terça-feira, 28 de outubro de 2008

A volta do Velho

Com a crise financeira até banqueiros estão comprando e lendo(!) “O Capital”. O livro virou um best-seller. Motivo: entender como o capitalismo pode devorar a si mesmo, que é o que está acontecendo. Há 20 anos o capitalismo obteve uma vitória destruidora sobre o comunismo. Hoje, parece não poder se recuperar de sua vitória.

Flávio Aguiar

Pois é. Karl Marx e “O Capital” estão de volta. A notícia já correu o mundo, do Alaska à Patagônia, do Caribe ao Japão, através dos dois oceanos.
Mas o que ela significa ainda não. Fica oculta nas dobras da crise financeira que ora se abate sobre o planeta.

A notícia é a de que com a crise financeira até banqueiros estão comprando e lendo(!) “O Capital”. O livro virou um best-seller. Motivo: entender como o capitalismo pode devorar a si mesmo, que é o que está acontecendo. Há 20 anos o capitalismo obteve uma vitória destruidora sobre o comunismo. Hoje, parece não poder se recuperar de sua vitória.

Marx explica, sobretudo, que o Capital é um fetiche. Que além de criar a si mesmo, e procriar, como mãe que se auto-fecunda, ele cria uma imagem de si mesmo que fascina todos, e diante da qual todos se entregam. Foi, de um modo exacerbado, o que aconteceu nos últimos decênios. E por isso mesmo os que o cultuam perdem a capacidade de controla-lo, quer dizer, de controla-lo dentro de si mesmos.

Assim posto, o fenômeno de que as venda de “O Capital” de Marx triplicaram na Alemanha dos últimos dias não surpreende.

Mas há mais no estádio, dentro e fora. Na Alemanha, a preferência pela esquerda cresce. Sinais:

1) O Partido Social-Democrata, o SPD, escolheu no ano passado um jovem político como novo líder, Kurt Beck. Descrito como “populista” (pela imprensa liberal e conservadora), Beck se opunha à tendência direitista que empalmara o partido nos anos 90, e que se consagrara recentemente, quando o SPD passou a integrar uma coalizão com a CDU (União Democrata-Cristã), para governar o país numa condição minoritária.

2) A resistência no SPD foi enorme. O partido ameaçou rachar. Resultado: com a pressão da cúpula, apesar do apoio das bases, Beck renunciou ao cargo, em função de lançar a candidatura de um político com perfil mais conservador ao cargo de líder e de futuro primeiro ministro (se o partido obtiver maioria no parlamento nas eleições do ano que vem).

3) Paralelamente, dissidentes do SPD e remanescentes do Partido Comunista da DDR (Alemanha Oriental) fundaram o partido Die Linke, A Esquerda, que vem crescendo e ganhando adeptos em toda a Alemanha. O partido cresce em intenções de voto. Informes extra-oficiais dizem que na antiga DDR ele já contaria com 30% das opções.

4) Os jovens precisam, e manifestam cada vez mais, uma ponte com o seu passado histórico. Isto compreende os jovens da parte oriental da Alemanha, que cada vez mais rememoram o mundo comunista como um de pleno emprego, e os da parte ocidental, que, no fundo, percebem a mesma coisa.

5) Com os mais velhos acontece o mesmo. Sentem-se “roubados” dentro da cena capitalista, que lhes roubou empregos e com eles o sentimento de dignidade.

Portanto, o que se pode concluir é que a presente crise, se não arranhou o poder do capital, arranhou sua imagem-fetiche. E que o Velho Marx está de volta. Até porque não é tão velho assim.

Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.

FONTE: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4014&boletim_id=479&componente_id=8431

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Desigualdade de renda aumentou no mundo e pode piorar com a crise

Apesar do emprego em todo o mundo ter crescido 30% entre 1990 e 2007, a desigualdade de renda aumentou e pode piorar com a atual crise financeira. A informação é de relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho), sediada em Genebra, na Suíça.

Sálarios x Produtividade

China teve os maiores aumentos porcentuais tanto nos salários quanto na produtividade entre 1990 e 2004, seguida da África do Sul. No Brasil, a produtividade evoluiu mais que os salários, que chegaram a sofrer uma queda de mais de 2% entre 1995 e 2004.

Dois terços dos 85 países estudados tiveram aumento na desigualdade entre 1990 e 2000, segundo o relatório. Até 2005, o período viu uma disparidade de 70% entre os rendimentos de 10% dos assalariados mais ricos e os 10% mais pobres.

Para a OIT, o dado representa um aumento na distância entre os altos executivos e o empregado médio. Em 2007, por exemplo, os diretores executivos das 15 maiores empresas americanas receberam salários 520 vezes maiores do que o do trabalhador médio. Em 2003, eles eram 360 vezes maior.

Desigualdade

Menos de um terço dos países conseguiu diminuir a desigualdade de renda. Entre eles, o Brasil e o México.

