terça-feira, 13 de maio de 2008

A Vingança do Berimbau

AUTORIA: Miguezim de Princesa


Superado pelo tempo,

Ensinando muito mal,

Fabricando mil diplomas

Para entupir hospital,

O doutor da faculdade

Botou, com toda maldade,

A culpa no berimbau.

II

Disse o doutor Natalino

Que o baiano é um mocó,

Sem coragem e inteligência,

Preguiçoso de dar dó,

Só liga pra carnaval

E só toca berimbau

Porque tem uma corda só.

III

O sujeito ignorante

Não conhece o berimbau,

Que atravessou o mundo

Com toda a força ancestral.

Na fronteira da emoção,

Traz da África a percussão

Da diáspora cultural.

IV

Nem Baden Powel resistiu

À percussão milenar,

Uma corda a encantar seis

Na tristeza camará

De Salvador da Bahia.

Quem toca e canta poesia

Na dança sabe lutar.

V

O doutor, se estudou,

Na certa não aprendeu nada:

Diz que o som do Olodum

Não passa de uma zoada

E a cultura baiana

É uma penca de bananas,

Primitiva e atrasada.

VI

Jimmy Cliffi, Michael Jackson,

Paul Simon e o escambau

Se renderam ao Olodum

Com seu toque genial,

Que nasceu no Pelourinho

E hoje abre caminho

No cenário mundial.

VII

O baiano é primitivo?

Veja só o resultado:

Ruy foi o Águia de Haia;

Castro Alves, verso-alado

De poeta condoreiro,

E gente do mundo inteiro

Se curvou a Jorge Amado.

VIII

Bethânea, Caetano e Gil,

Armandinho, Dodô e Osmar,

Gal Costa, Morais Moreira,

Batatinha a encantar

João Gilberto, Bossa Nova

Novos Baianos são prova

Da grandeza do lugar.

IX

Glauber, no Cinema Novo;

Gregório, velha poesia;

Gordurinha, no rojão;

Milton, na Geografia;

Anísio, na Educação;

Dias Gomes, na encenação;

João Ubaldo e Adonias.

X

Menestrel da cantoria

Temos o mestre Elomar,

Xangai, Wilson Aragão,

Bule-Bule a improvisar,

Roberto Mendes viola

A chula - semba de Angola,

Nosso samba de além-mar.

XI

Se eu fosse citar todos

Que merecem citação,

Faria um livro de nomes

Tão grande é a relação.

Desculpe, Afrânio Peixoto,

Esse doutor é um roto

Procurando promoção!

XII

Com vergonha do que fez:

Insultar toda a Nação,

O tal doutor Natalino

Pediu exoneração

E não encontra ninguém,

Nem um nazista do além,

Para tomar a lição.

XIII

O baiano é pirracento,

Mas paga com bem o mal:

Dá uma chance a Natalino

Lá no Mercado Central

De ganhar alguns trocados

Segurando o pau dobrado

Da corda do berimbau.

4 comentários:

Izabel Cristina Andrade disse...

Que maravilha!!!!
Parabéns pela iniciativa!
Izabel
Sátiro Dias- Bahia

Anônimo disse...

Eta vingança porreta,
assim que eu gosto de ver
isso denota nobreza
pra quem quiser aprender

Aplausos de pé.
Parabéns!

Anônimo disse...

Excelente texto!
Receba meus PARABÉNS, com grandes aplausos.
Pois só pessoas sensíveis e cultas como você respondem desta maneira ao que se diz:"Professor".
Vale uma reflexão: Já imaginou quantos negros ele pode ter acesso a mesa de cirurgia?
O que será que aconteceu?
Iraildes
Salvador- Bahia

Anônimo disse...

Perfeito !