quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Mídia

"TV digital vai estrear para ninguém", diz diretor da TVA


Por DIÓGENES MUNIZ
Editor-assistente de Ilustrada da Folha Online

No dia 2 de dezembro de 2007, quando a TV aberta brasileira estrear oficialmente sua transmissão digital em São Paulo, haverá menos de 1.000 pessoas --numa cidade com cerca de 11 milhões-- assistindo aos programas em alta definição. Para Virgílio Amaral, diretor de Estratégia e Tecnologia da TVA, este é o quadro mais otimista para início da TV digital no Brasil.

"Vai ser uma estréia para ninguém", diz Amaral, especialista no setor e responsável pela digitalização da TVA. Para ele, a TV digital deve estrear mesmo no ano que vem, turbinada pela transmissão dos Jogos Olímpicos de Pequim. "Não vejo de forma ruim este começo. Afinal, a TV digital vai depender de um processo de aculturamento", pondera.

Para pegar freqüência digital, o telespectador precisará de um aparelho com set-top box (conversor) avulso ou embutido. Se quiser a imagem mais nítida possível, de 1.080 linhas horizontais, terá de comprar um televisor do tipo Full High Definition. Os preços para este tipo de eletrodoméstico começam na casa dos R$ 7 mil, sem set-top box acoplado.

"Muita gente acha que ter uma TV de plasma ou LCD qualquer com um receptor digital embutido já dá para receber o melhor conteúdo em alta definição, quando, na verdade, você precisa de uma Full HD para ter a alta definição total", explica Amaral.

Tanta resolução foi, segundo o governo, um dos principais aspectos para o Brasil escolher o padrão japonês de TV digital (ISDB-T), em detrimento do europeu (DVB), que daria mais opções de canais e de interatividade.

O set-top box, decodificador que receberá o sinal tanto para TVs analógicas quanto digitais, estará a venda já no mês que vem. Seu preço segue nebuloso --governo e indústria cantam em acordes diferentes, oscilando o custo de prateleira de R$ 200 a R$ 800.

Aparelhos com set-top box embutido também chegam ao mercado em novembro. LG e Samsung já confirmaram a entrada neste setor. Outras empresas, como Panasonic e Aiko apostarão nos conversores. A lógica é de que haverá mais mercado para as caixas receptoras do que para novos televisores.

A chance da imagem em alta definição total se transformar num boto tecnológico é alta. "O consumidor que procura uma TV hoje avalia dois aspectos: quantas polegadas tem o aparelho e qual seu preço. Ao consumidor médio, pouco importa esses aspectos mais técnicos", diz o diretor da TVA.

Assim como o diretor-geral da Globo, Octávio Florisbal, ele aposta que o governo precisará expandir seu cronograma de implantação da TV digital. Segundo o ministério das comunicações, o sinal analógico será cortado até 2016, e daí em diante só haverá transmissão digital. Assim como a estréia da TV digital em dezembro, esta seria uma outra data meramente simbólica.

Eterno retorno

Como quase ninguém assistirá à bela imagem da TV digital em sua estréia, supermercados, shoppings, lojas de eletrônicos e até emissoras já começaram a expor TVs Full HD com programação digital de teste pela cidade.

"Isso lembra a estréia da TV a cores. Naquela época, eu só conseguia ver [a novela] Bem-Amado colorida se fosse numa loja. O problema é que ela começava de noite, quando os estabelecimentos já estavam fechando", brinca Amaral, que assistirá à estréia da TV digital em alta definição de sua casa.

Neste sentido, a digitalização da TV aberta lembra ainda as primeiras transmissões televisionadas no país, que fizeram neste mês aniversário de 57 anos.

Na época, Assis Chateaubriand, dono da TV Tupi, distribuiu 200 aparelhos entre lugares estratégicos e mais abastados da capital paulista. Curiosidade: para cumprir o cronograma, Chatô precisou contrabandeá-los dos EUA.

Postagem oriunda de: http://www.piratininga.org.br/

domingo, 21 de outubro de 2007

Livro


A revolução de outubro
de Leon Trotski


"A Rússia, ainda nos dois primeiros meses de 1917, era a monarquia dos Romanov. Oito meses mais tarde os bolcheviques apoderaram-se do leme; eles, que no princípio do na, eram desconhecidos e cujos líderes, no momento mesmo de acesso ao poder, foram acusados de alta traição. Não encontramos na História outro exemplo de uma reviravolta tão brusca, sobretudo se nos lembrarmos de que se trata de uma nação com 150 milhões de habitantes. Claro está que os acontecimentos de 1917 – de qualquer prisma que os consideremos – merecem ser estudados."