Os salários também diminuiram sua participação no total da renda da população em 51 dos 73 países que foram avaliados neste critério. A América Latina e o Caribe tiveram a maior queda porcentual, de 13%. A região foi seguida pela Ásia e Pacífico, com recuo de 10%, e das chamadas Economias Avançadas, com 9%.

Dispersão

Os maiores índices de dispersão salarial foram vistos no Brasil, na Índia, na China e nos Estados Unidos. Os menores, na Bélgica e nos países nórdicos.
A entidade afirma ainda que os trabalhadores foram menos beneficiados pelo ciclo de crescimento econômico das últimas duas décadas do que em períodos de expansão anteriores. Assim, a atual desaceleração da economia mundial deverá afetar "de maneira desproporcional os grupos de baixa renda" e intensificar as desigualdades.

FONTE http://noticias.uol.com.br/ultnot/2008/10/16/ult23u2637.jhtm

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Capitalismo seguirá igual

diz Chomsky
Crítico de Bush, lingüista diz que governo evita palavra "estatização" para que público não reivindique direito de interferir

Intelectual de esquerda descarta o surgimento de um novo capitalismo pós-crash, com maior presença do Estado na economia

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Um dos intelectuais de esquerda mais respeitados do planeta, o lingüista Noam Chomsky, acha que a estatização total ou parcial do sistema financeiro dos EUA não vai ocorrer por causa da atual crise.
Colocaria em risco o que ele classifica de "tirania privada".
Por essa razão os governos do mundo desenvolvido evitam usar o termo até mesmo quando se trata de assumir o controle, ainda que só por algum tempo, de alguns bancos e corretoras que faliram por causa da crise atual.
Aos 79 anos, Chomsky leciona no MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma das mais renomadas instituições de ensino superior dos EUA.
Para ele, se o governo norte-americano assumisse publicamente algumas de suas ações como "estatizações", abriria tecnicamente espaço para que os cidadãos do país também passassem a reivindicar o poder de interferir na condução do sistema. Até porque, diz o lingüista, "em princípio, o governo representa o público".
A possibilidade de um novo tipo de capitalismo surgir no pós-crash, com maior presença do Estado, é um cenário descartado por Chomsky. "A economia já é altamente dependente da dinâmica do setor estatal. É um sistema no qual o público paga os custos e assume os riscos, e os lucros são privados. Eu não vejo nenhuma indicação de que as instituições básicas do capitalismo de Estado estejam prestes a serem significativamente modificadas. É claro que a liberalização será reduzida, mas no interesse das instituições financeiras que vão sobreviver", diz ele.
A seguir, trechos da entrevistas de Chomsky concedida à Folha por e-mail.

FOLHA - Por que o governo dos EUA e banqueiros evitam expressões como "nacionalizar" ou "estatizar" ao falar dos pacotes de resgate para bancos nos quais haverá dinheiro público ou compra de ações pelo Estado?
NOAM CHOMSKY - Nós vivemos numa cultura altamente ideológica na qual "estatização" é uma palavra que põe medo, como "socialismo" (ou, para muitos, até "liberal"). A propósito, esse é um assunto sério. Se o Wells Fargo compra o Wachovia, então tudo fica dentro do setor privado -ou seja, dentro do sistema de tirania privada no qual o público não tem voz, em princípio. Dentro do sistema ideológico isso é chamado "livre mercado" e "democracia". Se [Henry] Paulson dá dinheiro público para bancos mas sem o direito de tomar decisões dentro dessas instituições, trata-se de um distanciamento da tirania pura chamada "liberdade", mas não muito. Se o governo adquire ações com poder de decisão dentro dos bancos, há sempre o risco de o público então também poder interferir -uma vez que, em princípio, o governo representa o público. Essa ameaça de democracia é muito mais severa para ser aceitável dentro do sistema doutrinário reinante.
Um aspecto intrigante do sistema é que o governo é visto como uma força externa, separada da população. E em muitos círculos, é interpretado como força opressora da população.
A idéia de o governo ser "para e pelo povo" é restrita a discursos patriotas e aulas de civismo nas escolas. Ou deveriam ser.

FOLHA - A onda de intervenção do Estados nas instituições financeiras será revertida no futuro ou haverá um novo cenário no qual mais bancos passarão de maneira perene a ser controlados pelo poder público?
CHOMSKY - A estatização completa é muito improvável pelas razões que eu mencionei. Uma ação nessa direção traria junto uma ameaça de democracia, ou seja, uma ameaça de o público se tornar envolvido nas tomadas de decisões sobre o sistema socioeconômico. O principal filósofo americano do século 20, John Dewey, observou que enquanto o público não ganhar controle efetivo das principais instituições da sociedade -financeiras, industriais, mídia etc.- a política permanecerá como "uma sombra dos negócios sobre a sociedade". Naturalmente, esse é o tipo de negócio que o mundo prefere. E a sua dominância sobre os sistemas doutrinários e políticos é tão enorme que a tirania privada é chamada de "democracia".
Já a ameaça de haver democracia real é chamada de "ameaça da tirania".

