terça-feira, 22 de abril de 2008

O inconfidente do futebol

Por EUDES JUNIOR*


21 de abril. Feriado nacional. Dia de herói. Do culto à memória em um país que, tantas vezes, insiste em esquecer os seus.

Herói mineiro. A torcida era pela sobrevivência, mas como sempre há uma data para o adeus, Telê Santana não poderia ter partido em outra tão simbólica. Como Tiradentes na luta pela independência. Como Tancredo Neves, no período da redemocratização.

21 de abril de 2006. Sexta-feira. Véspera de mais uma rodada do Brasileirão, o campeonato que Telê foi o primeiro a levantar. O maior título da história do Atlético. Aliás, ninguém comandou o alvinegro de Minas tantas vezes quanto ele: foram 434 partidas e mais de 270 vitórias.

Primeiro, maior, único. A carreira de Telê pode ser descrita em superlativos. Exatamente como a sua vida. À imagem e semelhança do homem que dedicou seu tempo e ofereceu a própria saúde para dar dignidade e alegria à grande paixão dos brasileiros.

Se for verdade que os números não mentem, talvez eles possam comprovar a tese de que Telê, no banco, foi incomparável. Montou times inesquecíveis, como a mágica seleção que perdeu a Copa de 82, mas conquistou o mundo para sempre. Fabricou craques, como Cafu, o lateral e capitão do penta que era meio-campo e não sabia cruzar. Como Raí, destinado a ser apenas o irmão de Sócrates e que se transformou no segundo doutor da bola de uma família iluminada. Capitão do São Paulo de Telê bicampeão da América e do mundo, no melhor momento da história tricolor.

Outro tricolor, bem antes, arrebatou o coração de Telê. Pelo Fluminense, clube que aprendeu a amar e para o qual torcia, o mineiro mais famoso da simpática Itabirito, disputou 522 jogos, marcou 151 gols, ganhou 2 títulos estaduais (50, 59) e, por duas vezes, o Torneio Rio-São Paulo (57, 60). Foi o primeiro ponta a recuar para buscar jogo e ajudar na marcação. Já era moderno na agora distante década de 50. É titular da seleção de todos os tempos daquelas "três cores que traduzem tradição".

Foi a tradição do futebol brasileiro que Telê respeitou e honrou. Não aceitava chutões na bola, muito menos no adversário, qualquer que fosse. O único a exigir tamanha lealdade e espírito esportivo, no testemunho de Zico, o 10 de Telê. Telê que era capaz de perder jogos e títulos, mas nunca a dignidade e a vontade inigualáveis de dar ao público o verdadeiro espetáculo.

Rígido em seus valores, firme em seus propósitos, atacou os cartolas corruptos, os maus árbitros, os gramados ruins, as filas pra comprar ingressos, os banheiros sujos, falta de estacionamentos e perigos dos estádios. Com seus times no ataque, o tempo todo, Telê defendeu com primazia e convicção o futebol-arte que tanto admirava e promovia. E que levou, e o levou, aos 4 cantos do mundo. Que fez dele o primeiro e único, até hoje, a conquistar os campeonatos estaduais dos 4 principais centros do futebol brasileiro: o carioca de 69 com o Fluminense, o mineiro de 70 e 88 com o Atlético, o gaúcho de 77 com o Grêmio e o paulista com o São Paulo, em 91 e 92.

Cansado das falcatruas, da falta de um calendário, das disputas viris, do combate ao talento e das armações de um meio tão fascinante quanto ingrato, Telê adoeceu. Talvez de tristeza, talvez de decepção. E, certamente, por nunca trair seus princípios éticos. A retidão de seu caráter o colocou em outro patamar: o de um homem que costumava estar sempre do lado certo. Das coisas certas, das causas justas.

Quis e não pôde formar e treinar times até o fim da vida. Quis e não pôde assistir aos jogos dos seus times da arquibancada, como o torcedor que tanto prezou até o fim da vida. Até o fim. Expressão que Telê se viu obrigado a enfrentar, até o fim. A fama de ranzinza, de teimoso e de pão-duro do homem que dava valor a cada centavo seu e dos outros. Dos clubes e das torcidas, como poucos dirigentes e jogadores são capazes de fazer. Do homem que persistia no desejo de ver dribles e gols.

Na tabela da habilidade com a ousadia, Telê ainda está à frente do tempo que era seu e que não deveria ter acabado tão cedo. Azarados somos nós, Telê, que ficamos na mesmice da mediocridade sem você. Obrigados a ver os piores momentos no intervalo porque os melhores não prevalecem nem são tão bons. Ai de nós, Telê, que suportamos nossos gênios na Europa ou nos limitamos a viver de arquivo, de videoteipe. Na nossa lembrança você é gol na certa, um fio de esperança, esbelto e decisivo a fazer barulho na rede e nas arquibancadas. Um fio de esperança que, até o fim, enfrentou corajosamente a doença e que morreu como sempre viveu: sem medo de perder, em busca de mais uma vitória, de um sorriso que fosse coletivo. Que significasse a vantagem do talento sobre um resultado a qualquer preço, a supremacia da competência sobre a força, do esporte sobre o negócio.

21 de abril de 2006. Nesse dia, em Belo Horizonte, veio a notícia que ninguém queria dar nem ouvir. Na capital do estado que levanta a voz e a bandeira da liberdade preconizada pelos ideais de homens que, ainda que tarde, venceram e convenceram. Como seus times em campo e você na vida e, até o fim, também na morte.

Com a mesma emoção, com a mesma valentia, com a mesma sabedoria. A sabedoria de um homem que virou mestre. Na arte de viver, na missão de conviver com a vitória e com a derrota, com a glória e o fracasso.

Como um fio de esperança para milhões de apaixonados que, por sua causa, puderam cantar a alegria de chegar lá. Puderam gritar, confiantes e felizes, a palavra que tão bem define o jogador, o técnico, o homem, o mito Telê Santana: campeão.

Na finitude da vida, nossa única certeza, você tornou-se eterno, após um minuto de silêncio repetido dezenas de vezes e aplausos intermináveis. Na memória de um povo e de um esporte que caminham de mãos dadas, você é imortal. Como o grande campeão que sempre foi. Como mineiro heróico e militante. O Inconfidente do Futebol.


*Eudes Junior é jornalista.

POSTADO DO BLOG DO JUCA

http://blogdojuca.blog.uol.com.br

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O intrincado quebra-cabeça da saúde do trabalhador

O maior estudo já conduzido sobre saúde no local de trabalho está aplicando técnicas de última geração para investigar uma aparente concentração de casos de câncer – e mostrando por que a ciência nem sempre nos protege no trabalho

por Carole Bass

No tempo de John Shea e John Greco a cavernosa fábrica da Pratt & Whitney Aircraft era coberta por uma névoa oleosa que exalava da máquina de amolar, revestindo o teto e cobrindo os trabalhadores. Eles voltavam para casa encharcados de óleo. Fossas de remoção de gordura, cheias de solvente para limpar peças de motor, se espalhavam pelo chão da fábrica; os trabalhadores usavam latas de solvente para limpar mãos e roupas. Shea passou 34 anos amolando lâminas e pás de motor na fábrica de quase 93 mil m2 em North Haven, Connecticut, Estados Unidos. Em 1999, aos 56 anos, recebeu o diagnóstico de câncer no cérebro. Seis meses depois, seu amigo e colega de trabalho Greco descobriu que estava com a mesma doença: glioblastoma multiforme (GBM), o tipo mais agressivo de tumor cerebral. Um ano após o diagnóstico de Shea, ambos estavam mortos, mas as viúvas já se perguntavam sobre o número aparentemente incomum de casos dessa forma letal de câncer na fábrica de um dos maiores produtores de motores de jato do mundo.

O que começou em 2001 como uma investigação sobre um aparente agrupamento de casos de câncer no cérebro em North Haven – 13 casos de tumor cerebral maligno primário entre os trabalhadores, 11 deles glioblastoma, apenas na década anterior – tornou-se o maior estudo de saúde no trabalho já conduzido. Uma equipe liderada pelos pesquisadores Gary Marsh, da University of Pittsburgh, e Nurtan Esmen, da University of Illinois em Chicago (UIC), está engajada para resolver um complexo quebra-cabeça: primeiro, os pesquisadores têm de rastrear um número ainda desconhecido de casos de câncer no cérebro entre quase 250 mil funcionários de oito fábricas da Pratt & Whitney por um período de 50 anos e então determinar, se possível, o que pode ter provocado o tumor, fazendo uma reconstituição das exposições dos trabalhadores a uma miríade de agentes potencialmente tóxicos. O grupo espera publicar os resultados preliminares entre meados deste ano e o próximo.