Assim Trotski abriu sua monumental História da Revolução Russa, em três volumes, escrita em 1930, quando já não estava no poder. Antes desse grande e completo relato, fez um primeiro esboço – cujo resultado é o precioso livro que as editoras Boitempo e Iskra trazem ao leitor brasileiro no 90º aniversário da Revolução Russa – como introdução ao processo a que Eric Hobsbawm se referiu com estas contundentes palavras: "A Revolução de Outubro teve repercussões muito mais profundas e globais que a Revolução Francesa (1789) e produziu, de longe, o mais formidável movimento revolucionário organizado da história moderna."

Trotski, com a maestria de quem capta a essência do processo histórico, explica esse momento único em que o "assalto ao céu" de que falava Marx se produziu – ou melhor, foi produzido pela combinação das condições concretas e da audácia e do espírito de vanguarda de Lênin e seus companheiros – pela primeira vez como poder proletário. A tomada do poder pelos bolcheviques é descrita por Trotski com perspicácia incomum, no foi condutor que promoveu a "atualidade da revolução" no século XX.

Noventa anos depois da primeira revolta proletária vitoriosa da história da humanidade, quando a própria palavra revolução vem sendo excluída do vocabulário ou se banalizando, a leitura desta obra representa uma excelente contribuição à luta contra o capitalismo – ainda hoje o inimigo central, não apenas do socialismo, mas de toda e qualquer forma de humanismo no planeta. – Emir Sader

A edição conta ainda com uma cronologia sobre a revolução russa e a constituição da república soviética e um artigo inédito de John Reed, "Os sovietes em ação”, publicado originalmente em 1918 no The Liberator, dirigido por Max Eastman, e traduzido por Beatriz Medina a partir do original em inglês.

Sobre o autor Leon Trotski nasceu Liev Davidovitch Bronstein, na Ucrânia, em 1879. Foi, depois de Lenin, o dirigente mais importante da Revolução deOutubro. Presidente do Soviete de Petrogrado, em1917; comissário do povo para Negócios Estrangeiros após a vitória da revolução. Principal organizador e dirigente do Exército Vermelho na guerra civil. Na luta pelos rumos do partido e da União Soviética, Trotski acabou expulso do partido, em 1927, e da União Soviética, em 1929. A mando de Stalin, foi assassinado, em agosto de 1940, em seu exílio no México, dois anos depois de ter fundado a IV Internacional.

Ficha técnica do livro
Título: A revolução de outubro
Autor: Leon Trotski
Título original: Oktiabrskaia Revoliutsia
Tradutora: Daniela Jinkings
Páginas: 192
ISBN: 978-85-755-9103-1
Orelha: Emir Sader
Editoras: Boitempo e Iskra
Preço: R$ 29,00

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Racismo


Africano é menos inteligente, diz Nobel
Americano James Watson, co-descobridor da estrutura do DNA, dá declaração de cunho racista a jornal

Richard Carson/Reuters
O biólogo James Watson, durante palestra em universidade


DA REPORTAGEM LOCAL

Uma entrevista do biólogo James Watson, 79, com declarações racistas anteontem a um jornal britânico atraiu uma enxurrada de críticas de cientistas, sociólogos, políticos e ativistas de direitos humanos.
Watson, ganhador do Prêmio Nobel por ter descoberto a estrutura do DNA juntamente com Francis Crick, em 1953, afirmou ao jornal britânico "The Sunday Times" que africanos são menos inteligentes do que ocidentais e, em razão disso, se declarou pessimista em relação ao futuro da África.
"Todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles [dos negros] é igual à nossa, apesar de todos os testes dizerem que não", afirmou o cientista. "Pessoas que já lidaram com empregados negros não acreditam que isso [a igualdade de inteligência] seja verdade."
A declaração verbal foi apenas um jeito um pouco menos delicado de expor o que ele já havia escrito em seu recém-lançado livro "Avoid Boring People" (Evite Pessoas Chatas): "Não há razão firme para crer que as capacidades intelectuais de pessoas geograficamente separadas evoluam de maneira idêntica. Nosso desejo de considerar poderes iguais de raciocínio como uma herança universal da humanidade não vai se prestar a isso."
Pessoas que apontaram erros na declaração de Watson afirmam que a reação ao cientista precisa ser contundente. O cientista chegou ontem a Londres para divulgar seu livro, e já foi recebido com críticas -teve uma palestra cancelada no Museu de Ciência de Londres.
"Isso é Watson no nível mais escandaloso", disse Steven Rose, fundador da Sociedade para Responsabilidade Social em Ciência do Reino Unido. "Ele já havia dito coisa parecida sobre mulheres, mas eu nunca o ouvira entrar no terreno do racismo. Se ele conhecesse literatura sobre o assunto, saberia que está totalmente enganado cientificamente, além de socialmente e politicamente."
Dono de opiniões polêmicas, Watson ganhou o apelido de "Honest Jim". Em seu livro "Genes, Girls and Gamow", Watson se declarou favorável a um tratamento genético para deixar mulheres feias mais bonitas. Em outra ocasião, defendeu o direito ao aborto, se as grávidas pudessem saber se a criança nasceria homossexual.
Entre os cientistas que reagiram de maneira mais dura contra Watson estão os próprios geneticistas.
"Definitivamente, isso não faz sentido nenhum e é totalmente estapafúrdio", disse à Folha Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais. "É uma falácia de autoridade. Ele não é especialista no estudo de evolução de populações humanas. Ele estuda biologia molecular pura."
Pena, cujo trabalho sobre populações brasileiras contribuiu em grande medida para derrubar o conceito biológico de raças humanas, afirma que a maioria das pessoas "não vai levar Watson a sério", mas que ele pode "inflamar os ânimos" daqueles que já são racistas.
Sobre a situação da África, Pena diz que nem sequer é uma questão de inteligência. "O Watson confunde uma situação histórica e social da África com uma situação biológica", disse. "O que acontece é que os africanos foram vítimas de uma colonização brutal por parte dos europeus." (RAFAEL GARCIA)
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Com "The Independent"
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1810200703.htm

