quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sobre cordas e berimbaus

A entrevista do Senhor Antônio Dantas, coordenador do curso de medicina da UFBa, concedida à Folha de São Paulo ontem é apenas mais uma expressão do racismo que impera no Brasil de uma forma geral e na Bahia em especial. É o mesmo racismo que aos ventos, de norte a sul deste país, insiste em dizer que baiano é preguiçoso, que não gosta de trabalhar, que paraibano só faz coisa errada, que o sergipano só tem de bom o caranguejo e por aí afora.

Reconhecer no berimbau apenas uma corda, é miopia de uma mente que de tão brilhante, queimou os seus próprios neurônios, é não reconhecer que um instrumento como o berimbau é síntese de um processo histórico de luta e resistência. Quem só ouve uma nota só no berimbau é quem tem ouvido ariano.

E vejam que ironia. Na semana retrasada, a Universidade Federal da Bahia, em justíssima homenagem, ortogou o título de Doutor Honoris Causa ao Mestre Pastinha, Mestre esse que sempre teve na Capoeira a sua expressão de vida e de luta e que sempre viu no Berimbau muito mais do que corda, arame e pau.

O título ortogado é atribuído apenas à personalidade que se tenha distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.

Para o doutor dantas, isso é impossível, já que se trata de um capoeirista, tocador de berimbau, simples "pedaço de arame, pedaço de pau".

Fico também imaginando como deve ser composta a Faculdade de Música da UFBa e a Orquestra Baiana de Músicos. Se tomarmos como referência os argumentos do doutor dantas, lá não existem baianos, já que os instrumentos que lá ressoam, têm mais de uma corda. Todos os alunos devem ser oriundos do sul e sudeste do país ou da europa.

Por fim, desejo que as cordas vocais do senhor doutor dantas tenha a mesma dignidade da única corda do Berimbau e ressoem palavras e cantos de luta e justiça.

3 comentários:

Edson disse...

Esse senhor conseguiu com uma entrevista reproduzir o darwinismo social que impera nesta terra há mais de 500 anos. Talvez ele não conheça Castro Alves ou, um mais contemporâneo: o ilustre Milton Santos. Creio que já está na hora dele voltar para a sua região de origem. "Pobre" faculdade de Medicina...

Edson.

Anônimo disse...

Você escreve errado. Em vez de "Assistir para vê", o correto é: "Assisti para ver"

Anônimo disse...

Oi, anônimo. Penso que o seu comentário serve para uma outra postagem, não? Pois nessa eu não escrevo nada referente a "Assistir para vê". Vou procurar ver qual é e fazer a devida correção. De qualquer forma, um muito obrigado pela visita e continue atento nas leituras dos textos e do mundo!!!