A tarefa de Marsh e Esmen ilustra a dificuldade de estudar a epidemiologia do local de trabalho, envolvendo múltiplas exposições em várias fábricas. A capacidade dos pesquisadores de fornecer respostas concretas sobre o que aconteceu com os trabalhadores no passado também será limitada por um entendimento científico incompleto, tanto acerca dos desencadeadores de tumor cerebral quanto sobre a toxicidade de muitas substâncias químicas usadas no setor. O estudo poderia esclarecer ambos os assuntos utilizando as técnicas disponíveis mais sofisticadas. A investigação também destaca o fato de que determinar níveis seguros de exposição a substâncias tóxicas no local de trabalho permanece um desafio ainda hoje.

O National Institute for Occupational Safety and Health (Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional) dos Estados Unidos estima que quase 49 mil americanos morrem de forma prematura todos os anos por doenças relacionadas ao trabalho – mais de oito vezes o número de mortes por acidentes no local de trabalho. No entanto, a maioria dos limites federais de exposição no trabalho é da década de 60. Como resultado, as diretrizes mais novas da Agência de Proteção Ambiental americana para os níveis seguros de substâncias químicas no ar fora da fábrica chegam a ser 45 mil vezes menores que os níveis regulamentares para o ar dentro da fábrica estabelecidos pelo Departamento de Saúde e Segurança Ocupacional (Osha, na sigla em inglês). Política e economia, e não limitações científicas, podem ser as maiores barreiras para a atualização da proteção à saúde desses trabalhadores. Dessa forma, a investigação da Pratt & Whitney também ilustra como a epidemiologia ocupacional poderia ser melhor se existisse vontade política para tornar a ciência moderna uma aliada.

Reunindo Evidências

Quando os maridos receberam o diagnóstico do mesmo tumor, Carol Shea e Kate Greco não sabiam nada sobre câncer no cérebro ou epidemiologia. Mas como parecia uma coincidência improvável começaram a exigir respostas da Pratt & Whitney: quantos outros trabalhadores tinham câncer no cérebro? O que pode ter provocado isso? Em agosto de 2001, uma investigação da Secretaria Estadual de Saúde Pública de Connecticut descobriu que a incidência de glioblastoma entre os trabalhadores da fábrica de North Haven nos dez anos anteriores correspondia entre 2,8 vezes e sete vezes a taxa esperada.

Àquela altura a Secretaria Estadual de Saúde pediu que a Pratt & Whitney, que se recusou a fazer comentários para este artigo, contratasse um epidemiologista independente para investigar o fato mais a fundo. A empresa procurou Marsh, bioestatístico da Graduate School of Public Health da University of Pittsburgh. Marsh é especialista em pesquisas de saúde em locais de trabalho “bagunçados e atolados de serviço”, com dezenas de milhares de trabalhadores e vários locais de trabalho. Ele imediatamente entrou em contato com Esmen, especialista em avaliar e reconstituir exposições no local de trabalho, com quem colabora com freqüência.

A dupla inicialmente enfocou a fábrica de North Haven, fechada em 2002. Mas quando descobriu que a empresa fazia trabalhos semelhantes em outras fábricas em Connecticut, decidiu avaliar todas as oito unidades. Assim, um estudo inicialmente projetado para abordar cerca de 100 mil empregados cresceu para uma investigação de sete anos, US$ 12 milhões e quase 250 mil trabalhadores no período de 1952 a 2001.

O projeto maior tem duas vantagens científicas, considera Marsh: maior poder estatístico, o que reduz a chance de resultados falso-negativos e aumenta a probabilidade de detectar padrões sutis; além de melhor comparação entre as práticas internas de trabalho, exposições e conseqüências para a saúde. A epidemiologia ocupacional muitas vezes sofre com o chamado “efeito trabalhador sadio” – comparar de forma enganosa as taxas de doenças em um grupo de trabalhadores com as da população em geral, que inclui pessoas que estão doentes demais para trabalhar.

Mas o tamanho avantajado do estudo também representa um dos maiores desafios para os pesquisadores. Trabalhando sob a supervisão da gerente de projetos Jeanine Buchanich, funcionários da University of Pittsburgh passaram um ano na Pratt & Whitney analisando meio milhão de páginas de registros de pessoal e as resumindo em uma base de dados de informações de status vital dos funcionários. Em seguida, Buchanich começou a rastrear os cerca de 266 mil nomes – coletivamente conhecidos como a coorte – em bases de dados nacionais para saber quais empregados haviam morrido e de quais causas. Um programador de computadores desenvolveu um protocolo para produzir amostras dos nomes de listas de membros de sindicatos, que Buchanich comparou com a coorte para checar se faltava alguém. Ela também teve de corrigir entradas da base de dados cujas datas não faziam sentido: “O arquivo da coorte estava fantasticamente limpo”, diz Buchanich – com uma taxa de erro de menos que 0,1% – “mas ainda assim eram algumas centenas de erros que tive de encontrar e resolver”. Após eliminá-los e aprimorar ainda mais a base de dados, a coorte agora inclui cerca de 224 mil empregados. Enquanto isso, o gerente de caso, Zb Bornemann, vem procurando registros de câncer no cérebro. Ele investigou toda a coorte no Registro Nacional de Óbitos americano e no Registro de Óbitos do Seguro Social. E continua a entrar em contato com registros estaduais de câncer em todo o país, verificando se nomes da coorte coincidem com registros de pessoas com tumores cerebrais. Quando detecta um nome Bornemann tenta rastrear o parente mais próximo por meio de bases de dados on-line. Uma vez que Bornemann consegue localizar o parente próximo ou, ocasionalmente, a pessoa viva com câncer no cérebro, envia uma carta convidando a participar do estudo: uma entrevista por telefone, registros médicos e permissão para analisar tecido do tumor cerebral da pessoa.

Encontrar os casos faz parte da primeira parte do estudo – análise de mortalidade – que vai determinar se houve ou não uma taxa de incidência de câncer no cérebro maior que a esperada entre os trabalhadores da Pratt & Whitney, como um todo e entre vários subgrupos. A segunda parte é um estudo de caso-controle aninhado, no qual os pesquisadores comparam cada caso de câncer no cérebro com um empregado da Pratt & Whitney da mesma idade, gênero e ano de contratação, e que não desenvolveu a doença. Comparando seus históricos médicos e de trabalho, incluindo a avaliação de exposição que Esmen está desenvolvendo na UIC, os pesquisadores esperam detectar padrões que possam explicar por que os tumores cerebrais ocorreram em certas pessoas.

O neuroncologista Frank Lieberman, da University of Pittsburgh, está avaliando mutações gênicas no tecido dos tumores cerebrais dos empregados da Pratt & Whitney. Encontrar um padrão distintivo poderia sugerir que o tumor dos empregados da companhia não foi aleatório, mas compartilhou alguma causa.

Aqui, parte da ciência é bastante nova. Lieberman está trabalhando com tecido tumoral embebido em parafina, guardado há anos em hospitais onde os pacientes com câncer da Pratt & Whitney haviam sido submetidos a cirurgias. Até recentemente isso significava que ele estaria limitado a métodos que permitem o exame de apenas 15 a 20 genes por amostra para detectar mudanças que estão sabidamente envolvidas no crescimento do tumor. Agora, graças à melhoria tecnológica, ele pode também usar técnicas de micro arranjo previamente disponíveis apenas para tecidos frescos, que permitem examinar milhares de genes por vez, procurando pequenas mutações, bem como deleções ou duplicações de genes inteiros. “Podemos procurar mudanças nos padrões [de atividade genética]”, diz, “e não apenas por alterações maiores ou menores em genes específicos.” Lieberman está comparando esses perfis com uma base de dados do National Cancer Institute e amostras de tumores cerebrais de pacientes de sua clínica na universidade, como controles. “Essa é uma técnica muito poderosa”, assegura, em parte porque os pesquisadores “não têm de contar necessariamente com uma hipótese inicial acerca dos genes que são importantes.”

Emanuela Taioli, colega de Lieberman da University of Pittsburgh, utiliza técnicas moleculares semelhantes para identificar danos ao DNA provocados por carcinógenos específicos conhecidos. Os dois grupos estão trabalhando juntos em um esforço piloto para coletar tecidos normais dos trabalhadores da Pratt & Whitney com câncer cerebral, na esperança de detectar quaisquer mudanças moleculares no tecido e correlacioná-las aos carcinógenos que a equipe de Esmen está detectando na empresa. Em princípio, essas impressões digitais da exposição a substâncias tóxicas poderiam representar os passos iniciais rumo ao câncer. A ciência por trás dessas estratégias “é ainda muito nova”, adverte Lieberman. “Estamos tentando aproveitar a oportunidade para obter o máximo de informação acerca de possíveis desencadeadores de câncer de cérebro. Mas as técnicas ainda são extremamente experimentais.”