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Simplesmente Veríssimo

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Educação

Não é a primeira vez que dados educacionais preocupantes se resumam a simples notas de canto de página. Foi o que aconteceu, mais uma vez, com o que segue abaixo.

"A Região Metropolitana de Salvador apresentou o pior índice de defasagem escolar do Brasil. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o levantamento de indicadores sociais, produzido em 2006, a RMS tem 33,1% dos estudantes do ensino médio com idade destoando da série escolar. De acordo com o IBGE, a defasagem escolar é maior nas últimas séries do ensino fundamental"

A TARDE, 29/09/2007 - Pág. 11 do Caderno Salvador & Região Metropolitana

Um outro dado, este de 2004, que também não teve repercussão devida no país,foi o chamado relatório PISA (Project for International Student Assessment), elaborado pela OCDE (Organização de cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Esse projeto "visa avaliar se, ao completarem a escolaridade obrigatória, em torno dos 15 anos, os jovens dominam as competências essenciais que lhes possibilitem continuar aprendendo ao longo da vida".

Para não encompridar a conversa, basta dizer que o Brasil participou, junto com mais 40 países, desse processo de avaliação, ficando nas "piores posições em todos os itens avaliados". Na verdade, o Brasil ficou em último lugar no ranking.

Embora esses dados nacionais (pois o regional, citado no início, saiu do forno agora) date de 2004, nada nos autoriza dizer que a realidade mudou.

Mas se mudou, admitamos, foi para continuar a mesma coisa.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Tropa de elite



Retirado do Boletim do NPC, n. 112
http://www.piratininga.org.br/

Democratizar a comunicação

O dono da Record, o bispo Edir Macedo, em discurso na cerimônia de inauguração do canal de notícias Record News, que promete 24 horas de cobertura jornalística ininterruptas, criticou o monopólio da Rede Globo de televisão. Segundo as palavras do bispo, “Nós fomos injustiçados por muitos anos nas mãos de um grupo de comunicação que mantinha, mantém, por enquanto, o monopólio da notícia no Brasil. Daí surgiu o nosso desejo em levar o fim desse monopólio, de dar às pessoas o direito de se informarem por um outro canal de notícias, de formarem opinião (sic) por si mesmas. Daí surgiu o nosso desejo em democratizar a informação. Por isso, lançamos hoje a Record News, o primeiro canal exclusivo de notícias da TV aberta do Brasil”.

No material divulgado pela UOL NEWS, cujo link que permite a assistência ao breve pronunciamento descrito acima é http://videos.uol.com.br/video/bispo-edir-macedo-critica-monopalio-da-globo-0402C0A97327 , não há como saber o que o bispo quer dizer por “nós”, se ele se refere aos seus fiéis ou a todo o povo brasileiro. Também não fica claro se ele quer substituir o monopólio da globo por um outro, no caso, obviamente, o monopólio da Record.

O fato é que a situação abre possibilidade para um debate crucial no mundo contemporâneo, o da democratização da mídia e não somente das informações, como é o desejo do bispo, pois entendemos que os argumentos que defendem a democratização da informação sem abordar a necessidade de democratizar as mídias que as difundem não passam de falácias, e o mês de outubro aparece como fundamental para desconstruir essas falácias, já que é neste mês, precisamente no dia 5, que vencem as concessões da TV Globo, que segundo a revista fórum, em sua editoria, “é responsável por muito do que o Brasil tem de ruim na sua história política recente”.

Nesse sentido, seja a “santa” Record, ou a “amorosa” platinada, ou qualquer outra, concretamente o que interessa debater é o fato destas serem concessões públicas, portanto devem estar direcionadas aos interesses públicos e não privado-corporativos.

Precisamos aproveitar o momento para ampliar os questionamentos sobre os critérios usados nas concessões dos canais de televisão no Brasil.

Voltaremos a tocar no assunto.