terça-feira, 6 de novembro de 2007

Sobre a Copa 2014

Olá, pessoal. Segue abaixo o que deu para garimpar até agora sobre Copa 2014. Esta semana, quando sobrar tempo, vou buscar as matérias que foram publicadas na Folha neste fim de semana e disponibilizar também no blog.

Só lembrando que a Carta Capital desta semana veicula matéria de capa com seis páginas sobre o tema, conforme o artigo do Dimes, referência para as minhas garimpagens.

Abraços fraternos

Welington
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http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=458JDB001

COPA 2014 NA MÍDIA
Oba-oba escapou dos cadernos esportivos: ficou pior
Por Alberto Dines em 6/11/2007


Parecia consensual: quando os desdobramentos políticos, jurídicos ou policiais da cobertura esportiva conseguissem transpor o condomínio dos cadernos especializados, suas mazelas e, sobretudo, a corrupção ganhariam uma exposição capaz de acabar com a impunidade que envolve estádios, pistas e quadras.
O raciocínio era perfeito: por mais que se esgoelem os jornalistas indignados com o que acontece além dos placares, o leitor jamais abdica da sua condição de torcedor – quer vibrar, xingar e sofrer comprometido com as suas cores e seus ídolos. E, para agradá-lo, as preferências vão, em geral, para o ângulo do esporte-paixão. O futebol-vergonha fica sempre em desvantagem.
A escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014 produziu, no dia seguinte (quarta-feira, 31/10), promissoras manchetes não-esportivas. No final de semana, desvaneceram-se as esperanças de uma cobertura eficaz, séria, não-esportiva.
Em parte: o artigo "O Imperador da Copa" da comentarista de política Dora Kramer (Estadão, sábado, 3/11, pág. 6) sobre as incríveis reinações do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, lavou a alma daqueles que têm noção do esgoto que corre debaixo dos gramados. Uma das mais contundentes peças já saídas da afiadíssima pena da jornalista (e maratonista).
A capa da revista CartaCapital (7/11) com o mesmo Ricardo Teixeira de cartola (evidentemente transferida para a sua cabeça graças aos recursos do Photoshop) não foi uma idéia feliz, mas a possante reportagem de seis páginas sobre o "oligarca do futebol nacional" exibe o potencial de malfeitorias, ilícitos e delinqüências escondido nos subterrâneos do futebol.
As decepções vão por conta dos cadernos ditos de idéias dos jornalões paulistanos, o "Aliás" do Estadão e o "Mais" da Folhona (domingo, 4/11). Lamentáveis.
Corrupção, só en passant
Evidencia-se mais uma vez que ambos perseguem o mesmo leitor/leitora tipo mauricinho/patricinha até capazes de ler alguns parágrafos de uma pensata (argh!), mas incapazes de manter o ceticismo e o espírito crítico permanentemente acesos. No "Aliás", as duas matérias (entrevista com o historiador do esporte Hilário Franco Jr., da USP, e texto do sociólogo José de Souza Martins, idem) são extremamente ricas em percepções fenomenológicas e análises políticas, tratam da corrupção, mas en passant – a edição não as valorizou. Futebol e cobertura de futebol são negócios, e com faturamento não se brinca.
Exatamente a mesma coisa aconteceu no congênere da Folhona. Ao analisar as "implicações políticas, econômicas e sociais de o Brasil sediar a Copa do Mundo", o "+Mais" ficou "–Menos", apesar do número maior de matérias (quatro).
Nenhum dos dois jornalões teve a coragem de encarar um dado concreto: o episódio Copa 2014 é indecente. Ricardo Teixeira vai ganhar uma montanha de dinheiro, armou um esquema que o converterá num dos homens mais poderosos do país e, de quebra, obteve um habeas corpus até 2014. Como conseguiu? Baseado nos mesmos pressupostos morais que permitiram a construção de um monstruoso edifício chamado mensalão.
Só que desta vez a mídia será cúmplice.

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O Estadão

Sábado, Novembro 03, 2007

DORA KRAMER

O imperador da Copa

A contar pelos sinais exteriores de poder, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, é personagem importantíssimo - por que não dizer, fundamental e imprescindível - na ordem das coisas relativas à realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil em 2014.

Portanto, natural que os seres desprovidos de familiaridade com o tema (cidadãos de segunda, forçoso admitir e se conformar) estranhem o grau de submissão de tudo e de todos a este senhor.

Ricardo Teixeira, informam os jornais, briga com Pelé e deixa de fora do anúncio da Copa brasileira nosso maior símbolo mundial, substituindo-o por Romário, cuja distância de Pelé em termos de representação do esporte dispensa apresentações.

Teixeira não quer ver negócios obscuros (lavagem de dinheiro) do futebol investigados por uma comissão de inquérito no Congresso e consegue o apoio de governadores de Estado para comandar ações de retirada de assinaturas ao requerimento da CPI na Câmara e no Senado.

Mais, consegue a retirada das assinaturas em número e tempo recordes, coisa que nem o presidente da República conseguiu para evitar investigações do Parlamento.

Diz num dia que a Fifa ameaça retaliar contra o Brasil se houver CPI, no dia seguinte é desmentido pelo presidente da federação, Joseph Blatter, e ninguém fala nada. Nenhum daqueles governadores presentes à caravana holiday que foi a Zurique acompanhar o anúncio emite um som a respeito. Nem que seja para estranhar a incongruência entre a ameaça e a negativa dela.

No lugar disso, mal chegam ao Brasil e começam a atuar em conformidade com os interesses de Ricardo Teixeira, subordinando atos do Parlamento às conveniências de um dirigente. É de se perguntar: o senhor presidente da CBF pretende deles uma blindagem durante os próximos sete anos?