Arqueologia Industrial

O trabalho da equipe de Esmen em Chicago é menos experimental, mas tão monumental quanto. O grupo passou cinco anos investigando as operações da Pratt & Whitney da década de 50 até a de 90, tentando descobrir quais empregados estavam expostos a que substância e em que níveis. “Se os dados não estão aqui, têm de ser reconstituídos”, diz Esmen, professor de ciências da saúde ocupacional e ambiental da School of Public Health da UIC. “É quase como se fosse uma arqueologia industrial.”

Há muito cientistas suspeitam de uma origem ocupacional de câncer no cérebro. Mas a única causa comprovada é a radiação ionizante, que algumas operações da Pratt & Whitney de fato geravam. Além disso, uma lista de suspeitos vem de estudos anteriores que encontraram altas taxas de câncer cerebral entre pessoas que trabalhavam com certos metais, óleos de máquinas e solventes, mas cujos resultados não foram replicados de forma consistente. Trabalhando com os registros da Pratt & Whitney, a equipe de Esmen está tentando reduzir 320 mil tipos de cargos a um número manejável de categorias mais amplas de trabalho. Para cada uma delas, os pesquisadores tentam quantificar a exposição dos trabalhadores aos agentes suspeitos durante vários períodos de tempo.

Entretanto, os números são apenas relativos. “O importante é colocar as coisas na ordem certa”, avalia Esmen. Se os pesquisadores estimarem que o nível de uma exposição determinada foi de 10 unidades, “não se sabe se foi na verdade de 6 ou 12 – mas definitivamente não foi de 100”. Já que não existem medidas, os pesquisadores se baseiam em entrevistas com trabalhadores e engenheiros das fábricas. Eles também utilizam uma montanha de dados fornecidos pela empresa, como registros de compras – para saber as quantidades de material utilizado –, estudos de eficiência da década de 70 – para conhecer a quantidade de tempo gasta em dada tarefa –, publicações internas com títulos como Uma capacidade versátil de engenharia e produção, e qualquer amostragem de ar que a Pratt & Whitney tenha feito ao longo desses anos.

A última informação pode parecer uma rica fonte para a reconstituição das exposições. Mas é mais complicado que parece. Um epidemiologista que está tentando avaliar as exposições em todos os empregados coletaria amostras aleatórias de cada grupo de trabalho e documentaria mudanças entre turnos, e de um dia para o outro. Um higienista industrial chamado para resolver um problema – como queixas respiratórias – obteria amostras apenas da “área problemática” e consideraria apenas os níveis mais altos de uma substância suspeita.

Tratados de higiene industrial instruem seus futuros praticantes a coletar toda gama de amostras, diz o pesquisador Steve Lacey, que ensina essas técnicas a estudantes de pós-graduação na UIC. “Mas essa não é a realidade.” Roger Hancock, outro membro da equipe, que passou um quarto de século trabalhando com higiene industrial no setor privado, conhece a realidade: “Você chega a uma fábrica com um carrinho cheio de equipamentos [de teste], e tem uma semana. Talvez estejam executando o processo apenas uma vez por semana, de modo que você tem uma chance para coletar a mostra. Se a maior delas estiver aquém dos níveis preocupantes, você não pega mais amostras”.
“Aquém dos níveis preocupantes” significa níveis legais. Se um local de trabalho está nos padrões do Osha, isso já está bom o bastante. Mas pesquisadores da academia e livros médicos reconhecem que o que é bom o suficiente para o departamento nem sempre é o bastante para proteger a saúde dos trabalhadores.

Determinar os níveis seguros de exposição não é fácil, reconhece Terry Gordon, que preside o comitê da American Conference of Governmental Industrial Hygienists – órgão que estabelece os limites de exposição voluntária para substâncias químicas. Como o Osha, sua equipe de cerca de 20 voluntários não conduz pesquisas originais, mas se baseia em estudos já publicados. Pesquisas de toxicologia animal, com condições controladas em laboratório, são mais organizadas que a turva epidemiologia de pessoas de verdade expostas a níveis desconhecidos de combinações de várias substâncias, tanto dentro quanto fora do local de trabalho. Mas os estudos com animais também têm um ponto fraco: medem o efeito de uma substância por vez, enquanto o local de trabalho geralmente contém múltiplos tóxicos. “Dados sobre pessoas são sempre preferíveis para a toxicologia”, diz Gordon, professor e pesquisador do departamento de medicina ambiental da New York University. Mas, “com dados sobre humanos, freqüentemente não há informações suficientes sobre a exposição, e muitas vezes eles não são ligados aos efeitos sobre a saúde”.

Os pesquisadores da Pratt & Whitney estão fazendo o melhor que podem para evitar essas ciladas, mas reconhecem que alguns dos elementos tornam esse estudo “confuso”, como diz Marsh. Devido ao fato de Bornemann ter informações incompletas dos registros estaduais de câncer, provavelmente não detectará alguns casos de câncer cerebral. Entre os pacientes que localizou, 41% concordaram em participar; Marsh quer pelo menos 60% para assegurar a validade científica. Ele também ressalta que, apesar de as lembranças que os participantes têm de seu histórico médico e de estilo de vida serem “razoavelmente boas em um nível mais amplo, elas não valem muito quando precisamos de abordagens mais detalhadas”. E a reconstituição da exposição da equipe da UIC, apesar de toda sua meticulosidade, será apenas uma estimativa do que aconteceu décadas atrás nas fábricas, que desde então foram fechadas ou drasticamente reorganizadas.

Início na Direção Certa

Depois de sete anos e US$ 12 milhões investidos, existe uma boa chance de que o estudo da Pratt & Whitney vá acabar como várias outros estudos sobre saúde no local de trabalho: inconclusivo. Pesquisadores dizem que o fenômeno é fruto da dificuldade da ciência. Como todos os estudos epidemiológicos, este pode, na melhor das hipóteses, provar associações entre exposições e efeitos na saúde, mas não uma relação restrita de causa e efeito. É particularmente difícil detectar as causas de doenças como câncer, que geralmente aparece décadas depois da exposição danosa. E achar níveis seguros de exposição a determinados carcinógenos pode ser impossível.
Muitos pesquisadores adorariam ter US$ 12 milhões para estudos que pudessem produzir resultados mais claros em menos tempo, mas os milhões da Pratt & Whitney provavelmente não teriam sido gastos de outra maneira na pesquisa da saúde no local de trabalho. Mesmo se o estudo nunca der respostas definitivas a todas as questões levantadas, o esforço dificilmente terá sido desperdício de tempo ou dinheiro.

Para começar existe a perspectiva de algum tipo de resposta para as famílias dos trabalhadores da Pratt & Whitney. “Estou envolvido nesse projeto desde o dia em que ele começou”, diz Jeanine Buchanich. “Finalmente vamos poder dizer algo a esses trabalhadores – e já faz muito tempo.”

Independentemente dos resultados específicos, o projeto pode ser capaz de nos dizer algo. A enorme quantidade de dados que está gerando pode ajudar a desvendar as complexidades de múltiplas exposições a substâncias tóxicas e contribuir, nas palavras de Lieberman, para a compreensão “da biologia básica de como os tumores cerebrais se iniciam”. Além disso, o objetivo sem precedentes do estudo está estimulando a criação de novas técnicas para manipular a imensa quantidade de informações. A equipe da UIC, por exemplo, está construindo uma base de dados de um sistema de informação geográfica (SIG), que permitirá aos membros da equipe mapear as operações das fábricas no tempo e espaço. Essa tecnologia pode ser útil para qualquer estudo em que relações espaciais são importantes, como na arqueologia ou engenharia industrial, de acordo com Esmen.

Essa empreitada arqueológica ao passado industrial de Connecticut pode gerar ferramentas e informações para ajudar trabalhadores e pacientes com câncer no cérebro no futuro. Assim, pode contribuir para reduzir as barreiras científicas que existem entre operários e locais de trabalho saudáveis. Para reduzir as barreiras não-científicas, outro conjunto de ferramentas será necessário.

“Os maiores riscos evitáveis à saúde e segurança que precisam ser resolvidos em nossa sociedade ocorrem de forma desproporcional no local de trabalho”, escreveu Adam Finkel, um ex-diretor de padrões de saúde do Osha, em uma carta no maio passado para a deputada da Califórnia Lynn Woosley, que preside o Subcomitê da Câmara para Proteção da Força de Trabalho. “A solução não é se queixar sobre a necessidade de fazer boa ciência, mas sim simplesmente voltar a fazer boa ciência, como o Osha costumava fazer.”

