quinta-feira, 16 de abril de 2009

Cadê meu ovo de páscoa?



Eu, ainda um adolescente em passeio de férias no estado natal de meus pais, Sergipe (minha mãe é de Estância e meu pai de Santa Luzia), me defrontei com uma cena que me chocou bastante. Alguns homens, mulheres e crianças se misturavam aos cachorros na cata de alimentos sobre um monte de lixo residencial.

Imediatamente me lembrei de uma poesia do Manuel Bandeira, intitulada O Bicho. Hoje eu sei que esta poesia foi criada em 1947 e publicada em 1948. Mas na época, 1990, não sabia nada disso, mas ela me inspirou a criar uma poesia tematizando a cena que acabava de observar da janela do quarto onde estava.

Na quinta-feira que antecedia a páscoa, sentado na poltrona do meu carro, me deparei com a cena que está no vídeo. Esta me remeteu quase que automaticamente a outra cena, de 1990, em Aracaju. A diferença desta para a outra é apenas e tão somente de quantidade. Apenas um homem rebusca o lixo a cata de comida, mas a realidade é tão perversa quanto àquela.

Resolvir socializar com vocês essa experiência, bem como a poesia que fiz e que só agora torno pública. Que ambas nos ajudem a desenvolver ações para que um dia essas expressões do capital sejam apenas lembranças.

UM BICHO?

E lá estava Enoque, no lixo, a catar comida com a mão, lembrando-me uma pequena e significativa poesia de Manuel Bandeira.

Enoque é um nome fictício.

Poderia ser José, João, Ernesto, ou outro, mas a cena é real. Tristemente real.

Ele, o Enoque, que se torna representante de milhões de brasileiros nesse momento, afunda todo o seu corpo dentro de tonel, à cata de resto de comida ou outra coisa qualquer que sirva para amenizar a sua fome.

Quando os seus braços tornam-se curtos, não conseguindo mais revirar os alimentos, habilmente, qual cachorro vira-lata, vira o tonel e recomeça, sofregamente, a catar os "restos", as "sobras" de comidas, tão alegremente levados à boca.

E lembro-me que no meu tempo de escola, aprendi que o Brasil é grande e altaneiro.

Esqueceram de me falar sobre os Josés, Joãos, Ernestos e Enoques da vida.

Não dão divisas e não caem no vestibular.

20 comentários:

João Ricardo disse...

Cara, como disse no meu comentário da postagem anterior que iria procurar me manifestar, estou cumprindo a promessa. Na verdade, sempre visito o seu blog mas não gosto de me manifestar. Visito outros também e meu comportamento é o mesmo. Mas não poderia não só deixar de cumprir minha promessa como dizer que vc me deu - no bom sentido - um soco na boca do estômago. Pode parecer loucura, cara, mas muito obrigado por isso.

Anônimo disse...

È professor aqui em Feira tb, costumo presenciar indignado tais cenas. No entanto gostaria de me reportar a outra vivência. Nas vesperas do último Panamericano que foi realizado no Rio de janeiro. Fui a essa cidade, participar de um evento da
ExNEEF que disutia esporte e na oportunidade construimos um ato no Maracananzinho, que por sinal fomos expulsos a força policial, vi de perto o luxo daquele local os altos investimentos no governo e me espantei com uma série de outros espaços que foram construidos ou reformados para aquela realização.
Quando acabamos a atividade fui pra casa de uma amiga e na sacada de sua casa presenciei outra cena. Uma cena exatamente como essa só que ao invés do cidadão sair da lixeira pra comer , talvez tão acostumado que estava com a situação que comia ali mesmo.
Qualquer semelhança com bixo é puro acaso?
Por isso lutamos e dissemos não a lógica capitalista que desumaniza e conduz a própria civilização humana a estados deploraveis...
Saudações...

Anônimo disse...

È professor aqui em Feira tb, costumo presenciar indignado tais cenas. No entanto gostaria de me reportar a outra vivência. Nas vesperas do último Panamericano que foi realizado no Rio de janeiro. Fui a essa cidade, participar de um evento da
ExNEEF que disutia esporte e na oportunidade construimos um ato no Maracananzinho, que por sinal fomos expulsos a força policial, vi de perto o luxo daquele local os altos investimentos no governo e me espantei com uma série de outros espaços que foram construidos ou reformados para aquela realização.
Quando acabamos a atividade fui pra casa de uma amiga e na sacada de sua casa presenciei outra cena. Uma cena exatamente como essa só que ao invés do cidadão sair da lixeira pra comer , talvez tão acostumado que estava com a situação que comia ali mesmo.
Qualquer semelhança com bixo é puro acaso?
Por isso lutamos e dissemos não a lógica capitalista que desumaniza e conduz a própria civilização humana a estados deploraveis...
Saudações...

Unknown disse...

Que sensibilidade, coisa difício hoje em dia. Boa reflexão pra ajudar no despertar das consciências... façamos delas uma consciência coletiva, uma organização política para que se traduzam em ações concretas. Força na luta!

Mirela disse...

O que a igreja, que exige que se coma peixe tem a dizer sobre isso?

André Araújo disse...