Tudo o que acontecer no Brasil relativo à Copa e ao futebol, à organização do campeonato, à fiscalização de gastos, dever ser submisso às vontades e necessidades de Ricardo Teixeira? O lobby dos governadores para a realização de jogos em seus Estados os obriga a se abster de senso crítico? E o País, ficará submetido às mesmas normas?

Os primeiros acordes da sinfonia - que do ponto de vista político começou desafinada - indicam que sim. A petulante patriotada do senhor Teixeira, dando-se a arroubos de indignação com uma jornalista canadense que pôs na coletiva o óbvio tema da violência, não causou desconforto na comitiva de excelências. Ao contrário. Quem não calou, aplaudiu.

Mas, vai ver as coisas são para ser assim mesmo e quem não priva da intimidade das circunstâncias futebolísticas estranha de bobo que é.

Vai ver tudo aconteceu da mesma forma em outros países-sede da Copa. O presidente local do equivalente à CBF comandou governadores, interferiu em ações do Congresso, subtraiu do país a representação de um ídolo por conta de suas idiossincrasias, carregou uma comitiva imensa para afirmar prestígio, deu vexame em cerimônia transmitida ao planeta e todo mundo achou muito normal.

Pode ser só uma impressão, mas, pela largada da carruagem daqui até 2014 quem manda no Brasil é o imperador da Copa, Ricardo Teixeira I, coroado em Zurique, rodeado de sua corte: os nossos governadores.

Ou, então, não é nada disso. É só coisa de gente que não entende nada e fica achando que futebol é uma coisa, política outra e casos de polícia devem ser investigados. Esteja a Pátria de chuteiras ou não.

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http://www.cartacapital.com.br/para-socrates-copa-do-mundo-do-brasil-sera-carnaval-de-um-mes

Para Sócrates, Copa do Mundo do Brasil será "carnaval de um mês"

por Daniel Pinheiro

Ex-jogador não acredita que projeto trará benefícios ao País e aposta que a China será a sede do próximo Mundial de Futebol a ser definido
Depois que o Brasil recebeu a confirmação da Fifa de que será a sede da Copa do Mundo de 2014, Sócrates, colunista de CartaCapital tem a definição do que representará a organização da competição no país: carnaval.
"Pelo que eu conheço de quem está organizando esse evento, a Copa no Brasil será um carnaval de um mês, com muitos gastos e sem sobrar nada que se aproveite", disse o ex-jogador. "Não dá para acreditar em nada muito diferente disso."
Quando questionado sobre os possíveis benefícios que um evento desse porte poderia trazer para o país, Sócrates foi cético. "Se houvesse coerência no projeto, investimento em infra-estrutura e desenvolvimento social, seria ótimo para o país, sem dúvida. Mas não me parece que seja o caso.”
O colunista citou dois exemplos recentes para jutificar seu ceticismo: "Acabamos de ver o que acontece, com o Pan-americano do Rio de Janeiro. Já há várias instalações que não são mais utilizadas e que não reverteram em nenhum benefício social. E pelo o que as notícias mostram, algo parecido também está acontecendo com Atenas, depois da Olimpíada de 2004."
Copa vai acontecer, seja com o dinheiro de quem for
Para Sócrates, a realização da competição no Brasil agora é irreversível, seja com o dinheiro de quem for. "Agora que o compromisso foi assumido, a Copa terá de ser realizada, seja com do dinheiro de quem for, e muito provavelmente será do contribuinte."
"Se for preciso, o Estado terá que entrar com o grosso do dinheiro, pois não pode deixar o país passar pelo vexame de não conseguir organizar o evento", opina o ex-jogador. "Pode ter certeza que essa Copa vai tomar muito dinheiro de todos."
Sócrates também é contra a construção de novos estádios para receber as partidas do Campeonato Mundial de Futebol. Isso porquê, para o ex-jogador, as novas arenas só serviriam como "mausoléus".
"Para quê construir mais estádios se nem os que estão aí são bem administrados?", questiona Sócrates. "Para desperdiçar mais dinheiro, para ficarmos com mais elefantes brancos, para termos mais campos abandonados e sem uso? Não faz sentido."
Copa de 2018 na China
Sobre a suspensão do rodízio entre continentes, que havia sido adotado pela Fifa para escolher a sede da Copa de 2010 --que será realizada na China--, Sócrates não acredita que ela terá efeitos práticos. E propõe uma aposta.
"Isso aí é tudo politicagem, nunca houve rodízio, e sim interesses políticos para definir cada sede", afirmou o colunista de Carta Capital. "Quer apostar quanto que a próxima Copa do Mundo (a ter a sede definida) será na China?"
Sócrates explica porque crava com tanta precisão que o gigante asiático será escolhido para sediar o Mundial de Futebol.
"Já em 1989, 1990, quando estive por lá, a China já tinha estádios modernos em boa quantidade e um povo que é louco por futebol. Imagine agora, com as instalações para a Olimpíada do ano que vem, como eles não devem estar", explica o ex-jogador. "Além disso, eles têm um mercado gigantesco e o dinheiro que circula no país."
Jazida de diamantes
Sobre a declaração de Michel Platini, também ex-jogador e atual presidente da Uefa, que comparou a Copa no Brasil a uma "peregrinação a Meca, a Santiago de Compostela ou a Jerusalém", Sócrates discorda do francês.
"Meca religiosa, o Platini só pode estar brincando... Estamos muito mais para jazida de diamantes, com a quantidade de talentos que revelamos por aqui", disse o colunista. "O Platini deve ter falado isso porque agora é presidente de uma organização internacional, ou melhor, uma mancomunação internacional."

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