CONCEITOS-CHAVE

■ Uma pesquisa de sete anos sobre casos de câncer no cérebro entre funcionários da Pratt & Whitney Aircraft, no estado americano de Connecticut, se tornou o maior estudo já realizado sobre a saúde no local de trabalho, incluindo cerca de 224 mil trabalhadores em um período de 50 anos.

■ A enorme escala do estudo tornou a coleta de dados trabalhosa, mas o tamanho da população do estudo deve também aumentar a capacidade das análises de detectar padrões sutis que podem apontar as causas dos tumores, até mesmo fatores previamente desconhecidos.

■ Mais estudos de epidemiologia industrial desse tipo poderiam melhorar medidas de proteção à saúde dos trabalhadores, já que muitas delas estão desatualizadas. Mas ainda falta financiamento e apoio político para essas pesquisas.
– Os editores

[COLETA DE EVIDÊNCIAS] CONSTRUINDO AS BASES DE DADOS

Para determinar se um número maior que o normal de casos de câncer no cérebro surgiu entre os trabalhadores da Pratt & Whitney Aircraft e, em caso afirmativo, suas razões, os pesquisadores passaram mais de cinco anos compilando um enorme volume de informações sobre todos os funcionários e processos de fabricação da empresa de Connecticut referentes a um período de 50 anos. Uma das duas equipes da pesquisa tentou identificar a população de estudo, ou coorte, e determinar quantas pessoas desse grupo desenvolveram câncer cerebral, separando e rastreando os nomes de mais de 250 mil empregados. Enquanto isso, a outra equipe investigou uma ampla variedade de fontes para descobrir a que substâncias os empregados foram expostos entre 1952 e 2001 no trabalho.

DEFININDO O ACÚMULO DE CASOS DE CÂNCER

Um número aparentemente anormal de casos de câncer que ocorre em um determinado período de tempo entre pessoas que vivem ou trabalham juntas pode acontecer por acaso. Mas um acúmulo aparente pode também indicar que as doenças têm uma origem comum. A parte de análise de mortalidade da pesquisa da Pratt & Whitney vai lançar mão de técnicas estatísticas “para determinar se o número total de malignidades e/ou mortes observadas é maior que o esperado, com base em comparações padronizadas com a população geral de todos os Estados Unidos, do estado de Connecticut e regiões do estado de onde os trabalhadores são provenientes, e determinar se um eventual excesso observado provavelmente se deve apenas ao acaso”.

O Osha fica para trás

Entenda isso”, diz Roger Hancock, membro da equipe de estudo da Pratt & Whitney: os padrões atuais do Departamento de Saúde e Segurança Ocupacional (Osha) “eram os dados toxicológicos mais atuais de 1968.” Ele não está brincando.
O Osha foi inaugurado em 1971 com uma obrigação estatutária: “Assegurar o máximo possível de condições de trabalho seguras e saudáveis a todo homem e toda mulher trabalhadora”. A organização adotou limites permitidos de exposição (LPEs) para cerca de 400 substâncias químicas de uma só vez, de acordo com padrões industriais voluntários. Esses padrões haviam sido desenvolvidos pela organização sem fins lucrativos American Conference of Industrial Hygienists (ACGIH) em 1968. Durante o restante da década de 70, o Osha estabeleceu limites de exposição para outras nove substâncias.

No entanto, na década seguinte, o expresso LPE descarrilou. Em 1980, a Suprema Corte dos Estados Unidos vetou um padrão do Osha que reduzia os níveis permitidos de benzeno em uma ordem de magnitude, alegando que a agência tinha de provar que essa regulamentação impediria “um risco significativo de danos”. Sem definir “risco significativo”, a corte sugeriu que uma morte adicional para cada mil trabalhadores expostos provavelmente era significativo – mas não era o caso de uma morte para cada 1 bilhão de operários. Desde então, o Osha tem considerado o número de um para mil como o padrão mais exigente possível. Alguns LEPs permitem riscos muito mais graves: por exemplo, o limite de 2006 para o cromo hexavalente, estabelecido sob ordem judicial, corresponde a um risco de câncer de 35 a 45 por mil pessoas, de acordo com estimativas do Osha.

Em 1987, o Osha fez uma ampla atualização de seus limites para contaminantes do ar. Dois anos depois, estabeleceu LEPs para 376 substâncias químicas. Mais da metade desses eram padrões mais restritivos para substâncias da lista original de 1971; o restante incluía substâncias recém regulamentadas. Mas a indústria e os trabalhadores mudaram a lei, e em 1992 um apelo à instância federal a derrubou, determinando que o Osha teria de apresentar procedimentos de limitação separados para cada substância. Mas a organização nunca o fez.

Apesar das dificuldades científicas, a ACGIH continua estabelecendo regularmente de 20 a 40 limites de exposição voluntários (TLVs, em inglês) por ano. O resultado é que os TLVs compreendem mais de 700 substâncias químicas, em comparação às 400 que o Osha regula. “Nunca tem fim, porque sempre há mais informação”, diz Terry Gordon, que lidera o esforço do TLV. “Somos voluntários fazendo o nosso melhor. Se pudéssemos passar a bola para o Osha, seria ótimo.”

Em respostas escritas a leitores da SCIENTIFIC AMERICAN, o Osha enfatizou que “atualizar um limite de exposição não é uma tarefa simples”. Atender aos fardos impostos pelo Congresso e tribunais requer “grande quantidade de pesquisas” e “recursos significativos para caracterizar de forma adequada o efeito dos LEPs revistos sobre os riscos à saúde dos trabalhadores e avaliar a viabilidade, de forma a assegurar que os padrões revistos são necessários, serão efetivos em proteger trabalhadores de riscos à saúde no local de trabalho e passíveis de utilização por todos os funcionários”. Para o cromo hexavalente, o Osha diz ter adotado “o menor nível plausível”, baseado na “totalidade das evidências nos registros de regulamentação”.

Mas o Osha poderia fazer bem mais, na visão de alguém que já trabalhou lá. Harry Ettinger, higienista industrial, liderou a iniciativa da era Reagan de atualização dos limites de contaminantes do ar. “É uma vergonha” que a maioria dos LEPs ainda datem de 1968, reclama. “Tentei convencer os trabalhadores a não nos processar. Eles queriam a perfeição. Perfeição não existe.”

Para outro ex-funcionário do Osha, Adam Finkel, o problema está nas prioridades. “A maioria das pessoas que sabem o que estão falando concordaria que a saúde ocupacional [é responsável] por 80% a 90%” das mortes relacionadas ao trabalho, diz Finkel, que foi o diretor de padrões de saúde da agência entre 1995 e 2000. Ainda assim, “a ênfase sempre foi em segurança”, e não na saúde. Ele próprio foi forçado a sair do seu emprego após ter chamado atenção para os danos que ameaçavam a saúde dos inspetores do próprio Osha; ao final, a agência entrou em um acordo com valor de seis dígitos para abafar sua queixa indiscreta. Longe de ser um perfeccionista, ele acredita que “a agência tem simplesmente de chegar ao nível da ciência do final do século 20. Sabemos que muitos agentes têm exposição permitida mil vezes maior que aquela que deveria ser”. Com padrões tão ruins, Finkel diz, a primeira prioridade do Osha deveria ser “higiene industrial à moda antiga”.

De qualquer modo, “a grande quantidade de pesquisas” e os “recursos significativos” que o Osha alega serem necessários para atualizar a proteção à saúde do trabalhador têm de vir de algum lugar. Com bastante freqüência, os interesses industriais que seriam os objetos dessas regulamentações são os mesmos que pagam pelos estudos. Na área de saúde no local de trabalho, o orçamento de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional está estagnado ou em declínio. E os fabricantes não apenas se opuseram as regulamentações governamentais, mas também levaram a independente ACGIH ao tribunal, tentando impedir que ela divulgasse seus limites de exposição não-obrigatórios. – C. B.

BREVES

■ Em média, quase 16 trabalhadores morrem de lesões sofridas no trabalho, e 134 morrem de doenças relacionadas ao trabalho nos Estados Unidos todos os dias.

■ Estima-se que 11.500 trabalhadores do setor privado sofrem com uma lesão ou doença não fatal relacionada ao trabalho todos os dias.

■ Nove mil trabalhadores são tratados em pronto-socorros em virtude de lesões ocupacionais todos os dias.