FOLHA - Esta é a pior crise econômica-financeira desde a Grande Depressão dos anos 30? Seria também o prenúncio de grandes mudanças no capitalismo como hoje o conhecemos?
CHOMSKY - Tem sido vista como a pior crise desde aquela época. Mas ainda não sabemos o quão severa será a crise econômica que está por vir.
Também acho que devemos ser cautelosos ao usar o termo "capitalismo". O sistemas existentes são de uma outra forma, um capitalismo de estado. Tem havido muita discussão sobre se o público deverá bancar o custo e o risco das operações de salvamentos dos bancos, mas essas lamentações -até por economistas que deveriam conhecer melhor as coisas- estão baseados na insatisfação ao se enfrentar a realidade de como a economia funciona.
A economia já é altamente dependente da dinâmica do setor estatal para que haja inovação e desenvolvimento. É um sistema no qual o público paga os custos e assume os riscos. Os lucros são privados. Eu não vejo nenhuma indicação de que as instituições básicas do capitalismo de Estado estejam prestes a serem significativamente modificadas. O sistema financeiro já foi alterado, com o colapso do modelo de bancos de investimentos. Já se reconheceu décadas atrás que a liberalização dos anos 70 embutiam um risco severo de crises repetidas e profundas. É claro que a liberalização será reduzida, mas no interesse das instituições financeiras que vão sobreviver. É possível que a retórica hipócrita do mercado fundamentalista seja também um pouco mais contida.

FOLHA - O sr. era jovem nos anos 30, mas vê semelhanças entre aquela crise a atual?
CHOMSKY - O desemprego era maior, mas essa é apenas uma das diferenças. Entre as semelhanças, creio que assim como naquela época, agora estamos indo em direção a um grande depressão.

FOLHA - Os últimos governos tomaram decisões liberalizantes para o mercado. Tanto o de George W. Bush como o de Bill Clinton -neste último, quebrando o muro que separava bancos comerciais de bancos de investimentos. Democratas e republicanos são igualmente responsáveis?
CHOMSKY - A responsabilidade pela situação atual é dos dois partidos. Alertas foram ignorados. No fundo, republicanos e democratas são ambos facções de um "partido dos negócios".
São um pouco diferentes, mas operam dentro da mesma estrutura institucional. Então não me parece ser uma surpresa que a culpa seja compartilhada. O problema é que essa discussão toda ignora o fato crucial da liberalização financeira: o seu impacto em solapar a democracia.

FOLHA - Quem o sr. acredita estar mais bem preparado para assumir a Casa Branca.
CHOMSKY - Barack Obama, provavelmente. Ao longo do tempo, a população se dá economicamente de maneira melhor com os democratas. Eles têm se movido à direita em políticas socioeconômicas. Mas John McCain é um descontrolado. É difícil saber o que ele poderia fazer. E os interesses que ele representa são extremamente perigosos para os EUA e para o mundo. Também para a esfera econômica.

FOLHA - Fala-se em num novo Bretton Woods, uma nova estrutura econômica mundial. Quem poderia liderar esse processo?
CHOMSKY - O poder ainda reside primeiramente nos EUA. Depois, na Europa. Apesar da diversificação na Ásia, o que vejo ainda é o G7 tomando a frente nesse papel de reformar o sistema.

FOLHA - Que tipo de capitalismo vai emergir da atual crise?
CHOMSKY - O capitalismo de Estado será provavelmente muito parecido ao atual, com um pouco mais de regulação e controle sobre as instituições financeiras, que serão reconstruídas (com os bancos de investimento). Mas não há indicações, pelo menos agora, de mudanças dramáticas.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1410200830.htm

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Por Olimpíada de 2016, COI vai monitorar das contas do Pan

Do UOL Esporte
Em São Paulo

O Comitê Olímpico Internacional (COI) está acompanhando a investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) nos números dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, de 2007. Segundo o presidente da entidade, o assunto será discutido com as autoridades responsáveis pela candidatura carioca para organizar os Jogos Olímpicos de 2016.

"Tenho certeza que vamos receber cópias e olharemos essas questões", afirmou o presidente do COI, o belga Jacques Rogge, ao Estado de S. Paulo. "Não acho que o comitê que avalia as candidaturas será afetado pelo fato de as contas do Pan estarem sendo auditadas, mas certamente vamos ver de todas as maneiras esse ponto", completou o dirigente.

Rogge confirmou que a missão de avaliação do COI irá visitar o Rio de Janeiro em março, quando o TCU já deve ter concluído da avaliação das contas do Pan, de acordo com o Estado. O órgão governamental apresentou na semana passada o relatório sobre o evento do ano passado, com vários questionamentos.

O documento, assinado pelo ministro Marcos Vilaça, reclamava do aumento excessivo do orçamento, segundo ele de 1.289 %. O TCU considerou o responsável pelos problemas o Ministério dos Esportes, isentando parcialmente o Comitê Organizador dos Jogos, formado pelas mesmas pessoas que encabeçam a candidatura Rio-2016.

FONTE: http://esporte.uol.com.br/ultimas/2008/10/01/ult58u1194.jhtm