Caro Welington:

Muito bom o seu "insulto" nesse tema do social.
Num país que elege um presidente duas vezes (!?) por causa de uma atitude assistencial - bolsa-família, catar comida no lixo chega a ser uma cena do real!
Como você citou na sua poesia, seria um João ou José, aquele que cata o lixo? Quem se importa?
"Bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?" (Titãs)
E o que fazemos nós, além de apenas apontar tamanha crueldade?
Enquanto isso, em Brasília, à margem da visão dos containers de lixo revirado, uma sucessão é alinhavada com finos fios de ouro -
E viva os ovos da Páscoa!
E assim caminha a nossa cruel desigualdade...
"E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda" (C. Veloso)
Parabéns pela postagem!
Um grande abraço,

André

Anônimo disse...

Um tema candente e infelizmente real. Estamos já na barbárie caminhando para o abismo. SOS.

Anônimo disse...

Não dar mais para segurar esta situação de penúria. Fico pensando até quando a massa vai suportar a indiferença com que são tratadas. Ou talvez, toda essa violência tanto do lado de cá, quanto do de lá, já seja um tipo de resposta.

Alan Q Costa disse...

Olá Wellington,
Tenho visitado seu blog há um tempo e o parabenizo tbém pela produtividade. Prometi para mim mesmo que faria um post por mês e tá difícil.
Sobre seu último, realmente as coisas aqui no Brasil não seguem uma ordem normal...
Parabéns novamente e vamos nos falando!
Abs
A

Welington disse...

Caro Alan.

Inicialmente, obrigado por mais uma visita. Fico gratificado por saber que já fazia isso antes. Espero que continue a nos visitar, comentar e fazer as devidas críticas em relação às postagens. Sobre as mesmas, realmente é muito difícil uma certa periodicidade. Mas não devemos desistir. Continue com o seu projeto, amplie os seus contatos, busque ajuda de amigos para divulgá-lo. No mais, parabéns também pela empreitada. Sigamos em frente.

Grande abraço.

Anônimo disse...

Nós, alunos da Escola Rotary de Itabuna, estamos felizes em participar desse blog.
Ficamos chocados em constatar que o poema de Manuel Bandeira é tão atual: pessoas ainda passam fome em nosso país. Devemos ficar revoltados com essa situação, pois não é natural o homem virar bicho.

Juliano e Thainá

Anônimo disse...

Nós, da Escola Rotary de Itabuna,estamos participando desse blog pela primeira vez. Estamos alegres, só ficamos tristes porque o poema de Bandeira é atual. A fome ainda é uma realidade brasileira. Até quando?
Marco Antônio e Diego

Anônimo disse...

Nós, da Escola Rotary de Itabuna, gostamos muito desta postagem porque fala sobre a realidade do mundo. Eu e meus amigos ficamos muito tristes por ver esta versão no dia da Páscoa (Cadê meu ovo de páscoa?).
E ainda tem gente que fica triste quando não ganha ovo de chocolate.


Daiane, Elora e Nadson

Anônimo disse...

Welington,é tanta miséria que não sabemos o que fazer: se ajudamos ou fazemos de conta que não vemos nada. Seu artigo ajuda muitas pessoas abriremos olhos para a realidade do mundo real.

Alunos da 5ª série da Escola Rotary de Itabuna: Paula Ketley e Maria Eduarda

Anônimo disse...

Nós da escola Rotary estamos felizes em ter lido o texto de Manuel bandeira, e não gostamos nada do que vimos no video, homem catado lixo, infelismente é a realidade.

Anônimo disse...

A sociedade humana fica humilhada com a cena do vídeo. Não é certo isso, mas no Brasil é uma cena natural.

Somos alunos da 5ª série da Escola Rotary de Itabuna: Mateus, Robert e Tiago

Anônimo disse...

A fome é uma falta de cidadania e não devemos ficar conformados com isso. Como podemos ajudar? Os adultos podem votar nos candidatos honestos, com um passado limpo. E nós, estudantes, devemos estudar, não se envolver com drogas e não achar natural as cenas que vemos na nossa Itabuna de pessoas no lixâo, catando comida para não morrerem de fome.

Talita e Alef; Aluno e aluna da 5ª série,da ESCOLA ROTARY DE ITABUNA.

Anônimo disse...

Alana, Andreza e kayala da Escola Rotary de Itabuna: gostamos muito do blogger.
Achamos que a desigualdade social é muito grande no Brasil. Precisamos encontrar uma solução. Não é possível continuarmos assim. É revoltante.


.









































s

Anônimo disse...

Nós,alunos da Escola Rotary de Itabuna, ficamos muito chocado em ver as pessoas catando lixo por todos os cantos da nossa cidade e procurando não morrerem de fome.E os políticos ainda conseguem dormir.

Samuel e Wemerson - 5ª série

Welington disse...

Caríssimos alunos da Escola Rotary Clube de Itabuna. Quero parabenizar todos vocês pelos belíssimos textos que escreveram, demonstrando estarem sensíveis às desigualdades sociais deste país tão rico. A luta para mudar inclui ações de todos nós, crianças, adultos, jovens, idosos. Parabéns também a sua professora. Vocês são uns privilegiados por terem uma docente que prima em estabelecer relação dos conteúdos estudados com a realidade. Fica aqui uma sugestão para prosseguir o debate entre vocês. Assistam ao documentários ILHA DAS FLORES. Mais uma vez, obrigado pela visita e participação. Juntos somos fortes!!!