FONTE: Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional dos Estados Unidos

Amostras de tumor

Com o consentimento dos trabalhadores afetados ou de sua família, os pesquisadores obtiveram amostras dos tumores e, em alguns casos, de tecidos normais, para procurar sinais de dano ao DNA que pudesse ter sido provocado por carcinógenos (esquerda). Ao combinarem esses resultados com as informações sobre a quais substâncias os trabalhadores foram expostos e quando (direita), eles esperam revelar se as exposições no local de trabalho contribuíram para o aparecimento dos cânceres.

PISTAS GENÉTICAS

Modificações, ou mutações, do DNA isolado de amostras de tumores como as mostradas na tela do computador podem indicar o que desencadeou o tumor.

■ Um padrão distintivo de mutações nos tumores de diferentes trabalhadores pode sugerir uma causa comum, por exemplo.

■ Essas análises podem também determinar a duração das mudanças cumulativas e mesmo a ordem na qual as mudanças ocorreram, de forma a ajudar a identificar quando o crescimento tumoral provavelmente teve início.

■ Certos carcinógenos conhecidos provocam danos ao DNA de formas específicas, deixando uma digital da exposição em células tumorais ou até em tecido normal.

■ Mutações em genes para enzimas metabolizadoras de carcinógenos são outra categoria de alterações promotoras de câncer detectáveis em tecidos não-cancerosos que poderiam explicar como um tumor foi iniciado.

VISUALIZANDO AS EXPOSIÇÕES

Para manipular as enormes quantidades de dados que coletaram sobre as operações das fábricas entre 1952 e 2001, os pesquisadores criaram um “sistema de informação geográfica”. A base de dados permite que eles recuperem e relacionem dados sobre a localização dos funcionários, peças e processos – e, portanto, a exposição dos trabalhadores a agentes potencialmente tóxicos – em diferentes épocas durante o período incluído no estudo.

PARA CONHECER MAIS

Workers at risk: the failed promise of the occupational safety and health administration. Thomas O. McGarity e Sidney A. Shapiro. Praeger Publishers, 1993.

Occupational and environmental health: recognizing and preventing work-related disease and injury. Editado por Barry S. Levy, David H. Wegman, Sherry L. Baron e Rosemary K. Sokas. 5a edição. Lippincott Williams & Wilkins, 2005.

Doubt is their product: how industry’s assault on science threatens your health. David Michaels. Oxford University Press, 2008.

Getting home safe and sound: Osha at 38. Michael Silverstein, em American Journal of Public Health (em impressão).

Relatório do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos sobre agrupamentos de casos de câncer: www.cancer.gov/cancertopics/factsheet/Risk/clusters

Informações sobre a investigação da Pratt & Whitney estão disponíveis no site da Secretaria de Saúde Pública do estado de Connecticut, no endereço:
www.ct.gov/dph/cwp/view.asp?a=3140&q=387474


Carole Bass é jornalista investigativa e escreve sobre saúde pública, questões legais e meio ambiente. É membro da Alicia Patterson Foundation, investigando e escrevendo sobre substâncias químicas tóxicas no trabalho. Bass é ex-repórter e editora do New Haven Advocate, para o qual escreveu muito sobre os casos de câncer no cérebro na Pratt & Whitney Aircraft , bem como para o Connecticut Law Tribune.

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/o_intrincado_quebra-cabeca_da_saude_do_trabalhador.html

terça-feira, 15 de abril de 2008

ERIC HOBSBAWM

O desafio da razão: Manifesto para a renovação da história

É tempo de restabelecer a coalizão daqueles que desejam ver na história uma pesquisa racional sobre o curso das transformações humanas, contra aqueles que a deformam sistematicamente com fins políticos e simultaneamente, de modo mais geral, contra os relativistas e os pós-modernos que se recusam a admitir que a história oferece essa possibilidade. A análise é de Eric Hobsbawm.
Eric Hobsbawm

Data: 11/04/2008

"Até agora, os filósofos não fizeram mais do que interpretar o mundo; trata-se de mudá-lo." Os dois enunciados da célebre "Teses sobre Feuerbach", de Karl Marx, inspiraram os historiadores marxistas. A maioria dos intelectuais que aderiram ao marxismo a partir da década de 1880 —entre eles os historiadores marxistas— fizeram isso porque queriam mudar o mundo, junto com os movimentos operários e socialistas; movimentos que se transformariam, em grande medida devido à influência do marxismo, em forças políticas de massas.

Essa cooperação orientou de maneira natural os historiadores que queriam transformar o mundo na direção de certos campos de estudo —fundamentalmente, a história do povo ou da população operária— os quais, se bem atraíam naturalmente as pessoas de esquerda, não tinham em sua origem nenhuma relação particular com uma interpretação marxista. Por outro lado, quando esses intelectuais deixaram de ser revolucionários sociais, a partir da década de 1890, com freqüência também deixaram de ser marxistas.

A revolução soviética de outubro de 1917 reavivou esse compromisso. Lembremos que os principais partidos social-democratas da Europa continental abandonaram completamente o marxismo apenas na década de 1950, e às vezes ainda depois disso. Essa revolução gerou, também, o que poderíamos chamar de uma historiografia marxista obrigatória na URSS e nos Estados, que depois foi adotada por regimes comunistas. A motivação militante foi reforçada durante o período do antifascismo.

A partir da década de 1950 essa tendência começou a decair nos países desenvolvidos —mas não no Terceiro Mundo— apesar de que o considerável desenvolvimento do ensino universitário e a agitação estudantil geraram, dentro da universidade, na década de 1960, um novo e importante contingente de pessoas decididas a mudar o mundo. Contudo, apesar de desejar uma mudança radical, muitas delas já não eram abertamente marxistas, e algumas já não eram marxistas em absoluto.

Esse ressurgimento culminou na década de 1970, pouco antes do início de uma reação massiva contra o marxismo, mais uma vez por razões essencialmente políticas. Essa reação teve como principal efeito —exceto para os liberais, que ainda acreditam nisso— o aniquilamento da idéia de que é possível predizer, apoiados na análise histórica, o sucesso de uma forma particular de organizar a sociedade humana. A história havia se dissociado da teleologia.

Considerando as incertas perspectivas que se apresentam aos movimentos socialdemocratas e social-revolucionários, não é provável que assistamos a uma nova onda politicamente motivada de adesão ao marxismo. Mas devemos evitar cair em um centrismo ocidental excessivo. A julgar pela demanda de que são objeto meus próprios livros de história, comprovo que ela se desenvolve na Coréia do Sul e em Taiwan, desde a década de 1980, na Turquia, desde a década de 1990, e que há sinais de que atualmente avança no mundo árabe.

A virada social
O que aconteceu com a dimensão "interpretação do mundo" do marxismo? A história é um pouco diferente, ainda que paralela. Concerne ao crescimento do que se pode chamar de reação anti-Ranke, da qual o marxismo constituiu um elemento importante, apesar de que isso nem sempre foi totalmente reconhecido. Tratou-se de um movimento duplo.

Por um lado, esse movimento questionava a idéia positivista segundo a qual a estrutura objetiva da realidade era, por assim dizer, evidente: bastava com aplicar a metodologia da ciência, explicar por que as coisas tinham ocorrido de tal ou qual maneira e descobrir wie es eigentlich gewessen (como ocorreu realmente). Para todos os historiadores, a historiografia se manteve e se mantém enraizada em uma realidade objetiva, ou seja, a realidade do que ocorreu no passado; contudo, não está baseada em fatos e, sim, em problemas, e exige investigação para compreender como e por que esses problemas —paradigmas e conceitos— são formulados da maneira em que são o em tradições históricas e em meios socioculturais diferentes.

Por outro lado, esse movimento tentava aproximar as ciências sociais da história e, em conseqüência, englobá-las em uma disciplina geral, capaz de explicar as transformações da sociedade humana. Segundo a expressão de Lawrence Stone, o objeto da história deveria ser "propor as grandes perguntas do por quê". Essa "virada social" não veio da historiografia, senão das ciências sociais —algumas delas incipientes como tais— que naquele momento firmavam-se como disciplinas evolucionistas, ou seja, históricas.

Na medida em que é possível considerar Marx como o pai da sociologia do conhecimento, o marxismo —apesar de ter sido denunciado erradamente em nome de um suposto objetivismo cego— contribuiu para dar o primeiro aspecto desse movimento. Além disso, o impacto mais conhecido das idéias marxistas —a importância outorgada aos fatores econômicos e sociais— não era especificamente marxista, ainda que a análise marxista pesou nessa orientação, que estava inscrita em um movimento historiográfico geral, visível a partir da década de 1890, e que culminou nas décadas de 1950 e 1960, para benefício da geração de historiadores à qual pertenço, que teve a possibilidade de transformar a disciplina.

Essa corrente socio-econômica superava o marxismo. A criação de revistas e instituições de história econômico-social às vezes foi obra —como na Alemanha— de socialdemocratas marxistas, como ocorreu com a revista Vierteljahrschrift em 1893. Não aconteceu da mesma maneira na Grã Bretanha, nem na França, nem nos Estados Unidos. E inclusive na Alemanha, a escola de economia, marcadamente histórica, não tinha nada de marxismo. Somente no Terceiro Mundo do século XIX (Rússia e os Balcãs) e no do século XX, a história econômica adotou uma orientação principalmente social-revolucionária, como toda "ciência social". Em conseqüência disto, foi muito atraída por Marx.

Em todos os casos, o interesse histórico dos historiadores marxistas não se centrou tanto na "base" (a infra-estrutura econômica) como nas relações entre a base e a superestrutura. Os historiadores explicitamente marxistas sempre foram relativamente escassos.

Marx influenciou a história principalmente através dos historiadores e dos pesquisadores em ciências sociais que retomaram as questões que ele colocava, tenham eles trazido, ou não, outras respostas. Por sua vez, a historiografia marxista avançou muito em relação ao que era na época de Karl Kautsky e de Georgi Plekhanov, em boa parte graças à sua fertilização por outras disciplinas (fundamentalmente a antropologia social) e por pensadores influenciados por Marx e que completavam seu pensamento, como Max Weber.

Se destaco o caráter geral dessa corrente historiográfica, não é por vontade de subestimar as divergências que contém, ou que existiam no seio de seus componentes. Os modernizadores da história colocaram-se as mesmas questões e consideravam-se comprometidos nos mesmos combates intelectuais, seja que tenham buscado inspiração na geografia humana, na sociologia durkheimiana e nas estatísticas, como na França (simultaneamente, a escola dos Anais e Labrousse), ou na sociologia weberiana, como a Historische Sozialwissenschaft na Alemanha Federal, ou mesmo no marxismo dos historiadores do Partido Comunista, que foram os vectores da modernização da história na Grã Bretanha, ou que, pelo menos, fundaram sua principal revista.

Uns e outros consideravam-se aliados contra o conservadorismo na história, mesmo quando suas posições políticas ou ideológicas eram antagônicas, como Michael Postan e seus alunos marxistas britânicos. Essa coalizão progressista encontrou expressão exemplar na revista Past & Pressent, fundada em 1952, muito respeitada no ambiente dos historiadores. O sucesso dessa publicação foi devido que os jovens marxistas que a fundaram opuseram-se deliberadamente à exclusividade ideológica, e a que os jovens modernizadores provenientes de outros horizontes ideológicos estavam dispostos a juntar-se a eles, uma vez que sabiam que as diferenças ideológicas e políticas não eram um obstáculo para o trabalho conjunto.

Essa frente progressista avançou de maneira espetacular entre o final da Segunda Guerra Mundial e a década de 1970, naquilo que Lawrence Stone denomina "o amplo conjunto de transformações na natureza do discurso histórico". Isso até a crise de 1985, quando ocorreu a transição dos estudos quantitativos para os estudos qualitativos, da macro para a micro-história, das análises estruturais aos relatos, do social para os temas culturais. Desde então, a coalizão modernizadora está na defensiva, igual que seus componentes não marxistas, como a história econômica e social.

Na década de 1970, a corrente dominante em história tinha sofrido uma transformação tão grande, especialmente sob a influência das "grandes questões" colocadas ao modo de Marx, que escrevi estas linhas: "Com freqüência é impossível dizer se um livro foi escrito por um marxista ou por um não-marxista, a menos que o autor anuncie sua posição ideológica. Espero com impaciência o dia em que ninguém se pergunte se os autores são marxistas ou não". Mas, como também apontava, estávamos longe de semelhante utopia.

Desde então, pelo contrário, foi necessário sublinhar com maior energia qual pode ser a contribuição do marxismo para a historiografia. Coisa que não acontecia há muito tempo. Também porque é preciso defender a história contra aqueles que negam sua capacidade de ajudar-nos a compreender o mundo, e porque novos desenvolvimentos científicos transformaram completamente o calendário historiográfico.

No plano metodológico, o fenômeno negativo mais importante foi a edificação de uma série de barreiras entre o que ocorreu, ou o que ocorre, em história e nossa capacidade para observar esses fatos e entendê-los. Esses bloqueios obedecem à recusa em admitir que existe uma realidade objetiva, e não construída pelo observador com fins diversos e mutáveis, ou ao fato de afirmar que somos incapazes de superar os limites da linguagem, ou seja, dos conceitos, que são o único meio que temos para poder falar do mundo, incluindo o passado.

Essa visão elimina a questão de saber se existem esquemas e regularidades no passado, a partir dos quais o historiador pode formular propostas significativas. Contudo, também há razões menos teóricas que levam a essa recusa: argumenta-se que o curso do passado é contingente demais, ou seja, que é preciso excluir as generalizações, uma vez que praticamente tudo poderia ocorrer ou teria podido ocorrer. De modo implícito, esses argumentos miram todas as ciências. Vamos passar por alto tentativas mais fúteis de voltar a velhos conceitos: atribuir o curso da história a altos responsáveis políticos ou militares, ou à onipotência das idéias ou dos "valores"; reduzir a erudição histórica à busca —importante mas em si insuficiente— de uma empatia com o passado.

O grande perigo político imediato que ameaça a historiografia atual é o "antiuniversalismo": "minha verdade é tão válida quanto a sua, independente dos fatos". Esse antiuniversalismo seduz naturalmente a história dos grupos identitários em suas diferentes formas, para a qual o objeto essencial da história não é o que ocorreu, mas como isso que ocorreu afeta os membros de um grupo em particular. De modo geral, o que conta para esse tipo de história não é a explicação racional, mas a "significação"; não o que ocorreu, mas como sentem o que ocorreu os membros de uma coletividade que se define por oposição às demais em termos de religião, de etnia, de nação, de sexo, de modo de vida, ou de outras características.

O relativismo exerce atração sobre a história dos grupos identitários. Por diferentes razões, a invenção massiva de contra-verdades históricas e de mitos, outras tantas tergiversações ditadas pela emoção, alcançou uma verdadeira época de ouro nos últimos trinta anos. Alguns desses mitos representam um perigo público —em países como a Índia durante o governo hinduísta, nos Estados Unidos e na Itália de Silvio Berlusconi, para não mencionar muitos outros dos novos nacionalismos, acompanhados ou não de manifestações de integrismo religioso.

De qualquer modo, se por um lado esse fenômeno deu lugar a muito palavrório e bobagens nas margens mais longínquas da história de grupos específicos —nacionalistas, feministas, gays, negros e outros— por outro, gerou desenvolvimentos históricos inéditos e extremamente interessantes no campo dos estudos culturais, como o "boom da memória nos estudos históricos contemporâneos", como Jay Winter o denomina. Os Lugares de Memória, coordenados por Pierre Nora, é um bom exemplo.

Reconstruir a frente da razão
Diante de todos esses desvios, é tempo de restabelecer a coalizão daqueles que desejam ver na história uma pesquisa racional sobre o curso das transformações humanas, contra aqueles que a deformam sistematicamente com fins políticos e simultaneamente, de modo mais geral, contra os relativistas e os pós-modernos que se recusam a admitir que a história oferece essa possibilidade. Dado que entre esses relativistas e pós-modernos há quem se considere de esquerda, poderiam surgir inesperadas divergências políticas capazes de dividir os historiadores.

Portanto, o ponto de vista marxista é um elemento necessário para a reconstrução da frente da razão, como foi nas décadas de 1950 e 1960. De fato, a contribuição marxista provavelmente seja ainda mais pertinente agora, dado que os outros componentes da coalizão dessa época renunciaram, como a escola dos Anais de Fernand Braudel e a "antropologia social estrutural-funcional", cuja influência entre os historiadores foi tão importante. Esta disciplina foi particularmente perturbada pela avalanche em direção à subjetividade pós-moderna.

Contudo, enquanto os pós-modernos negavam a possibilidade de uma compreensão histórica, os avanços nas ciências naturais devolviam à história evolucionista da humanidade toda sua atualidade, sem que os historiadores percebessem cabalmente. E isto de duas maneiras. Em primeiro lugar, a análise do DNA estabeleceu uma cronologia mais sólida do desenvolvimento desde o aparecimento do homo sapiens como espécie. Em particular, a cronologia da expansão dessa espécie originaria da África para o resto do mundo, e dos desenvolvimentos posteriores, antes do aparecimento de fontes escritas. Ao mesmo tempo, isso evidenciou a surpreendente brevidade da história humana —segundo critérios geológicos e paleontológicos— e eliminou a solução reducionista da sociobiologia darwiniana.

As transformações da vida humana, coletiva e individual, durante os últimos dez mil anos, e particularmente durante as dez últimas gerações, são consideráveis demais para serem explicadas por um mecanismo de evolução inteiramente darwiniano, pelos genes. Essas transformações correspondem a uma aceleração na transmissão das características adquiridas por mecanismos culturais e não genéticos; poderia dizer-se que se trata da revanche de Lamarck contra Darwin, através da história humana. E não serve de muito disfarçar o fenômeno com metáforas biológicas, falando de "memes" ao invés de "genes". O patrimônio cultural e o biológico não funcionam da mesma maneira.

Em síntese, a revolução do DNA requer um método particular, histórico, de estudo da evolução da espécie humana. Além disso, vale a pena mencioná-lo, proporciona um marco racional para a elaboração de uma história do mundo. Uma história que considere o planeta em toda a sua complexidade como unidade dos estudos históricos, e não como um entorno particular ou uma região determinada. Em outras palavras: a história é a continuação da evolução biológica do homo sapiens por outros meios.

Em segundo lugar, a nova biologia evolucionista elimina a estrita distinção entre história e ciências naturais, já eliminada em grande medida pela "historicização" sistemática destas ciências nas últimas décadas. Luigi Luca Cavalli-Sforza, um dos pioneiros multidisciplinares da revolução DNA, fala do "prazer intelectual de encontrar tantas semelhanças entre campos de estudo tão diferentes, alguns dos quais pertencem tradicionalmente aos pólos opostos da cultura: a ciência e as humanidades". Em síntese, essa nova biologia nos liberta do falso debate sobre o problema de saber se a história é ou não uma ciência.

Em terceiro lugar, ela nos leva inevitavelmente para a visão de base da evolução humana adotada pelos arqueólogos e os pré-historiadores, que consiste em estudar os modos de interação entre nossa espécie e seu meio ambiente, alem do crescente controle que ela exerce sobre esse meio. O que eqüivale essencialmente a fazer as perguntas que já fazia Karl Marx.

Os "modos de produção" (seja qual for o nome que se quiser dar-lhes) baseados em grandes inovações da tecnologia produtiva, das comunicações e da organização social —e também do poder militar— são o núcleo da evolução humana. Essas inovações, e Marx era consciente disso, não ocorreram e não ocorrem por elas mesmas. As forças materiais e culturais e as relações de produção são inseparáveis; são as atividades de homens e mulheres que constroem sua própria história, mas não no "vácuo", não fora da vida material, nem fora do seu passado histórico.

Do neolítico à era nuclear
Consequentemente, as novas perspectivas para a história também devem nos levar a essa meta essencial de quem estuda o passado, mesmo que nunca seja cabalmente realizável: "a história total". Não "a história de tudo", mas a história como uma tela indivisível onde todas as atividades humanas estão interconectadas. Os marxistas não são os únicos que se propuseram esse objetivo —Fernand Braudel também fez isso— mas foram eles que o perseguiram com mais tenacidade, como dizia um deles, Pierre Vilar.

Entre as questões importantes que suscitam estas novas perspectivas, a que nos leva à evolução histórica do homem é essencial. Trata-se do conflito entre as forças responsáveis pela transformação do homo sapiens, desde a humanidade do neolítico até a humanidade nuclear, por um lado, e por outro, as forças que mantêm imutáveis a reprodução e a estabilidade das coletividades humanas ou dos meios sociais, e que durante a maior parte da história as neutralizaram eficazmente. Essa questão teórica é central.

O equilíbrio de forças inclina-se de maneira decisiva em uma direção. E esse desequilíbrio, que talvez supere a capacidade de compreensão dos seres humanos, supera com certeza a capacidade de controle das instituições sociais e políticas humanas. Os historiadores marxistas, que não entenderam as conseqüências involuntárias e não desejadas dos projetos coletivos humanos do século XX, talvez possam, desta vez, enriquecidos por sua experiência prática, ajudar a compreender como chegamos à situação atual.

Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14924&editoria_id=6

domingo, 13 de abril de 2008

A mão de "Deus"



Pois é. Na vitória do São Paulo por 2 a 1 contra o Palmeiras, o "imperador" Adriano marcou os dois gols. Um de mão e o outro de pé.

Tanto no primeiro, quanto no segundo, ergueu as mãos para os céus em agradecimento ao "Senhor" pelos gols.

No primeiro, devia está agradecendo a miopia do árbitro e a providencial ajuda da mão de "Deus".

Pois é. Segura na mão de Deus, e vai!!!

O Pan e a dengue

Reproduzo abaixo uma mensagem que postei na lista de discussão do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE). A mesma dizia o seguinte:

Uma pergunta que não quer calar.

A FIOCRUZ fez uma estimativa sobre o montante de dinheiro que evitaria a epidemia de dengue no Rio (e as mortes). R$ 30 milhões.

A pergunta: quanto se gastou no Pan, mesmo? 4 bilhões?

sábado, 12 de abril de 2008

Imagem do Real



ÍNDIO É DETIDO POR POLICIAL DA TROPA DE CHOQUE DA PM EM MANAUS DURANTE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.

Jornal Folha de São Paulo, 12 de março de 2008

sexta-feira, 4 de abril de 2008

ESPORTE E MERCADO

Pátria sem chuteiras

Os clubes na periferia global são hoje quem produz ou garimpa talentos. Mas empobrecem e perdem, aos poucos, sua ligação simbólica com o torcedor. Nações como o Brasil, que têm no futebol uma pedra fundamental de sua identidade, deixam de se sentir representadas pela seleção nacional
Tiago Soares, Rafael Evangelista

O que um atacante francês tem em comum com um marxista inglês?

Faz pouco tempo, Michel Platini, astro máximo do futebol francês, atual presidente da União Européia de Futebol (UEFA), cutucou a crônica futebolística inglesa ao defender que “é a minha filosofia proteger a identidade dos clubes e dos países. Um jogo entre Manchester United e Liverpool deveria ser entre jogadores de Manchester e Liverpool, entre jogadores dessa regiões. No Arsenal, hoje vocês não têm um treinador inglês, nem jogadores ingleses, e, talvez, o clube nem tenha um presidente inglês daqui a bem pouco tempo” [1].

Mais ou menos na mesma época, o legendário Eric Hobsbawm, historiador inglês de cepa marxista, soltava à seleta audiência do The Times Cheltenham Literature Festival, suas sacadas a respeito do futebol como “cartilha das contradições internas do capitalismo no tempo do Estado-Nação” [2].

“O processo que transformou camponeses em cidadãos franceses, bem como imigrantes em estadunidenses, vem sofrendo uma reversão”, apontou Hobsbawm. E completa: “O Estado-Nação está se esfarelando, e não conseguimos nos entender sem ele. De algum modo, o mundo não parece ser completamente globalizável. Da mesma maneira como clubes e o futebol mundial precisam coexistir, a globalização deve coexistir com os interesses nacionais que ainda têm força o suficiente para se estabelecerem.”

O argumento do sábio marxista é simples: tanto o futebol mundial é incapaz de viver sem o futebol nacional como a globalização, completamente livre do Estado-Nação, tornará o mundo algo ingovernável.

Hoje, o Manchester United disputa o campeonato inglês mais por ser uma das mais rentáveis empresas futebolísticas do mundo do que por ter vínculos com Manchester, sua cidade de origem
Platini e Hobsbawm falam do ponto de vista europeu, realidade bastante distorcida para a audiência latino-americana. Imaginamos aqui que os times da Europa, em razão da excelência de suas administrações, tornaram-se grandes pólos atrativos de verbas publicitárias de empresas e, assim, transformaram-se no lugar de trabalho preferencial dos trabalhadores mais competentes do mundo.

Mas é um pouco mais complicado. Hoje, não são exatamente clubes que competem pelas ligas européias, em especial pela Liga Inglesa. Usando os mesmos brasões e cores dos antigos times, corporações altamente internacionalizadas tomaram seu lugar. Sem muita preocupação em manter o vínculo e a identidade local, essas empresas contratam profissionais do mundo todo, transformando o vestiário do time em uma autêntica torre de Babel. Em 2007, na Champions League (o campeonato inter-continental europeu), 95 dos jogadores registrados eram brasileiros, contra 94 franceses e 45 ingleses.

Assim, o fato de um Manchester United disputar a liga inglesa tem, atualmente, mais a ver com o fato de ela ser uma das mais rentáveis empresas futebolísticas do mundo do que seus jogadores, diretores e comissão técnica terem algum vínculo com Manchester, a cidade-sede do time. Nas palavras de Hobsbawm, o futebol tornou-se um negócio global dominado pelo “imperialismo de uma poucas empresas capitalistas”.

Além disso, o que pouca genta fala é sobre como a neutralização da identidade nacional no futebol europeu, visualizada pelo historiador, anda lado a lado com a deslocalização do futebol jogado nos países exportadores de pé-de-obra. A migração desenfreada de jogadores, mais que mudar o jeito como o jogo é jogado nos países recebedores da tecnologia futebolística, transforma, também, o futebol ao Sul.

O processo afeta também as seleções nacionais. Para o mercado, a equipe brasileira é muito mais um item comercializável que uma marca da cultura do país
Não são poucos os que defendem a idéia de uma pasteurização do futebol global. Jogadores retirados novos demais de seus ambientes, antes mesmo de apreenderem os códigos específicos do jogo como conhecido em suas paragens, vão para o Norte. Enquanto isso, ao Sul, jogadores cada vez mais jovens, ansiosos, determinados a receberem noções puras, desnacionalizadas de técnica e tática, prontos para jogarem tanto na Espanha, quanto na Itália, Inglaterra, França ou Ucrânia. Afinal, jogadores adaptados ao futebol europeu têm mais liquidez enquanto ativo financeiro, coisa valiosíssima num mercado tão azeitado.

Isso tudo impacta, além dos clubes, as seleções nacionais. A tensão é clara. Para as forças de “mercado”, o time nacional, mais que uma mediação entre as muitas culturas do futebol nacional e uma ferramenta de sedimentação cultural no debate global, tornou-se uma instância de inserção do futebol brasileiro como item comercializável no mercado internacional de entretenimento.

Por motivos óbvios, não podemos, ainda, exportar a tecnologia toda. Mas nos colocamos como produtor de matéria-prima de excelência. E os estragos são claros.

Existiu um tempo em que a seleção brasileira, mais que gatilho de mercado, parecia ter um papel de diálogo. Primeiro, entre as escolas futebolísticas dos times daqui: cada jogador da seleção representava uma escola de jogo, dependendo do time do qual vinha. Isso porque o Brasil é um país grande, e essa mediação entre escolas de jogo fazia o futebol nacional fazer sentido para todos — do Rio Grande do Sul ao Nordeste. Um time com atacantes cariocas, meias paulistas, volantes mineiros, zagueiros gaúchos, laterais baianos e paranaenses misturava e obrigava todas essas escolas futebolísticas a conversarem entre si, aprenderem e trocarem informações umas com as outras.

Com personalidade forte e bastante nacionalista, Scolari restabeleceu a identidade com o torcedor. Fez o mesmo em Portugal, em 2006, como se fosse técnica de gerenciamento empresarial
De certa forma, até meados da década de 1970, é essa a tensão do futebol brasileiro. A Copa de 1982 parece ter sido o réquiem melancólico da fórmula mágica para o selecionado nacional. A geração de Zico, Sócrates, Júnior e Falcão foi a última a ter, ainda, alguma dificuldade de diálogo com o futebol europeu.

Até que, em 1994, o processo completou-se. Carlos Alberto Parreira conseguiu formar sua seleção com jogadores já com curta passagem pelo futebol nacional. Taffarel, Branco, Mauro Silva, Bebeto, tinham identificação tênue com times brasileiros. Romário era muito mais do Barcelona do que do Vasco. Não fosse a seca de Copas, a comemoração do título teria sido ainda mais pífia do que foi. Final nos pênaltis, vitórias sem empolgação. Zagallo poderia usar todo o pulmão do mundo ao gritar pela “amarelinha” que a sensação não passava: aquilo não era bem o Brasil.

Em 2002, Scolari conseguiu reverter um pouco o quadro. Os tempos de paridade artificial entre dólar e real, em meados da década de 1990, trouxeram de volta ao Brasil, ou seguraram, mesmo que por breves períodos de tempo, os craques mundiais. Rivaldo, Cafu, Roberto Carlos, Kléberson, Denílson, Marcos, Luizão, Júnior, Edmílson eram jogadores que ou atuavam no Brasil, ou tinham passado por times do país muito recentemente. Com apenas duas exceções: Ronaldo, com brevíssima passagem pelo Cruzeiro, e Ronaldinho, que saiu de maneira atribulada do Grêmio.

Com personalidade forte e bastante nacionalista, Scolari restabeleceu, na escalação e no grito, a identidade do torcedor com o selecionado. Conseguiu fazer o mesmo com a seleção de Portugal, em 2006, repetindo a experiência de organizar a seleção e criar uma identidade com o torcedor como se fosse uma técnica de gerenciamento empresarial.

Embora lucrativa para os investidores, esta estrutura corre o risco de desmoronar sobre si mesma. Pior para os clubes, pior para o futebol, pior para os países
Voltando a Hobsbawm, entendemos o curto-circuito em curso atualmente. Como outros teóricos do Estado-Nação, o historiador percebe a identidade nacional não como algo dado, fixo por fronteiras geográficas. A nação é uma comunidade imaginada, uma ligação entre pessoas que se estrutura materialmente na história coletiva, mas se cristaliza na cultura e no sentimento de que todos têm algo em comum.

São os clubes que hoje estão na periferia do futebol que produzem ou garimpam os talentos. Os mesmos que empobrecem progressivamente e cuja ligação simbólica com o torcedor diminui. É a mesma situação das seleções nacionais, formadas, hoje, por cidadãos com dupla nacionalidade ou por pessoas que já passaram mais da metade de suas vidas adultas vivendo no exterior. E nações, como o próprio Brasil, que têm no futebol uma das pedras fundamentais de sua identidade, deixam de se sentir representadas por aqueles onze de chuteiras.

Ou, como sintetizado pelo historiador, “não é a identidade nacional nem local que define a economia do futebol hoje”. O que temos é um consórcio de prósperos times do oeste europeu que constroem a si mesmos como marcas globais, lucrando com a venda de camisetas e direitos internacionais de transmissão dos jogos pela televisão. Sugando os grandes talentos para as ligas européias e tornando-as um produto para consumo global, o novo futebol tira a qualidade dos campeonatos de outras partes do planeta, enfraquece os clubes (e seleções) dos países mais pobres e compete pela preferência do torcedor mundializado.

Enfim, trata-se de uma estrutura que, embora lucrativa para os acionistas/investidores do mercado global de entretenimento, corre o risco de, assentada sobre o esvaziamento da relação entre clubes e cultura de torcida, desmoronar sobre si mesma. Levando junto a identificação das arquibancadas com suas seleções nacionais. Pior para os clubes, pior para o futebol, pior para os países.

[1] Michel Platini calls for reforms to English game Telegraph.com.uk, 27/11/2007.

[2] Football and the old Marxist who says that it explains the new world. TimesOnline, 06/10/2007.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Os dez jogadores de futebol mais bem pagos do mundo

Revista coloca Kaká como jogador mais bem pago do mundo

Do UOL Esporte
Em São Paulo

Eleito pela Fifa como o melhor jogador do mundo na última temporada, o meia-atacante Kaká também é o mais bem pago de todos. Pelo menos é isso o que garante a revista norte-americana Sports Illustrated, que colocou Ronaldinho Gaúcho logo abaixo do atleta do Milan.

Kaká é o único dos dez que mais recebem que está atualmente no futebol da Itália

Apesar de não citar fontes oficiais, a publicação garante que Kaká recebe US$14,9 milhões por ano. Já o jogador do clube catalão teria um salário equivalente a US$14,1 milhões.

Grande parte dos primeiros nomes inclusos na lista atua no futebol inglês. Somente o Chelsea conta com quatro jogadores entre os dez mais bem pagos no mundo: Lampard, John Terry, Shevchenko e Ballack.

Enquanto isso, o ex-capitão da seleção inglesa David Beckham ocupa apenas a 44ª posição. Normalmente colocado entre os atletas que mais lucram, o jogador do Los Angeles Galaxy receberia a quantia de US$7,5 milhões por ano do clube.

Confira os dez primeiros da lista:

1. Kaká (Milan): US$14.9 milhões
2. Ronaldinho (Barcelona): US$14.1 milhões
3. Frank Lampard (Chelsea): US$13.5 milhões
4. John Terry (Chelsea): US$13.5 milhões
5. Fernando Torres (Liverpool): US$13.1 milhões
6. Andriy Shevchenko (Chelsea): US$12.9 milhões
7. Michael Ballack (Chelsea): US$12.9 milhões
8. Cristiano Ronaldo (Manchester United): US$12.7 milhões
9. Thierry Henry (FC Barcelona): US$12.7 milhões
10. Steven Gerrard (Liverpool): US$12.7 milhões

FONTE: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2008/04/02/ult59u151958.jhtm